domingo, 12 de julho de 2020

A UBI, o IBU, e uma bebedeira no Primor para comemorar, salvo erro, o cadeirão da Orgânica!




IBU: Saiba tudo sobre a escala do amargor da cerveja


Um dia destes sonhei que ia no meu carro e que, olhando pelo retrovisor, vi que atrás de mim vinha uma carrinha com a inscrição “IBU”. O que seria IBU, pensei. De repente lembrei-me, ainda no sonho, que as ambulâncias por serem veículos prioritários tinham à frente a palavra “ambulância”, escrita ao contrário, para que quem lesse a partir do retrovisor pudesse ler direito. O retrovisor punha as palavras ao contrário, IBU afinal era UBI. Sonho ou não, um troço de estrada é sempre mais feliz quando se tem um carro da UBI atrás, apetece deixá-lo ultrapassar para que se possa tê-lo à frente, é como o passado e o futuro, o antes e o depois.
O que nunca pensei, e soube-o mais tarde por puro acaso, é que o termo IBU tinha mais a ver com a UBI do que eu imaginava. Com a UBI e com a cerveja que os ubianos bebiam no Primor, às grades. Eu, por acaso, não tenho muita autoridade na matéria porque já ia adiantado no curso quando comecei a suportar um copo de cerveja. Aquilo amargava… confesso que era e ainda sou mais de doces. Agora já bebo. No entanto, a cerveja, e até o vinho, tiveram que ganhar a confiança do meu palato com muita paciência.
As minhas idas ao Primor no início eram um filme. Ia sempre em grupo, o empregado perguntava o que era, e era sempre xis cervejolas e um copo de leite. No primeiro dia ele olhou, olhou, muito sério, a tentar descobrir quem seria o queque do copinho de leite. Eu era o que tinha mais ar de vadio, tenho a certeza que fui o menos votado na cabeça dele para ser o do leitinho. Imagino por isso a surpresa que não terá sido para ele quando, ao chegar com a encomenda, viu que afinal o do leite era o último da lista.
Tirando esta do leite, a recordação mais viva que tenho do Primor foi uma certa vez que vomitei para cima da mesa, num jato aquoso e nojento de que obviamente não me orgulho. Nesse dia tinha feito Orgânica, salvo erro, e só me passou pela cabeça comemorar com uma bebedeira que ficasse para a história. Para a história ficaria certamente porque eu nunca me embebedara, nem sequer gostava de álcool. Aliás, foi isso mesmo que me tramou, eu tinha que me embebedar mas não gostava nada daquilo que fazia embebedar. E o que me ocorreu foi que, se tinha que beber à força, que bebesse o mínimo possível. E a solução óbvia era a aguardente, que era a mais forte. Aquilo era intragável e parecia fogo por dentro, mas, de olhos fechados, (e vira!), lá me desceram as goelas uns não sei quantos cálices. Ora, para quem não estava habituado a beber aquilo foi uma bomba, não tardou fiquei super mal disposto, já não sabia se estava bêbado ou se estava para morrer. Que estava arrependido de me ter metido naquele sarilho não tinha dúvidas que sim, mas, depois do mal feito, só me restava gramar aquela agonia. Estava sentado à mesa, lá dentro do Primor, quando um vómito súbito e inesperado não me deu tempo de reagir e uma enxurrada liquefeita, rápida e volumosa, saiu disparada da minha boca e emporcalhou tudo o que havia para emporcalhar. Foi uma cena que só filmada, e, para minha sorte, beneficiei da compreensão dos empregados, dos outros clientes, e principalmente do colega da frente (avivem-me a memória porque já não me lembro quem era) que ficou a precisar de uma lavandaria como de pão p’rá boca. Sem saber em que buraco me metesse, pus-me imediatamente a andar, e não me lembro quando tempo é que passei sem pôr os pés no Primor, tal era a vergonha que sentia.
Quando o calor apertava a cerveja era a principal atração do Primor, e uma parte significativa da sede da UBI era lá que se matava. O que poucos sabem, penso eu, é que a cerveja e a UBI têm muito mais em comum do que aparentam, há uma curiosidade que as ligará “ad eternum”. Consoante as marcas há umas cervejas mais amargosas do que outras, e existe uma escala que mede o maior ou menor amargor de uma cerveja. O curioso e que o nome dessa escala é IBU, exatamente o contrário de UBI.
Sei-o há pouco tempo, e fiquei tão encantado com a coincidência que não hesitei em dedicar-lhe esta crónica. Para que conste, quanto mais alto é o valor do IBU de uma cerveja, mais amargosa ela é. (O que significa que a nossa doce UBI, que de amarga não tem nada, tem um IBU abaixo de zero!).
Nunca pensei que um dia iria falar do IBU da UBI.

Gondri




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