sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Chá de quê?...


Um grupo de investigadores da faculdade de medicina da Universidade da Beira Interior acaba de confirmar, após um longo trabalho de investigação, que, tal como diz a sabedoria popular, rir é o melhor remédio. Apesar de amplamente difundida e passada de boca em boca, a tese de que rir é o melhor remédio nunca passou de uma convicção empírica sem qualquer sustentação científica. É por isso que a UBI acaba de fazer história ao confirmar, cientificamente, após teste contra o placebo, que assim é. Numa amostra de mil voluntários infetados com o novo coronavírus, a quinhentos foi contada uma anedota de alentejanos com piada e aos outros quinhentos uma sem piada, sendo que, no grupo da anedota com piada 96% dos indivíduos ficaram curados contra 5% do grupo da anedota sem piada. Uma tão gigantesca diferença no número de curas não deixou qualquer margem para especulações ou exercício do contraditório, foi imediatamente reconhecida por unanimidade pela comunidade científica, e até os indefetíveis negacionistas se reduziram a zero perante a evidência dos números. 
Passada a fase inicial e bombástica da descoberta, era agora necessário aferir as condições da aplicação da terapêutica à população. E foi aí que começaram a surgir as dificuldades. Em pessoas cultas e relativamente inteligentes o riso provocado pelas anedotas curava com abundância, mas, quando o nível cognitivo baixava, o remédio deixava de fazer efeito porque as pessoas não percebiam as anedotas e por isso não se riam. Pior se passava com os imigrantes estrangeiros que, face às dificuldades da língua, menos aptos estavam para compreender as piadas. Ou com a minoria surda que, sem a faculdade de ouvir, ficava inconstitucional e imoralmente excluída. 
Perante as dificuldades da comunicação oral, tentou-se a mímica que era universal e ultrapassava as barreiras da língua. Mas não contemplava os invisuais, o que, só por si, abolia logo a priori qualquer possibilidade de ser implementada. Além disso, tirando os surdos que se entendiam perfeitamente na linguagem gestual, constatou-se que a comunicação por mímica era um autêntico bicho de sete cabeças, que na maior parte das vezes ninguém se entendia. E a hipótese da mímica também não vingou.
Face ao falhanço das hipóteses anteriormente descritas, tentou-se a técnica das cócegas. Quem é que nunca se desmanchou a rir com cócegas, especialmente na sola dos pés?! Em criança eu fugia delas a sete pés, mas, quando me apanhavam, destrambelhava-me todo à gargalhada e havia poucas coisas que me provocassem um riso tão convulsivo. Mas não demorou muito até que se percebesse que o método das cócegas também não era solução. Primeiro porque havia pessoas que pura e simplesmente não tinham cócegas, depois porque para alguns a fuga às cócegas era mais mobilizadora do que a própria fuga aos impostos, e ainda, entre outras razões, porque havia pessoas de temperamento sério e circunspecto para quem as cócegas eram coisa de criança. Nada feito, portanto.
O passo seguinte foi um completo disparate. Um dos investigadores ubianos lembrou-se de propor o uso de gás hilariante para despoletar o riso sem ter em conta que se trata de uma droga psicoativa. Inconsciente do perigo decidiu experimentar em si próprio o óxido nitroso, a chamada droga do riso, e, depois de muito gargalhar, sentiu-se mal e teve que ser assistido no hospital. De facto o óxido nitroso não é inofensivo, como muitos pensam. Quando é inalado em grandes quantidades pode levar à anoxia cerebral (falta de oxigénio no cérebro), e, nos casos mais críticos, pode provocar a morte. Uma morte falsamente divertida, diga-se, as vítimas morrem literalmente a rir. E eis que ainda não era desta que se descobria a melhor forma de administrar o riso, que era, já se sabia, o melhor remédio. 
Como se sabe a palavra “desistir” não consta do vocabulário da UBI. As experiências continuaram, as tentativas sucederam-se, e a cada tropeção seguia-se sempre uma nova vaga de entusiasmo. Tentaram-se outras substâncias que induzissem o riso e fossem facilmente aplicáveis. De preferência naturais. Experimentaram-se plantas exóticas, muitas da Amazónia, muitas das florestas húmidas do Congo, muitas de todo o lado, mas nenhuma fazia rir. Chás e mais chás, e nada. Ainda se falou em cannabis que, como se sabe, faz rir bué. Mas era hipótese abortada à partida porque a cannabis não é permitida por lei. Aliás, mesmo que o fosse, ninguém estava a ver o país inteiro a fumar a dita cuja. Não estava fácil. Não se mediam esforços para encontrar uma solução, mas não estava fácil.
Até que, num dia épico, a solução chegou, pode dizer-se, pela televisão. O Dr. Norberto, um dos investigadores ubianos, teve um assomo de génio quando estava refastelado em casa a ver um documentário da National Geografic, sobre hienas. Claro que ele sabia que as hienas riem, toda a gente sabe, mas nem sempre lembra. E a partir daí iniciou mais uma levada de experiências até que chegou ao medicamento prometido, ao melhor remédio, à sentença de morte do coronavírus. Levanto só uma pontinha do véu: é uma bebida. Podia manter o suspense por mais umas linhas mas estou deserto por revelar o remédio, que é, tan tan tan tan, que é, tan tan tan tan, que é, tan tan tan tan, o chá de hiena!!! Esqueçam a vacina, se apanharem covid é só um chazinho de hiena e está feito. Muito simples. Agradeçam à UBI. Agradeçam-lhe, tal como a academia sueca se prepara para lhe agradecer atribuindo-lhe o Nobel da Medicina pela descoberta do chá de hiena na cura do covid19. 
Aposto que, quando o Nobel chegar, António Rolo Duarte, esse elitista de meia tijela, vai alterar radicalmente o discurso para “passa pela cabeça de alguém ir estudar para uma universidade que não seja a Universidade da Beira Interior?”. Agora pergunto: a qualidade do ensino que é ministrado na UBI muda com a atribuição do Nobel, assim por artes mágicas?! Certamente que não. O que muda é o status, esse sim, muda e de que maneira. Na cabeça do Rolo Duarte a UBI passa de carrito baratucho a Ferrari, e isso é que conta. Bem digo eu que um trapo encharcado ainda era pouco…

Gondri

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