sábado, 18 de julho de 2020

O Departamento de Artes da UBI brilha em grande estilo.



O Movimento Anti-Tourada desafiou a UBI a criar, através do seu Departamento de Artes recheado de talentosos designers, um cartoon que fosse apelativo e sugerisse uma alternativa às touradas. Era condição “sine qua non” que o trabalho gráfico fosse altamente original. E também que tivesse doses generosas de humor porque, segundo se disse, fazer rir era a maneira mais eficiente de vender um produto ou de passar uma mensagem. Era preciso abanar a juventude, criar algo que explodisse nas redes sociais e andasse de boca em boca, que ficasse no olho e se incrustasse no imaginário coletivo por muito tempo.
Os criativos da UBI andaram uma semana a marrar naquilo, fizeram e apagaram muitas vezes, faltava-lhes sempre aquele clique que faz a diferença. Desenhar eles sabiam, mas era preciso uma ideia estrondosa, não bastava fazer bem, era preciso surpreender. E, depois de uma semana à míngua, aquela visão quase bíblica a que chamamos inspiração surgiu com tudo. Era um cartoon de uma tourada sem sangue nem farpas. Muito à imagem dos desenhos animados, era um pica-pau em vez de um touro.
Senti-me um ubiano orgulhoso quando vi o cartoon pela primeira vez. A obra transbordava de imaginação e colocava a UBI nas bocas do mundo pelas melhores razões. Mas, apesar de impressionado, confesso que não percebi o cartoon à primeira. No início pensei que o pica-pau fosse um estudante de matemática e o toureiro lhe estivesse a mostrar uma tábua de logaritmos. Mas não. Afinal tratava-se apenas de deixar os touros em paz na lezíria, substituindo o marrar na capa pelo picar na tábua. O espetáculo passava a ser sonoro em vez de sanguinário, sendo que o toureiro levava um microfone para que se ouvisse em toda a praça o pica-na-tábua da ave.
O Movimento Anti-Tourada ficou encantado com a prestação dos criativos da UBI e disse maravilhas sobre isso em todo o lado, e todas as associações de defesa animal fizeram o mesmo. As únicas críticas surgiram dos mais fundamentalistas que, apesar de aplaudirem a excelente iniciativa, ainda assim lamentaram que os pica-paus fossem usados para divertimento dos humanos. Sobre isso houve quem adiantasse, e bem, que a única maneira de resolver o problema seria usar pica-paus artificiais, que fariam o mesmo efeito e evitariam a exploração do pássaro pelo homem. E foi então que a UBI se prontificou mais uma vez a ajudar: num arrojado projeto de investigação, lá destacou para o efeito os seus melhores crânios nas áreas da mecânica e da informática com vista à criação de um pica-pau robô.
Bem, mas ainda não falámos do outro lado da barricada. Mais de cinquenta aficionados da festa brava irromperam pela UBI e destrataram toda a gente, deixaram o departamento de artes de pantanas, fizeram uma largada de insultos à beira da reitoria e ameaçaram rasgar todos os cartazes desse pica-pau ridículo. Tourada sem touro era uma cretinice, diziam, o mundo sem nobreza e coragem era um lugar sem alma, uma pasmaceira. Queriam que a UBI fosse imparcial. Se não estivesse disposta a eliminar o cartoon do pica-pau que criasse ao menos um, igualmente criativo e original, mas onde se retratasse a corrida à portuguesa em todo o seu esplendor. A guerra entre taurinos e anti-taurinos estava instalada na UBI, e ninguém via jeitos de aquilo acalmar.
O que valeu é que foi nessa altura que puseram lá a estátua do Cristiano Ronaldo (conforme relatado na crónica de 31/5/2020), e a discussão acalorada entre os que eram a favor e os que eram contra a estátua fez esquecer completamente a balbúrdia por causa dos touros. Entretanto os do contra ganharam, a estátua foi retirada, e o ambiente acalmou. Felizmente, depois que a calmaria se instalou, os beligerantes do sim e do não à festa brava perderam o balanço e não voltou a haver desordem por causa disso. Graças a Deus.

Gondri




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