sábado, 24 de outubro de 2020

Como é que é, Serginho, tás-te a quê?...


 
Enquanto a televisão só transmitir som e imagem, deixando o cheiro de fora, nunca saberemos que emanações aromáticas andam no ar. A menos que a sensação do cheiro seja relatada por palavras, ou intuída por gestos. No caso desta conferência de imprensa, a transmissão televisiva não deixa ver quem está sentado ao lado de Sérgio Conceição. Mas, caso deixasse, veríamos possivelmente alguém com ar de quem reza por um perfume que o alivie, tal é o fedor que se inala por ali. Nesse caso poderíamos inferir, pela sua cara sinalizando um mau estar ao nível das fossas nasais, que alguém se tinha largado e um cheiro nauseabundo abafava a mesa. Ficávamos, no entanto, sem saber quem é que de facto se tinha largado… Mas Sérgio Conceição, um homem sério e frontal, não permitiu que a dúvida pairasse com o mau cheiro e teve a honestidade de assumir a culpa - “estou-me a cagar”, disse - inocentando quem estava a seu lado na mesa da conferência de imprensa. Assim se prova que Sérgio Conceição é um homem de carácter, e alguns gases… 
O tom impróprio que o Sérgio usou seria inócuo se tivesse sido em privado, aí poderia até largar os piores impropérios do calão nacional que o dedo acusador dos púdicos não o atingiria. Mas assim, em plena conferência de imprensa, a coisa muda de figura. Recorrer à imagem fétida da defecação, em direto, e pela televisão?!...ui, assim é complicado. Em privado tudo seria pacífico, principalmente se os seus interlocutores estivessem com uma constipação tão violenta que o mundo lhes fosse completamente inodoro. Constipados somos todos felizes quando alguém nos brinda com um bafo anal insuportavelmente pestilento, o vírus tira-nos o cheiro e torna-nos imunes. É no entanto uma felicidade restrita aos estados gripais, quando as fossas nasais desligam o olfato. Quando o cheiro é bom e não o podemos sentir, aí já somos infelizes. Um prato delicioso cheira-se antes do dente e é um momento de prazer, tal como é prazeiroso o odor de uma substância aromática, o perfume de uma flor…, enfim, privados das fragâncias benignas não podemos ser felizes. Neste episódio do Sérgio as fragâncias são malignas, e damos todos graças a Deus por a TV não transmitir o cheiro. Mas se em vez de cheirar a intestino roto a sala cheirasse a incenso, a alfazema, às mais agradáveis essências perfumadas…, aí quem não desejaria ter uma televisão com uma imagem bem cheirosa?!... 
Navegando na net à procura de informação sobre o estado da arte nesta matéria, encontrei no Google, pesquisando por “televisão com cheiro”, coisas interessantíssimas sobre o assunto. Fiquei a saber que cada substância emana determinadas moléculas odoríferas, que existem sensores que detetam essas moléculas pela vibração específica que cada uma tem, que essa vibração se transforma em linguagem de computador e é enviada para o computador do lado de lá que recebe a informação. A informação recebida determina que se libertem num reservatório de moléculas acoplado ao computador recetor as moléculas que são identificadas, consumando-se dessa forma a transmissão do cheiro. De facto a ciência e a tecnologia não param de nos surpreender.

Enquanto o debate público sobre a conferência de imprensa de Sérgio Conceição se centrava na possibilidade de um dia ser criado um aparelho sofisticado e completo de transmissão do cheiro, um grupo de investigadores do Departamento de Comunicação da UBI, liderados pelo extraordinário João Manuel Messias Canavilhas, mergulhava secreta e discretamente numa profunda investigação jornalística e descobria que as palavras de Sérgio Conceição não diziam o que pareciam dizer. Levou muito tempo e muita inteligência até que conseguissem descodificar a mensagem secreta que se ocultava nas palavras do treinador do Porto, mas no final foi um sucesso estrondoso, mais uma grande explosão de popularidade da Universidade da Beira Interior em todo o mundo. O que a investigação ubiana conseguiu descobrir foi que, imaginem, Sérgio Conceição não diz “estou-me a cagar”, mas sim, “estou Macagar”. A mensagem oculta dirige-se a Maomé Macagar, um empresário de futebol marroquino que representa um jogador de apenas dezoito anos, de seu nome Hasan Mustafá, uma pérola em bruto que encantou Sérgio Conceição. O Porto está a fazer tudo para não levantar poeira, quando menos se souber do seu interesse pelo jogador melhor, aliás, quando menos se souber da existência do jogador mais a salvo fica o Porto da concorrência dos grandes papões europeus. Hasam Mustafá, em boa verdade, não joga um chavo, mas a marcar livres é mortal. Livre é golo. É uma verdadeira nulidade em jogo corrido, até mete dó, mas é fatal nos livres. Nem é perigoso nem tem alta percentagem de aproveitamento, é fatal mesmo, livre é golo. A100%. É um dom inexplicável. Tal como um objeto cai se for largado, porque a terra o atrai, e cairá “ad eternum” sempre que for largado porque a força da gravidade não mete férias, também um livre de Hasam Mustafá é invariavelmente golo. Há um determinismo qualquer na sua natureza que tem força de lei. Quando chuta, a bola até vai direitinha na direção do guarda-redes e, aparentemente, o remate é inofensivo. Mas, quando a bola chega ali a uns três metros do guarda-redes, ou guina para a esquerda, ou guina para a direita, e a verdade é que, guine para onde guinar, das redes não se livra. Não é por isso de admirar que a alcunha do Hasam seja “o Guinas” (aliás, o próprio Fernando Santos já foi ouvido a exclamar, “ui, quem me dera o Guinas na seleção das quinas”). A equipa adversária vive em constante sobressalto, ao menor deslize, entenda-se, à menor falta ali perto da área, o marcador mexe contra si (entenda-se que o rapaz não marca livres de meio campo, a bola tem que chegar à baliza com uma alguma velocidade caso contrário não há feitiço p’ra ninguém…). E claro, com tanto medo de tocar no adversário a defesa acaba por se abrir toda, e se não é o Hasan de livre são os outros de golo corrido. A infalibilidade nos livres acaba por ter uma repercussão holística no jogo todo, a equipa de Hasan Mustafá fica muito mais forte mesmo que não disponha de um único livre a seu favor.  É zarolho no passe, trapalhão na condução da bola, não finta ninguém a não ser ele próprio, não tem sentido tático, é um autêntico cagalhão que ali anda a estrumar a relva. Mas, dê por onde der, é sempre o jogador mais influente em campo, e é por isso que o Porto anda doido por apanhá-lo. “Estou Macagar”, disse Sérgio Conceição respondendo à pergunta de Maomé Macagar que queria saber se ele estava interessado no rapaz. “Está interessado em Hasan Mustafá?”, foi a esta pergunta que Sérgio respondeu, “estou Macagar”.

Abençoada UBI que produziu tão sagazes investigadores, não fossem eles e jamais o mundo perceberia que a vulgar e reles expressão “estou-me a cagar” não passava afinal de uma mensagem codificada. A oralidade não permite distinguir “estou-me a cagar” de “estou Macagar”, e foi essa artimanha de Sérgio Conceição usou. Mas apanhou uma equipa de ubianos inspirados e foi desmascarado. A Covilhã já não tem espaço para tanto orgulho na sua UBI. Primeiro o sucesso planetário do projeto “Vacas Felizes”, agora a resolução de um dos maiores enigmas comunicacionais dos últimos tempos. A cidade neve não podia estar mais feliz com mais esta prenda de aniversário, fazer assim 150 anos é um luxo.

Gondri

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