sábado, 10 de julho de 2021

Ai de nós se o cão – esse ser fofinho e amado - fica como nós…

 


O cão antes era um animal doméstico, agora faz parte da família. Mas nunca é pai, tio ou avô, é sempre filho, sobrinho, ou neto. O pai é o dono, o tio e o avô são respetivamente o irmão e o pai do dono. O cão nunca é pai, não consegue ter essa responsabilidade. Tem descendência, cachorrinhos, mas não lhes dá banho, não os leva a passear nem ao veterinário, não lhes compra um bolo de anos no dia do aniversário, não lhes dá comida nem roupa lavada, nada. O cão se não tem carraças é porque o pai previne o aparecimento delas, se não está doente é porque o pai o levou à vacina, o cão é mais sortudo do que o frango, o porco, ou o coelho. E não precisa de ter vergôntea na árvore genealógica para ser parente, está isento. Os testes de DNA também não dão para ver se o atual dono é que é de facto o pai, há uma série de coisas que não funcionam com o cão. Também não consegue tirar a primeira classe, quanto mais a quarta, o liceu népias, e a faculdade nem se fala. O cão no fundo é como seja um homem a quem tiraram a inteligência. E se lhe tiraram a inteligência também lhe tiraram a maldade. As pessoas burrinhas são as mais puras e as que não têm instintos malévolos. Deixem o cão continuar a ser assim, a não aprender a ler nem a escrever, como as pessoas acéfalas. Se o cão evoluísse para outro patamar deixava automaticamente de ser amoroso e de devotar aos donos um amor incondicional. Deixem-no ser dependente: se deixar de o ser fará frente aos donos e desejará o poder deles. O cão é o que é, esse ser fofinho e amado, porque tem um cérebro limitado, porque, coitadinho, não dá mais do que aquilo. Por isso não desejem que lhe cresça o cérebro, deixem que a sua natureza o mantenha como está. Ai de nós se o cão fica como nós… 
Aliás, assim como há quem diga que o homem nunca pôs os pés na lua, ou, pior ainda, que a terra é plana, também há quem pense que o cão tende a ficar como nós. Dizem os seguidores dessa corrente de pensamento que a gradual humanização e partilha de espaços e momentos, o contacto com a inteligência e com o esplendor linguístico que carateriza a comunicação entre humanos, está a produzir uma expansão fisiológica do cérebro dos caninos de tal forma explosiva que, mais cedo do que se imagina, as aptidões do cão equiparar-se-ão às dos humanos. Com o passar do tempo o desnível abissal entre as faculdades mentais dos dois ir-se-á encurtando, os QI ir-se-ão igualando, e aquilo que hoje não passaria de um milagre há de ser um dia algo tão normal e previsível como ir à janela de manhã para ver o sol que desponta no horizonte. E quando isso acontecer o cão deixará de ser aquela doçura mimosa que todos adoram e passará a ser uma ameaça de quatro patas. Queira por isso Deus que os que acreditam que o cão atual evoluirá para o “canis sapiens sapiens” estejam errados. Os homens só protegerão e amarão os cães enquanto eles continuarem a ser criaturas básicas e previsíveis. Ai de nós se o cão fica como nós…

Gondri



Sem comentários: