sábado, 23 de janeiro de 2021

Covilhã, the city of hyena tea.

 


Tal como noticiei na minha última crónica, uma equipa de investigadores ubianos descobriu a cura para a covid 19: o chá de hiena. Como não podia deixar de ser, foi a melhor notícia que o mundo podia ter em tempo de pandemia. A fama do chá de hiena já extravasou fronteiras e todos os países o solicitaram às autoridades portuguesas, que, em colaboração com a UBI, estão a tratar de o produzir em grande escala e de proceder à sua distribuição, não só no espaço nacional mas também no âmbito planetário. As notícias sobre a extraordinária descoberta da equipa de cientistas da UBI correm céleres por todo o mundo, na internet, nas redes sociais, nos meios de comunicação social, em todo o lado onde a informação flui. O mundo está doido por conhecer a UBI. A Covilhã tornou-se um local de peregrinação, é só jornalistas por todo o lado, dos quatro cantos do mundo, um movimento desusado de gente a andar p’ra cima e p’ra baixo nos declives da cidade. As reportagens de exteriores sucedem-se, equipas de filmagem filmam as encostas graníticas da serra e a longa planície que lhe nasce no sopé, dissecam-se os usos e costumes da terra, momentos históricos, a virtuosa industria de lanifícios, a neve que pinta de branco as vertentes e os planaltos, tudo o que é suscetível de fazer notícia.
A Universidade da Beira Interior foi forçada a limitar o acesso à comunicação social, senão ficava tudo tão empanturrado de gente que não se podia dar passo sem andar aos encontrões. Mesmo assim é uma enchente, o que vale é que com a vacina e o chá de hiena a pandemia ficou sob controlo e o distanciamento social passou a ser uma medida do passado. Ainda bem que assim é, senão era o fim da macacada…
A Covilhã está a abrir os noticiários das televisões de todo o mundo, a começar pela CNN e a acabar nas televisões mais modestas dos países do terceiro mundo, não se fala noutra coisa, o mundo está parado a admirar a Covilhã e a sua UBI. Ninguém diria que, à semelhança dos tempos épicos do Infante Dom Henrique, Portugal voltaria a ter o mundo a seus pés…
Mas há sempre vozes críticas, é fatal como o destino. Esperava-se que a censura viesse de outras universidades, por inveja. Que viesse dos ambientalistas que sempre combateram o turismo de massas e os seus efeitos perversos. Que viesse das farmacêuticas que perdem de vender uma série de fármacos tidos como bons para o covid. Que viesse dos curandeiros charlatães que deixam de ter incautos para enganar. Enfim, que viesse de todos os lados menos do lado de que de facto veio: do lado vegan. O problema está obviamente na hiena, porque, segundo o evangelho vegan, não se pode consumir nada que tenha origem animal.
Há coisas de origem animal que eu também não consumo, como por exemplo o cheiro pestilento de um porco acabado de sair de um banho de esterco. Ou o palrar de um papagaio malcriado que me manda à merda quando passo. Ou mesmo o encosto da enguia elétrica que me deixa em estado de choque. Mas não dispenso o canto do rouxinol ou o leque do pavão, o amor incondicional do cão, a elegância do cavalo, não dispenso nenhuma das coisas belas e inacreditáveis do reino animal, nem dispenso, e aqui é que está o meu crime, um bom bife. Ou seja, na ótica vegan sou um criminoso, assim como o são também os investigadores ubianos que, com a descoberta dos poderes curativos do chá de hiena, livraram a humanidade do coronavírus.
O mundo vegan levanta-se em protesto contra o chá de hiena. Se fosse de tília ou de limão nada disto acontecia, eram tudo rosas. Mas a hiena é um animal e os animais não se usam em benefício dos homens. Um vegan quando vê um filme de cowboys passa bem com a matança dos índios, o que não suporta é que andem todos em cima dos cavalos, tanto os índios como os cowboys. Se andassem em cima de abóboras era ótimo, o pior é que as abóboras não têm pernas e não saem do mesmo sítio. Não se pode ter tudo…
A hiena é colocada num caldeirão com água a ferver, chá é chá. De facto é horroroso, mas é o crime que a humanidade tem que cometer para se salvar. O vegan fanático, no entanto, não comete esse crime, dá a vida pela causa, prefere morrer aos pés do covid do que desgraçar a hiena. Se for vegan e testemunha de Geová, então deixa-se morrer tanto pelo sangue como pelo chá, rejeita a transfusão e a infusão.
Os ativistas vegan unem-se empenhadamente contra mais este atentado à felicidade animal. Considerando que o exemplo vem de cima já têm preparada uma avioneta que sobrevoará a cidade da Covilhã lançando folhetos como fotos de hienas em sofrimento e frases como “os animais também sentem, tenham compaixão”. O movimento vegan não se fica por este rectangulozinho da península ibérica, alastra a todo o mundo e toma cada vez mais visibilidade. Nas cidades mais importantes e mediáticas do planeta sucedem-se as manifestações de rua, com os cartazes e os gritos de ordem do costume.
Nova York prepara-se para receber a marcha do Orgulho GAY e a marcha vegan do Orgulho CA (Couves&Alfaces). No entanto, para aumentar significativamente o número de participantes e dar dessa forma maior destaque ao protesto, em vez da marcha do Orgulho CA e da marcha do Orgulho GAY, os movimento LGBT e vegan resolveram juntar-se na marcha do Orgulho CAGAY (o que, convenhamos, não soa lá muito bem…). Será certamente a maior marcha de que há memória na cidade, com um impacto incomparavelmente maior do que seria se gays e animalistas desfilassem em eventos separados. 
Ou seja, agora que a Covilhã se tornou o centro do mundo podia esperar-se um ataque à bomba dos terroristas do Islão, uma invasão de infetados desesperados pela cura, uma onda de fake news com base em teorias da conspiração, uma investida de negacionistas a negar tudo…, enfim, tudo menos uma insurreição vegan. Mas, surpreendentemente, é isso mesmo que está a acontecer. Assim vai o mundo…

Gondri

2 comentários:

Nuno Miguel Ramos disse...

O que uma descoberta UBIana pode fazer!!!
A cidade nunca mais será a mesma.

Gondri disse...

Podes crer, Nuno, até já se consta que o Trump vai lá construir um casino e a Madonna uma super-mansão de férias. Isto para não falar dos árabes que parece que querem lá erigir a torre mais alta do mundo (que com os seus 920m de altura destronará a torre Burj Khalifa, de 828m), a Hyena Tea Tower.