terça-feira, 25 de agosto de 2020

Revelação bombástica: Osama bin Laden esteve escondido na UBI!



Oiço dizer tanta asneira na Net, tanta teoria da conspiração, que o polígrafo não tem descanso. São tretas e mais tretas: que os americanos é que atiraram as torres gémeas abaixo, que o Bill Gates é que financia a pandemia do covid, que os Estados Unidos é que criaram o vírus para entrar numa guerra económica com a China, enfim, se as fosse dizer a todas dava muitos eucaliptos de papel. E agora até dizem que Osama bin Laden esteve escondido na UBI, que foi o segredo mais bem guardado da republica portuguesa, que o presidente da republica sabia, que o primeiro ministro sabia, eles e mais meia dúzia de altos dignatários do regime sabiam, que havia uma elite muito bem informada a esse respeito que sabia. No entanto, ninguém punha a boca no trombone, o dinheiro sujo do petróleo calava-os a todos. A Osama bin Laden só se pedia discrição e que não desse muito à lábia, não fosse descuidar-se e armadilhar-se a si próprio. O resto os poderosos tratavam.
Osama bin Laden era formado em engenharia civil e entrou na UBI como professor. Sem barbas e sem turbante, e sempre de óculos escuros como o Pedro Abrunhosa, estava a salvo de ser caçado pela fisionomia. Também nunca disse uma palavra de árabe, falava e lecionava exclusivamente em inglês. Entrou no país como “Ivan Peterson”, tudo tratado por um falsário internacional que tinha mais de trinta anos de experiência e um curriculum de trafulhice que faria inveja ao próprio Alves dos Reis. Tratou-lhe dos documentos de identificação e dos documentos que o atestavam como professor, legalizou-o dos pés à cabeça.
Tirando alguns iluminados que agora dizem que já sabiam, nunca ninguém da UBI desconfiou, não havia o mais pequeno indício de que o carrasco das torres gémeas fosse aquele professor estrangeiro, de tez morena, solitário e introvertido, que dava cadeiras ao pessoal de Civil. Na reitoria também nunca faiscou a mínima dúvida, e Osama bin Laden estava como queria enquanto os americanos andavam loucos à sua procura nos mais remotos recantos do Afeganistão e do Paquistão, ou quiçá de algum outro país islâmico. Sentia-se completamente blindado pelo dinheiro do petróleo. Andava descansado da vida porque, pensava, a probabilidade de ser apanhado era mais ou menos igual à probabilidade de ser traçado ao meio por um meteorito no meio rua, ou de ser alvejado nos tomates pelo voo picado de um ganso-patola. A somar a toda a camuflagem logística que o escondia do mundo, havia ainda o facto de Portugal ser um país que, além de insuspeito de esconder terroristas, era também um antro de centralismo onde praticamente só havia Lisboa. Osama bin Laden passou cinco anos na UBI, entre 2005 e 2010, e o erro da sua vida foi ter saído para o Paquistão. O erro da sua vida não, o erro da sua morte - em 2011 os americanos interromperam-lhe definitivamente a contagem dos dias e deixaram a Al-Qaeda a soro.
Há muitos ubianos que, infelizmente, estão a receber chorudos cachés para contar estranhas experiências que se passaram com eles, e que, dizem, só agora conseguem interpretar com olhos de ver. Um desses mentecaptos ubianos, que não tem outro nome, é o Jójó, um engenheiro eletromecânico falhado que encontrou na mentira transatlântica um modo de vida. Já atravessou o Atlântico muitas vezes, em modo skype, para contar o que viu a troco de uns farfalhudos maços de dólares, e o aumento vertiginoso da sua conta bancária é a melhor prova de que não lhe faltou imaginação. Disse que Osama bin Laden (Ivan Peterson, como era fraudulentamente conhecido) passava a vida a ver vídeos do atentado às torres gémeas. Na altura achou estranho, até porque o professor Ivan Peterson, quando os via, não conseguia esconder uma óbvia felicidade psicopática estampada no sorriso. No entanto, nunca lhe passou pela cabeça pensar que era o Osama bin Laden, alguma vez?! Um pensamento desses, tão contrário à lucidez, dava direito a pulseira vermelha nas urgências de psiquiatria. No Afeganistão ou no Paquistão - onde acabou por ser morto -, ou num qualquer outro país de radicais muçulmanos, está bem, agora em Portugal?! Jójó continuou, disse que ouviu o professor Ivan Peterson a falar árabe com um muçulmano de turbante, num banco de jardim. Ele nunca falava árabe em público nem em privado, era muito estranho. Mas o que o deixou mais apreensivo, disse Jójó, é que conseguiu apanhar, no meio daquele falató indecifrável, as palavras “Al Qaeda”. Lembrava-se muito bem. Tinha-se escondido atrás de uma sebe de arbustos verdes, que estava mesmo junto ao banco, e tinha escutado a conversa dos dois homens, secretamente, sem que eles se tivessem apercebido de que não estavam sozinhos. O momento mais intenso foi quando lhe pareceu ouvir, naquela salganhada de sons do árabe, “Osama bin Laden”. Aí ficou em sentido, em alerta vermelho. Não tardou que o muçulmano voltasse a chamar Osama bin Laden ao prof Ivan Peterson. Jójó contou que ficou em pânico. À terceira Jójó contou que tremia. Depois o muçulmano entregou um documento ao professor, levantaram-se e foram embora.
Jójó contou que desde que descobriu que aquele banco de jardim era o sítio das reuniões, cada dia com um muçulmano diferente, começou a dedicar-se muito seriamente à espionagem. A troca de documentos também o intrigou. Um dia levou um binóculo para poder ver, por algum interstício mais aberto da sebe, os documentos ao perto. O muçulmano – que eram sempre muçulmanos – entregou um documento ao professor Ivan Peterson. Jójó apontou o binóculo para o cabeçalho onde estava escrito o nome da pessoa a quem era dirigido, e contou que ia desmaiando quando viu confirmado aquilo que já suspeitava: o documento tinha no cabeçalho, com todas as letras, “Osama bin Laden”.
Depois destas extraordinárias revelações, Jójó teve de aguentar com os jornalistas que pareciam sanguessugas à volta dele. E a pergunta recorrente foi porque é que ele não avisou imediatamente as autoridades. A isso Jójó respondeu simplesmente que teve medo. Teve medo de represálias. Se os fanáticos de Alá o caçassem não teriam problema nenhum em lhe picarem a carne e o comerem de hambúrguer. Naquela altura fora o medo que lhe travara a fala. Mas agora, que já tudo era passado, tinha chegado a hora de dar a notícia ao mundo.
Mas não foi só o Jójó que fez umas massas valentes à conta do Osama bin Laden. Como ele foram mais cinco ou seis que aproveitaram a condição de mentirosos compulsivos, à prova de polígrafo, para enriquecer. E a cada dia que passa mais aparecem, nem que seja para dar as últimas mamadas na teta da abundância.
A notícia de que Osama bin Laden esteve escondido na UBI continua assim a espalhar-se à velocidade da Net, e, com o número de visualizações a crescer exponencialmente, já entrou no top five das teorias da conspiração.

Gondri


3 comentários:

Nuno Ramos disse...

Nunca suspeitei de nada, esteve realmente bem camuflado.
Muito boa esta revelação em dia de aniversário.
A UBI É MAIOR QUE O PAÍS!!!!

Bem hajas Gondri!
SU

Anónimo disse...

Eu deste texto todo só retive que além do Osama ter estado escondido na UBI,que é preciso ter muito cuidado com os gansos-patolas!😂😂

Joao Leonardo disse...

Eu deste texto todo só retive que além do Osama ter estado escondido na UBI,que é preciso ter muito cuidado com os gansos-patolas!😂😂