quarta-feira, 29 de julho de 2020

Há petróleo na UBI





Rod Stewart, uma rouquidão macia, lisa e espessa, com traços de mel. Um crepúsculo ameno e vaporoso, e a promessa de lua persistente em vagarosas noites de paixão…
 
O meu coração treme. Não posso com estas melodias de Rod Stewart, caio para trás, no tempo, mesmo em cima daquelas noites cálidas, à varanda, na residência de Santo António, extasiado com as estrelas e apaixonado pela minha própria existência. Sinto falta dessa poesia, a crueldade do tempo enrugou-me a luz dos doces anos. Que pena não poder regressar àqueles dias virtuosos para trazer, um átomo que seja, do ar que já ali respirei, nos longínquos eighties.
Cai sempre uma lágrima, não apenas água e cloreto de sódio, alma também, a alma daqueles vinte aninhos que não voltam mais, a lembrança do tempo em que o futuro ainda estava todo por acontecer. Éramos jovens, cobertos de livros, de perguntas e respostas, mais perguntas do que respostas, e de sonhos. 
Às vezes faziam-se longas e interessantes tertúlias a quatro (ou a mais, quando se juntava malta de outros quartos). Falava-se de tudo, até dos temas mais profundos da metafísica. Lembro-me de uma noite em que ficámos na varanda, escoltados pelas estrelas, quase até à hora do galo cantar, a discutir a existência, ou não, de Deus. Como não podia deixar de ser, chegámos ao fim sem conclusão nenhuma. Se em vez de uma noite fossem milhões de noites, chegaríamos ao fim como no princípio, tão ignorantes como o galo que cantaria dali a pouco. Em matéria de vida e de morte, da existência ou não de um Ser supremo, não diferimos em nada dos animais. A diferença é que temos consciência do problema e eles nem isso, não têm neurónios que cheguem para a filosofia. Mas, no que concerne a respostas, estamos igual. Sabemos que há um segredo no cosmos irrevelável, mas, se não o soubéssemos, saberíamos o mesmo.
Naquela altura não havia telemóveis nem portáteis, valíamo-nos muito mais uns dos outros, cometíamos os maiores devaneios, alguns que, reconheço, mereciam uma sova de pau de marmeleiro. Até guerras aquáticas chegámos a fazer, usando sacos de água como arma de arremesso e deixando tudo alagado. Claro que merecíamos que também nos alagassem as ventas, mas, naquela altura, a idiotice era tanta que não conseguíamos ver o óbvio. Uma vez, a tentar lançar um saco de água para a varanda de cima, quis a gravidade que o saco regressasse e me caísse merecidamente em cheio nas trombas, que até me vergou contra o parapeito da varanda. Desmanchar camas e esconder as peças era o pão de cada dia, e, quando as luzes se apagavam, era um voar de sapatos pelos céus do quarto em guerras insanas, mas que, valha a verdade, eram de partir o coco a rir. Éramos muito crianças e vínhamos com a corda toda, só queríamos paródia. Estávamos habituados a divertir-nos em grupo, a grandes saraus de anedotas, a grandes sessões de gargalhada. Esta coisa moderna de ficar isolado à frente de um écran era desconhecida na altura. Eram outros tempos, muito mais animados e com muito menos solidão. E mais românticos, que o digital ainda não estava entranhado como agora, que gira tudo artificialmente à volta de zeros e uns, tudo previsível e exato, como só as coisas da alma não o são.
Às vezes penso como serão agora as noites da residência, décadas depois. Tudo agarrado aos telemóveis e ao portátil, e um silêncio ensurdecedor. Uma vez ou outra, naquelas noites mais quentes, lá descansam do écran e vão conversar um bocado para a varanda, conversas muito à frente, tipo,
- eh pah, o bruxo de Fafe disse que há petróleo na UBI. 
- ai há?!... e como é que agora se vai tirar dali a UBI para perfurar o solo?
- bem, se o petróleo for em grande quantidade, na volta até se justificava tirar dali a UBI e reconstrui-la noutro sítio.
- sim, mas para isso tinha que haver petróleo para um século, porra!
- claro, tinha que pagar a demolição desta, a reconstrução de outra, e ainda tinham que sobrar milhões de milhões para os cofres do estado…
- isso era um balão de oxigénio do caraças para as finanças, assim até eu mandava construir outra e mandava abaixo esta…
- mas afinal já alguém sabe quanto petróleo é que há lá?
- Acho que não.
- Atão?!...
- pois, esse é que é o problema, para se saber tem que se perfurar a ver, e p’ra isso já tinha que se tirar de lá a UBI.
- e não dá para fazer o buraco num espaço livre que haja lá dentro?
- acho que não, aquilo acho que é preciso muita maquinaria, ocupa bué de espaço…
- pois, mas o que é que diz o reitor? E o governo?
- sei lá, é a primeira vez que oiço falar nisto.
- Isso não é assim, é preciso ver qual é a empresa que vem fazer a exploração, quem é que tem o know-how, essas cenas todas…, não é carregar num botão e já está.
- chamem a Isabel dos Santos, de petróleo percebe ela…
- pois, agora é que vai ser mamar.
- não, brincas…
- isto é um país de corruptos, imagino o que estes gajos se vão abotoar…
- nem o juiz Carlos Alexandre nos vai valer…
- ai, podes crer!
- mas ouve lá, já agora como é que o bruxo de Fafe sabe que há petróleo na UBI?
- sabe porque um sobrinho dele anda na UBI e há dias trouxe uma garrafinha de meio litro. Disse que era para fazer umas experiências no laboratório.
- ó porra, então vês-nos aqui a falar de exploração de petróleo na UBI e não dizes nada?
- pois, realmente eu não estava a perceber nada…
- e o que é que tu percebes, ó parolo?!...
- não me chames parolo!
- chamo-te o quê, Maria Leal?!
- ui, isso é que não, mal por mal é melhor parolo…
- Tu vê lá, se quiseres também te posso chamar australopitecos…
- qu’éssa merda, australo quê?...
- pitecos.
- ó pah, vamos mas é dormir que estas conversas com bué de substrato dão-me tipo um sono do caraças.
- ok, vamolá então.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Deves-me um "like", ó Joãozinho!

Leonardo da Vinci: A Origem do Génio - Documentários - RTP




Desde rapazinho que sou um entusiástico contador de anedotas. Quando a memória ainda estava fresca era um colecionador muito competitivo, havia pouco quem soubesse mais anedotas do que eu, e cada uma que chegava ficava, não era como agora que me entram a cem e saem a duzentos (aliás, as únicas que tenho memorizadas são as que aprendi já lá vão longos anos). Houve uma altura em que postava anedotas no face com alguma regularidade. Mantinha o essencial da anedota, a piada original, mas depois fazia o meu romance à volta disso e contava-a à minha maneira. Ora, foi uma dessas anedotas que despoletou a reação imediata do meu crítico de serviço, o ubiano João Leonardo. Contaram-ma como sendo do Samora Machel (que contracenava com o Joaquim Chissano). Resolvi dar-lhe um cunho pessoal e comecei por mudar os nomes dos personagens. Queria nomes que caíssem bem no ouvido e que não fossem vulgares nem corriqueiros, e, depois de alguma reflexão, substituí Samora por Leonardo e Chissano por Aurélio. O João Leonardo é que parece que não gostou nada de ver o seu apelido associado à burrice, e não perdeu a oportunidade de comentar, acutilante e mordaz como de costume.
Foi tudo conforme mostro a seguir. Limito-me a fazer o copy-past da ocorrência (que remonta ao ano da graça de 2015):

Gondri Balsa
25 de outubro de 2015 · 
O Aurélio e o Leonardo eram dois grandes amigos.
O Aurélio era um homem ilustre, culto e inteligente, mas tinha uma fraqueza: era um grandessíssimo tarado sexual, não se conseguia ter uma conversa com ele sem tropeçar constantemente nas mulheres.
O Leonardo, ao contrário do amigo, era um deserdado da inteligência, burro e ignorante que nem um cacho de uvas. Mas tinha tanto de burrice quanto de recheio na carteira, herdeiro que acabara de ser da gorda fortuna dos pais. E um dia pegou e disse: - vou correr mundo. E lá foi, numa longa e dispendiosa viagem.
Quando regressou, a primeira coisa que lhe ocorreu foi convidar Aurélio para jantar lá em casa. E lá ficaram noite dentro, a saltar entre copinhos de licor e calicezinhos de porto, e outras cidades, e outras culturas, paisagens de encher os olhos, tantas coisas para contar...
- então Leonardo, a velha Europa? foste a França, a Paris, certo? - começou Aurélio.
- claro.
- e como é que é Paris?
- eh pah, um espetáculo de cidade Aurélio, nem há palavras, a torre Eifel,...
E Aurélio, para não variar, a cortar-lhe abruptamente a palavra com o tema de sempre:
- e as gaulesas?
- as quê? (era a ignorância de Leonardo a vir ao de cima)
- as mulheres, Leonardo, o que é que havia de ser, as mulheres, claro!
- Ah, boas, mesmo boas, é com cada modelo que um tipo até fica desnorteado...
- E também foste a Inglaterra, a Londres, certo?
- outra maravilha, uma cidade de perder o fôlego, o Big Ben...
- e as britânicas?
- as quê?
- as mulheres, caramba!
- Ah, altas, lindas, aquilo é que são mulheraços de perder a cabeça...
E a ladaínha continuou :
- e as escandinavas?
- as quê?
- e as germânicas?
- as quê?
E de tanto martelar na mesma ignorância, Leonardo encaixou finalmente que aquelas palavras estranhas que Aurélio proferia significavam invariavelmente "as mulheres", e pôs-se fino.
Quando chegaram ao Japão, Leonardo já não vacilava:
- e as nipónicas?
- lindas, olhinho rasgadinho, uns amores... (respondeu de imediato).
E saltando novamente de continente, eis que chegaram a África.
- E o Egito, decerto não passaste sem ir ao Egito, como é que foi?
Ora, o Leonardo, que tinha dito autênticas maravilhas de todos os lugares por onde passara, chegou ao Egito e disse do piorio:
- o Egito? porra, nem me fales, só merda, ruas sujas, camelos mortos a feder que não se aguenta, o Egito não tem nada, é p'ra esquecer....
E perante tal cenário de desprezo por uma civilização incontornável da história universal, Aurélio disparou a pergunta inevitável:
- e as pirâmides?
- oh, essas são umas vacas do caraças!

2 comentários
João Leonardo Prá próxima vez contas a história mas em vez do ''Leonardo'' usas o apelido ''Balsa''!! Eh!eh! Para eu poder pôr um ''like''! Eh!eh!
Gondri Balsa Ah ah ah... não te melindres porque este Leonardo não tem nada a ver contigo. Tu és mais tipo Leonardo da Vinci, o maior génio da humanidade. ( e agora que está tudo esclarecido, põe lá o "like" e deixa-te de tretas... :) )

A verdade é que ele nunca chegou a meter lá o “like”. É caso p'ra dizer : - deves-me um “like”, ó Joãozinho!!!

Gondri

sábado, 18 de julho de 2020

O Departamento de Artes da UBI brilha em grande estilo.



O Movimento Anti-Tourada desafiou a UBI a criar, através do seu Departamento de Artes recheado de talentosos designers, um cartoon que fosse apelativo e sugerisse uma alternativa às touradas. Era condição “sine qua non” que o trabalho gráfico fosse altamente original. E também que tivesse doses generosas de humor porque, segundo se disse, fazer rir era a maneira mais eficiente de vender um produto ou de passar uma mensagem. Era preciso abanar a juventude, criar algo que explodisse nas redes sociais e andasse de boca em boca, que ficasse no olho e se incrustasse no imaginário coletivo por muito tempo.
Os criativos da UBI andaram uma semana a marrar naquilo, fizeram e apagaram muitas vezes, faltava-lhes sempre aquele clique que faz a diferença. Desenhar eles sabiam, mas era preciso uma ideia estrondosa, não bastava fazer bem, era preciso surpreender. E, depois de uma semana à míngua, aquela visão quase bíblica a que chamamos inspiração surgiu com tudo. Era um cartoon de uma tourada sem sangue nem farpas. Muito à imagem dos desenhos animados, era um pica-pau em vez de um touro.
Senti-me um ubiano orgulhoso quando vi o cartoon pela primeira vez. A obra transbordava de imaginação e colocava a UBI nas bocas do mundo pelas melhores razões. Mas, apesar de impressionado, confesso que não percebi o cartoon à primeira. No início pensei que o pica-pau fosse um estudante de matemática e o toureiro lhe estivesse a mostrar uma tábua de logaritmos. Mas não. Afinal tratava-se apenas de deixar os touros em paz na lezíria, substituindo o marrar na capa pelo picar na tábua. O espetáculo passava a ser sonoro em vez de sanguinário, sendo que o toureiro levava um microfone para que se ouvisse em toda a praça o pica-na-tábua da ave.
O Movimento Anti-Tourada ficou encantado com a prestação dos criativos da UBI e disse maravilhas sobre isso em todo o lado, e todas as associações de defesa animal fizeram o mesmo. As únicas críticas surgiram dos mais fundamentalistas que, apesar de aplaudirem a excelente iniciativa, ainda assim lamentaram que os pica-paus fossem usados para divertimento dos humanos. Sobre isso houve quem adiantasse, e bem, que a única maneira de resolver o problema seria usar pica-paus artificiais, que fariam o mesmo efeito e evitariam a exploração do pássaro pelo homem. E foi então que a UBI se prontificou mais uma vez a ajudar: num arrojado projeto de investigação, lá destacou para o efeito os seus melhores crânios nas áreas da mecânica e da informática com vista à criação de um pica-pau robô.
Bem, mas ainda não falámos do outro lado da barricada. Mais de cinquenta aficionados da festa brava irromperam pela UBI e destrataram toda a gente, deixaram o departamento de artes de pantanas, fizeram uma largada de insultos à beira da reitoria e ameaçaram rasgar todos os cartazes desse pica-pau ridículo. Tourada sem touro era uma cretinice, diziam, o mundo sem nobreza e coragem era um lugar sem alma, uma pasmaceira. Queriam que a UBI fosse imparcial. Se não estivesse disposta a eliminar o cartoon do pica-pau que criasse ao menos um, igualmente criativo e original, mas onde se retratasse a corrida à portuguesa em todo o seu esplendor. A guerra entre taurinos e anti-taurinos estava instalada na UBI, e ninguém via jeitos de aquilo acalmar.
O que valeu é que foi nessa altura que puseram lá a estátua do Cristiano Ronaldo (conforme relatado na crónica de 31/5/2020), e a discussão acalorada entre os que eram a favor e os que eram contra a estátua fez esquecer completamente a balbúrdia por causa dos touros. Entretanto os do contra ganharam, a estátua foi retirada, e o ambiente acalmou. Felizmente, depois que a calmaria se instalou, os beligerantes do sim e do não à festa brava perderam o balanço e não voltou a haver desordem por causa disso. Graças a Deus.

Gondri




quinta-feira, 16 de julho de 2020

Outros marcos indeléveis da cultura Ubiana

Quem passou pela UBI nos anos 80 adquiriu entre outras coisas, grandes
referências da cultura Ubiana desse tempo, que grassavam em todas as actividades desenvolvidas então na Universidade,em particular aquelas que constituíam anualmente as festividades da semana académica.

Se durante o resto do ano as referências culturais de cada um se manifestavam
pontualmente, quer em conversas no Primor, em tom mais ou menos sóbrio ou no bar da Universidade,á volta do cafezinho tomado á chegada á Universidade depois da descida da Residência após o almoço, ou nas reuniões na Associação de Estudantes ou na sua papelaria, á volta de uma boa conversa com a sempre prestável D. Clotilde enquanto se esperava pelas fotocópias da sebenta ou dos apontamentos de algum colega, nessa semana inteiramente dedicada ao caloiro, era onde essa identidade cultural mais se manifestava.  Como muitos se lembrarão,ou talvez tenham apenas e só uma vaga ideia, á volta das festas, das bebedeiras, dos bailes e dos jantares de curso, e dos torneios de desporto
universitário,adquiria-se todo um conjunto de informação das mais diversas
fontes e proveniências,que constituíam a cultura Ubiana á imagem da população universitária dessa época.

Entre testes e frequências, laboratórios e relatórios,íamos todos aprendendo
qualquer coisa com os colegas que indiciavam a sua cultura. Havia mesmo alguns bastante prendados em débito cultural, especialmente quando extravasavam impropérios sempre que um teste lhes corria mal, e ainda antes de mais impropérios, já de menor intensidade, quando olhavam as pautas com as notas da respectiva disciplina, em tom de desabafo,autoapelidando-se, frequentemente de alguns nomes de animais quadrúpedes sobejamente conhecidos de todos.  Ouvia-se por isso alguns lamentos autoinfligidos, em conversas introspectivas com os botões, de “Burro, podias ter feito a cadeira neste exame” ou “ Foste um Camelo, devias ter estudado mais, que o teste até nem era difícil”, ou “Foste uma Besta”, só para referir os mais comuns.  “Cavalgadura” era um termo mais utilizado também mas sempre com uma conotação nobre e por alguns mais letrados e com mais vasto léxico pré-universitário, consequentemente pelo desconhecimento da maioria de nós! A malta toda apesar de se considerar culta de uma maneira geral, tinha estes laivos de arrependimento, que punham em causa a sua confiança e auto-estima momentâneas.Nada que depois uma boa cerveja e uma noite de sono bem dormida não acalmasse, e recolocasse as prioridades no objectivo universitário: a conclusão do curso!

Outras fontes de inspiração e “input” cultural eram os jogos de futebol de cinco
e sete que se jogavam no polivalente da residência ou no pavilhão dos Penedos
Altos. Expressões como “Chuta,fdp!” “E passa a bola, porra, que eu estava
isolado, c…o!”, faziam enriquecer o léxico do vocabulário nativo de cada
estudante. Não eram portanto expressões que o berço desse!Mas que todavia
enriqueciam o vocabulário conotado com a cultura Ubiana, fora da sala de aula.
Também não era um choque de culturas, mas sim uma alegre convivência com outros estudantes de outras proveniências e experiências de vida. Era pois uma coisa positiva, e que fazia crer que existia cultura “a rodos” resultante da
convivência estudantil, para “dar e vender”!  Sempre achei que éramos um grupo homogéneo a esse nível! Uns mais do que outros, todos sabíamos ou tínhamos qualquer expressão ou pensamento, que estávamos dispostos a dividir com os outros através de uma boa conversa ou um par de berros para dentro de um campo! Durante o primeiro ano tive claro que de alguma forma,éramos todos um pouco ‘iluminados’, cada um á sua maneira, e apesar das notas diferentes ás disciplinas e de uns beberem e se divertirem mais que outros, íamos todos adquirindo conhecimentos e cultura universitária resultante desse
convívio. Sempre achei que este pensamento era pacífico e natural que assim
fosse acontecendo…. e por isso inquestionável, quão grande era o impacto da
Universidade e da vida académica em cada um de nós!…

Bom pelo menos foi assim até ao ano seguinte, altura em que me desiludi um pouco pois amargamente verifiquei que afinal a cultura absorvida que existia não tinha chegado a todos da mesma forma.E a comprovação deste facto chegou com um outro evento que nesse ano começou a fazer parte das festividades da semana académica,o Rallye Paper, organizado nesse ano em complemento a outro evento icónico da cultura Ubiana que decorria anualmente na semana do caloiro: o famoso Rali das Tascas, disputado a pé, que percorria as tascas á volta do Centro da Covilhã!

O 1º Rallye-Paper for organizado por mim e um par de colegas, desde a definição do percurso até naturalmente á elaboração do questionário!Como é hábito, e sendo a primeira edição, como é suposto ser, o Rallye-Paper foi encarado como uma oportunidade de dar a conhecer algumas zonas mais típicas da Covilhã, descrevendo o percurso de modo a passar nessas zonas e a tornar o evento o mais abrangente e interessante possível. Ao longo do percurso, havia as habituais perguntas de contagem de árvores ou postes ou vidros numa janela e algumas provas de destreza física. Decidimos fazer o percurso bastante diverso e interessante!  No entanto, achei que muitos concorrentes conseguiriam cumprir o percurso na totalidade e sem grandes problemas ou penalizações e haveria certamente empates no final, na hora de atribuir os prémios. Para evitar isto, no final de cada uma das quatro ou cinco etapas em que o rallye se dividia, decidimos testar a cultura das equipas com alguns “quebra-cabeças”, palavras cruzadas ou questionários que realçassem a cultura geral de cada equipa,distribuídas em envelopes surpresa e fazendo pesar as respostas a estes enigmas e questionários com uma ponderação igual ao do tempo utilizado para concluir o evento e das respostas no percurso.  Assim havia uma ferramenta de
desempate, para assegurar que apenas haveria um vencedor!  Fizemos os
quebra-cabeças, palavras cruzadas e enigmas, e parecia ainda assim que as
respostas estariam ao alcance de qualquer equipa. Por isso, depois de muito
pensar decidi fazer um questionário em que os concorrentes eram chamados a
completar provérbios e ditados populares, capaz de diferenciar as equipas que
evidenciassem maior cultura popular.  Quinze provérbios ou ditados populares,
razoavelmente conhecidos, em que quem mais acertasse melhor pontuação teria. E
assim foi….

Preparado o questionário chegou-se á conclusão que muita gente acertaria nas
expressões e que eventualmente poderia ainda assim haver empates no final!
Finalmente depois de muito pensar e para não desaproveitar a ferramenta,
decidi-me pela inclusão, pelo meio, de outros provérbios derivados e assim
nasceu o questionário final bastante mais selectivo,que iria decidir o
vencedor. Expressões conhecidas de alguns que na altura viam programas
humorísticos e outros inventados, que assim se tornavam mais desafiantes. Quem acertasse era efectivamente possuidor de uma cultura Ubiana acima da média, pois alguns deles nasceram de conversas á volta do café, em ambiente de enorme galhofa e eram usados algumas vezes em conversas “a desconversar”: Eis alguns exemplos dos que foram incluídos:

“Réu,béu,beu! Pardais ao ninho!”

“Á menina e ao borracho, tira-se o tapete debaixo!”

“Candeia que vai á frente, alumia pouco os detrás!”

“Quem tem, tem, quem não tem já não lhe nasce!”

“Mais vale uma na mão, que duas no soutien!”

“A cantor não cantes e a ladrão não ladres!”

“Quem vai para o mar, não tem terra!”

“Quem detrás anda, nunca chega em primeiro!”

“Onde fores ter, faz melhor do que lá vires fazer!”

“Pecado é roubar e não conseguir carregar!”

“Ladrão que rouba ladrão, vai na mesma prá prisão!”

entre outros…….que levaram os concorrentes indignados a nos acusarem de serem muito difíceis e nunca terem ouvido falar!! Resta acrescentar que, um par de horas mais tarde alguns, a frio ou já “quentes”, durante a entrega de prémios, admitiam estoicamente a dúvida razoável de “já terem ouvido falar de alguns dos provérbios” e “que lhe eram mais familiares!”.Eh!eh!eh!  E foi assim com o contributo de mais este grande marco indelével que se tornou possível avaliar o grau de aculturação Ubiana desses anos!Uma academia finalmente mais culta depois deste evento e certamente também, dos organizados em anos seguintes!!

João Leonardo

domingo, 12 de julho de 2020

A UBI, o IBU, e uma bebedeira no Primor para comemorar, salvo erro, o cadeirão da Orgânica!




IBU: Saiba tudo sobre a escala do amargor da cerveja


Um dia destes sonhei que ia no meu carro e que, olhando pelo retrovisor, vi que atrás de mim vinha uma carrinha com a inscrição “IBU”. O que seria IBU, pensei. De repente lembrei-me, ainda no sonho, que as ambulâncias por serem veículos prioritários tinham à frente a palavra “ambulância”, escrita ao contrário, para que quem lesse a partir do retrovisor pudesse ler direito. O retrovisor punha as palavras ao contrário, IBU afinal era UBI. Sonho ou não, um troço de estrada é sempre mais feliz quando se tem um carro da UBI atrás, apetece deixá-lo ultrapassar para que se possa tê-lo à frente, é como o passado e o futuro, o antes e o depois.
O que nunca pensei, e soube-o mais tarde por puro acaso, é que o termo IBU tinha mais a ver com a UBI do que eu imaginava. Com a UBI e com a cerveja que os ubianos bebiam no Primor, às grades. Eu, por acaso, não tenho muita autoridade na matéria porque já ia adiantado no curso quando comecei a suportar um copo de cerveja. Aquilo amargava… confesso que era e ainda sou mais de doces. Agora já bebo. No entanto, a cerveja, e até o vinho, tiveram que ganhar a confiança do meu palato com muita paciência.
As minhas idas ao Primor no início eram um filme. Ia sempre em grupo, o empregado perguntava o que era, e era sempre xis cervejolas e um copo de leite. No primeiro dia ele olhou, olhou, muito sério, a tentar descobrir quem seria o queque do copinho de leite. Eu era o que tinha mais ar de vadio, tenho a certeza que fui o menos votado na cabeça dele para ser o do leitinho. Imagino por isso a surpresa que não terá sido para ele quando, ao chegar com a encomenda, viu que afinal o do leite era o último da lista.
Tirando esta do leite, a recordação mais viva que tenho do Primor foi uma certa vez que vomitei para cima da mesa, num jato aquoso e nojento de que obviamente não me orgulho. Nesse dia tinha feito Orgânica, salvo erro, e só me passou pela cabeça comemorar com uma bebedeira que ficasse para a história. Para a história ficaria certamente porque eu nunca me embebedara, nem sequer gostava de álcool. Aliás, foi isso mesmo que me tramou, eu tinha que me embebedar mas não gostava nada daquilo que fazia embebedar. E o que me ocorreu foi que, se tinha que beber à força, que bebesse o mínimo possível. E a solução óbvia era a aguardente, que era a mais forte. Aquilo era intragável e parecia fogo por dentro, mas, de olhos fechados, (e vira!), lá me desceram as goelas uns não sei quantos cálices. Ora, para quem não estava habituado a beber aquilo foi uma bomba, não tardou fiquei super mal disposto, já não sabia se estava bêbado ou se estava para morrer. Que estava arrependido de me ter metido naquele sarilho não tinha dúvidas que sim, mas, depois do mal feito, só me restava gramar aquela agonia. Estava sentado à mesa, lá dentro do Primor, quando um vómito súbito e inesperado não me deu tempo de reagir e uma enxurrada liquefeita, rápida e volumosa, saiu disparada da minha boca e emporcalhou tudo o que havia para emporcalhar. Foi uma cena que só filmada, e, para minha sorte, beneficiei da compreensão dos empregados, dos outros clientes, e principalmente do colega da frente (avivem-me a memória porque já não me lembro quem era) que ficou a precisar de uma lavandaria como de pão p’rá boca. Sem saber em que buraco me metesse, pus-me imediatamente a andar, e não me lembro quando tempo é que passei sem pôr os pés no Primor, tal era a vergonha que sentia.
Quando o calor apertava a cerveja era a principal atração do Primor, e uma parte significativa da sede da UBI era lá que se matava. O que poucos sabem, penso eu, é que a cerveja e a UBI têm muito mais em comum do que aparentam, há uma curiosidade que as ligará “ad eternum”. Consoante as marcas há umas cervejas mais amargosas do que outras, e existe uma escala que mede o maior ou menor amargor de uma cerveja. O curioso e que o nome dessa escala é IBU, exatamente o contrário de UBI.
Sei-o há pouco tempo, e fiquei tão encantado com a coincidência que não hesitei em dedicar-lhe esta crónica. Para que conste, quanto mais alto é o valor do IBU de uma cerveja, mais amargosa ela é. (O que significa que a nossa doce UBI, que de amarga não tem nada, tem um IBU abaixo de zero!).
Nunca pensei que um dia iria falar do IBU da UBI.

Gondri




Gráfico IBU (com imagens) | Cerveja, Cervejas artesanais, Cervejeira






terça-feira, 7 de julho de 2020

Quem é que se lembra de uma conferência sobre o Einstein na UBI, p'ráí há trinta anos ou mais?


Richard Jakubaszko: Frases famosas de Albert Einstein

Quem é que se lembra de uma conferência sobre o Einstein na UBI, p'ráí há trinta anos ou mais? O conferencista era um brasileiro, salvo erro professor nos Estados Unidos, e que, segundo disse, conhecia muitas das maiores sumidades da física, e alguns prémios nobel. Eu fui assistir, ávido de o ouvir.
O Einstein era um mito no meu imaginário, uma espécie de estrela maior na constelação dos cientistas. Apesar de aquela não ser uma aula normal, de estar fora do curriculum e não contar para nada, nunca assisti a nenhuma outra aula com tanto interesse e arrebatamento. Lembro-me de ter saído de lá mais pequenino do que pequenino, com uma profunda sensação de insignificância face a um universo de dimensões que iam muito para além do entendimento humano. Acho que nunca antes eu tinha encarado com tanta clareza e humildade o meu lugar no universo. Vivi aquele momento com grande intensidade, e nessa noite, como se estivesse num filme, fiquei demoradamente de olhar fixo nas estrelas encandeado por milhões de mistérios…
Se aquela conferência teve um enorme impacto na minha forma de estar e de ver o mundo, deixou-me também algumas recordações pontuais que sempre que posso conto nas minhas breves tertúlias sobre ciência. Lembro-me perfeitamente que o professor abriu a conferência a dizer “só há um cientista com categoria para se sentar ao lado de Newton: Einstein”. Claro que o Galileu apareceu logo na conversa interativa que o professor foi mantendo com a plateia, mas o professor defendeu que, apesar de ser um grande, Galileu estava alguns degraus abaixo, as estrelas maiores eram definitivamente Newton e Einstein. E disse mais, disse que o maior de todos ainda assim era Newton, que a física que utilizamos para compreender o nosso mundo ainda é a dele. Einstein já é uma física à velocidade da luz, já é onde a física toca na filosofia com formulações teóricas como o paradoxo dos gémeos, que já extravasa o nosso dia a dia e se lança a explicar o espaço-tempo, os buracos negros, etc…
Estava o professor nas suas considerações quando de repente se saiu com uma que deixou a plateia toda de boca aberta: “eu não compreendo a lei da gravitação universal de Newton”. Ficámos todos pasmados a olhar para ele. Nós, coitadinhos de nós que não percebíamos nada daquilo à vista dele, percebíamos a lei da gravitação, e ele não percebia?! “Eu vejo e confirmo que ela funciona, mas não consigo compreender como é que é possível que ela funcione”, acrescentou. Estávamos todos incrédulos e confusos, e alguns comentários, geralmente bem humorados, foram surgindo ao longo da sala. O professor alimentou o “suspense” por alguns momentos, e lá se decidiu a clarificar: “é que eu não consigo entender como é que a fórmula funciona sem entrar com o tempo. Mas lá que funciona, funciona…”. Todos sabíamos que Einstein revolucionara a física ao introduzir uma quarta dimensão – o tempo – mas nunca nos passara pela cabeça questionar como é que a lei da gravitação de Newton podia funcionar sem o tempo, isso era demais para os nossos cerebrozinhos cheios de normalidade. Tínhamos aprendido a lei ainda no ensino secundário, e entendíamo-la perfeitamente. Paradoxalmente, só mesmo uma grande cabeça como a daquele ilustre conferencista é que podia não entender uma coisa daquelas…
Isto agora faz-me lembrar um certo professor que, numa certa aula a que assisti (lamentavelmente já não me recordo nem que professor nem que aula), quando se falava da importância da curiosidade e do espírito crítico, disse “eu avalio melhor um aluno pelas perguntas que me faz do que pelas respostas que me dá”. Nunca mais me esqueci desta frase lapidar, é uma espécie de relíquia a que recorro muitas vezes. Ninguém na sala, exceto o conferencista, tinha capacidade para se perguntar como é que a fórmula da lei da gravitação de Newton funcionava, como é que era possível que ela funcionasse? Todos a entendiam, todos a percebiam, nunca a ninguém passara pela cabeça que não era suposto ela funcionar. E muito menos por causa de não entrar com o tempo. Às vezes um tipo tem que ter muita cabeça para que os ignorantes pensem que ele é burro…
Outro momento empolgante foi quando o professor disse que Einstein tinha ganho o nobel da física mas que não tinha sido com a relatividade, porque, disse com eloquência e ironia, “a teoria da relatividade está acima de qualquer prémio humano”. (De facto Einstein recebeu o nobel da física com um trabalho apesar de tudo menor no conjunto da sua obra, pelas suas contribuições para a física teórica, especialmente pela descoberta da lei do efeito fotoelétrico). E se o disse com ironia foi porque já tinha na manga um vasto leque de críticas ao modo injusto como por vezes o nobel era atribuído. Ele falava do que sabia, disse, porque andava lá no meio deles. Lembro-me perfeitamente de, a título de exemplo, ele ter contado a história de uma injustiça. Vou tentar explicar aqui o essencial, de uma forma básica que é como me lembro. Básica, mas elucidativa. Contou então ele que havia um ilustre cientista, salvo erro americano, que andava na peugada das chamadas “radiações de fundo”, que se fossem detetadas constituiriam uma extraordinária descoberta e um apoio decisivo à teoria do big bang. Esse cientista era a maior sumidade mundial no tema, e “encontrar” as radiações de fundo era o propósito da sua vida. Entretanto, lá num sítio qualquer, dois engenheiros foram contratados para montar uma grande antena parabólica, não sei precisar onde, nem como nem porquê. Acontece que a certa altura a antena começou a detetar umas interferências estranhas e indesejáveis que os engenheiros não conseguiam explicar nem eliminar. Pensaram que era uma avaria mas verificaram tudo minuciosamente e não encontraram nada de errado. De seguida aperceberam-se que uns pássaros tinham feito ninho na antena e julgaram que tinham dado com o gato. Mas limparam tudo e, para continuado desânimo, as interferências mantiveram-se. Até que este episódio chegou aos ouvidos do tal cientista líder mundial da caça às radiações de fundo. O homem foi lá, viu a coisa, e foi o “eureka” da vida dele: aquilo eram as radiações de fundo que ele há tanto procurava! Resultado: os engenheiros ganharam o nobel da física pela descoberta das radiações de fundo. O cientista, que foi lá dizer-lhes o que era aquilo porque eles não sabiam, ficou a zero.
O conferencista disse que aquele não era, infelizmente, caso único de injustiça, que os prémios humanos padeciam dos mesmos males da humanidade. Por isso é que o facto de a relatividade nunca ter ganho o nobel até a dignificava mais, libertava-a da fraqueza humana e elevava-a à grandeza de Deus. “A teoria da relatividade está acima de qualquer prémio humano” foi mesmo a frase mais poderosa que já ouvi proferir em elogio à obra maior de Einstein. 
E por aqui me fico nas lembranças de uma conferência ubiana muito especial sobre um homem que viveu completamente a leste das frivolidades da vida, do dinheiro e do sucesso. Foi um espírito elevado, inconciliável com a superficialidade e a vida de aparências que comanda a maioria dos seres humanos. Um homem simples que, apesar de se ter tornado uma das pessoas mais famosas do mundo, nunca ligou nada a isso. Tinha demasiadas coisas extraordinárias em que pensar…
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"Os fins banais do esforço humano: propriedade, êxito exterior e luxo pareceram-me desprezíveis desde jovem".
Albert Einstein, in 'Como Vejo o Mundo'

Gondri




quinta-feira, 2 de julho de 2020

O maior ataque de riso dos meus tempos de ubiano... 😨



Éramos quatro num quarto da residência: eu, o Jorge CC, o Carlinhos da Madeira, e mais o Zé, que era o nosso caloiro de estimação.
O Zé era a coisinha mais ingénua e ignorante que podia haver no que tocava a sexo e seus derivados, tipo aqueles que ainda acham que o clítoris é um imperador romano. Quando se contava uma anedota picante o Zé não achava piada nenhuma porque não percebia puto, e nós, os veteranos, gozávamo-lo quanto podíamos. Até que o Zé começou a rir de todas as anedotas para não dar parte de fraco.

Um dia contei esta lá no quarto: uma freira ficou grávida no mosteiro, e, possuída por essa grande vergonha, lá conseguiu esconder a barriga usando hábitos mais largos. No dia do parto, altas horas da noite, conseguiu sofridamente ter o filho sozinha. Dirigiu-se sorrateiramente ao quarto da madre superiora, que era conhecida por ter um sono de pedra, levantou-lhe lençóis e cobertores, colocou-lhe o filho entre as pernas, voltou a cobri-la com a roupa da cama, e recolheu-se novamente ao quarto, aliviada. Ora, a madre superiora, quando acordou e viu que tinha um recém-nascido entre as pernas, exclamou estupefacta: - puxa, que já nem se pode lá ir com o dedo!
Desmanchámo-nos todos a rir, inclusive o Zé. Mas eu sabia que o Zé não podia ter percebido aquela, lerdinho como ele era para as piadas picantes. Por isso interpelei-o: - estás para aí a rir à gargalhada, tu percebeste esta, Zé?
O Zé lá disse que sim, mas eu tramei-o: - então, já que percebeste e até estás aí todo entusiasmado a rir, diz-me lá porque é que ela não podia ir lá com o dedo?
- eu acho que percebi…
- mas percebeste ou não percebeste?!
- bem, quer dizer…
- vá lá, diz lá então porque é que ela não podia ir lá com o dedo?
- é que ao ir lá com o dedo podia meter o dedo na boca da criança sem querer e a criança queria respirar e não podia…
Ai senhores, quando o Zé se saiu com esta eu dizia que morria de tanto rir. Ainda não tínhamos parado de rir da anedota e já estávamos a rir que nem uns doidos da ingenuidade do Zé, a rir perdidamente, até chegar a um ponto em que já estávamos a rir não sabíamos muito bem de quê… E eu queria respirar e não conseguia porque o riso era convulsivo, e já me faltava perigosamente o ar, e eu dizia que desfalecia ali, à gargalhada…
Foi seguramente o maior ataque de riso de toda a minha vida. E garanto que teve mais de assustador do que de divertido…
Quando recuperei daquele susto anaeróbico, já com os pulmões livres de sobressaltos, virei-me para o Zé, que não sabia se havia de rir ou de chorar, e fechei assim o caso: - ai ela podia meter o dedo na boca da criança sem querer e a criança queria respirar e não podia?!.. E que piada é que essa merda tinha, ó parolo?!
Já não me lembro se lhe dei logo ali as noções básicas de masturbação necessárias à compreensão da anedota, ou se o deixei ficar mais algum tempo na sua ingénua ignorância. Seja como for, nesse ano o nosso estimado caloiro teve um curso intensivo de sexologia e pornochachada, e não demorou muito a ficar expert em kamasutra e suas derivações… 


Gondri