sábado, 31 de outubro de 2020

José Sócrates, a maior nódoa da história da Covilhã.

 


Outrora belas e admiradas
Ei-las flácidas, descaídas,
Que a idade é uma vilã...
Nem elas sabem, coitadas,
Se o que as mantém erguidas
É um guindaste ou um sutiã....

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Há coisas que se intuem sem se verem. No caso desta senhora intui-se facilmente que ela andou ao sol em pelota, e que a força da gravidade não dá tratamento especial às glândulas mamárias. Não foi preciso estar lá na praia para deduzir que ela por lá andou em topless e sem nuvens, que o sol bateu que se fartou. Os juristas chamam-lhes provas indiretas. Não encontraram a arma, só encontraram o morto, mas todos os indícios tramam o culpado com base nas evidências. Se o tacho está quente é porque foi aquecido, se está frio é porque foi arrefecido, a lei causa-efeito permite deduzir a causa a partir do efeito, deduzir sem precisar de obedecer á máxima “ver para crer”. Às vezes não é preciso ver porque a força do óbvio é tão grande que castra todas as dúvidas. Caso paradigmático são as vigarices a céu aberto que só não vê quem não quer, entre as quais está a tática chico-espertista de meter o dinheiro no nome de outro esperando que todos acreditem no pai Natal. Já todos perceberam, obviamente, que esta indireta se dirige ao Sócrates. Como vêm, bastou uma indireta. Tal como a mamuda da praia é desmascarada pelo mamal descaído, também o Sócrates perde na disputa contra a chamada lógica da batata. Ou seja, por que carga de água é que somos obrigados a acreditar que a sua vida de luxo e ostentação era tudo bondade do amigo Santos Silva?... É que não estamos a falar de “empresta aí mil euros, ó amigalhaço”, estamos a falar de massa a sério, areia para os olhos é que não, haja respeito pela inteligência alheia. Não sei se o homem é psicopata ou se julga que sozinho é mais esperto do que os outros todos juntos. A verdade é que vai negar, negar e negar. Se tiver que dizer que esta mesa é uma cadeira, vai dizê-lo sem a mínima vacilação. O dinheiro não é dele, e pronto. Faz-me lembrar aquela célebre anedota do Bocage que foi a uma festa de gente da alta. Entretanto uma senhora muito fina largou um daqueles traques bem sonoros e toda a gente começou a olhar para ela de soslaio. Muito atrapalhada e percebendo que o som do traque a tinha denunciado, foi ter com o Bocage para que, com a sua retórica superior, convencesse toda a gente da sua inocência. E o Bocage, que além de boémio era um gozão de primeira, mandou parar tudo, e, dirigindo-se aos presentes com a dama peidorreira ao lado, disse: - atenção, muita atenção, o peido que esta senhora deu, não foi ela, fui eu. 
Era bom que o Sócrates, tal como o Arquimedes, fosse um homem de princípios. Mas a vigarice que lhe corre nas veias impede-o de se reconciliar com a verdade. Quando for interrogado em tribunal vai responder à Sócrates, “o que é que o senhor sabe sobre a origem do dinheiro?”, “só sei que nada sei”. E vai dizer que a operação Marquês é uma farsa, que a montanha pariu um rato (coisa que muito vai preocupar o André Silva do PAN que vai logo ligar-lhe p’ra saber como é que está o ratinho…). Bem, mas o que vai ou não dizer é pura especulação minha, é melhor cingir-me ao que já disse, e que não foi pouco. Disse, por exemplo, ao juiz Ivo Rosa, que a mãe tinha um cofre onde guardava cinco milhões de euros em dinheiro vivo. Por essa ordem de ideias eu também posso dizer o que me der na real gana. Posso dizer, por exemplo, que o Bolsonaro engoliu uma Bíblia para evangelizar a bicha solitária, ou que nos seus estudos de relatividade o Einstein usou um alentejano como referencial de inércia, ou mesmo que um ativista do PAN criticou uma prostituta de luxo por enriquecer à custa da passarinha. Se o Sócrates pode dizer as coisas mais estapafúrdias qualquer cidadão pode. Eu incluído.
Este país está cheio de narrativas estrambólicas. O Salgado disse que o amigo José Guilherme lhe ofereceu oito milhões e meio de euros, mas que se tratou de uma prenda, apenas. Uma vulgar prendinha de Natal, imagino eu, nem sei se coube toda no sapatinho. O Sócrates disse que o amigo Santos Silva lhe emprestava o dinheiro todo que ele queria, estadia cinco estrelas em Paris, rios e rios de massa em nome de uma amizade única e irrepetível. A viúva Rosa Grilo disse que lhe apareceram em casa três angolanos, dois pretos e um branco, e que à falta de diamantes lhe mataram o marido. E eu, para não ficar atrás, também posso dizer que conheci no Japão um comerciante de toucinho que foi apanhado a lipoaspirar um campeão de sumo. Há narrativas para todos os gostos, algumas até me aparecem na caixa de correio, “professor Mamadu, astrólogo, grande mestre vidente africano. Dotado de dom hereditário, resolve todos os problemas mesmo os casos mais desesperados. Amor, negócios, casamento, impotência sexual, insucessos, depressão, doenças espirituais, sorte ao jogo, etc, etc, etc, ou seja, resolve tudo em menos de nada.”
O Sócrates diz tantas aldrabices que, já agora, também podia dizer que não conhece a Covilhã de lado nenhum. Ele que vá manchar a reputação de outros lugares porque não faz cá falta nenhuma. É que assim ficávamos cá só com o seu homónimo grego, que esse sim, faz muita falta ao departamento de filosofia da UBI. 

Gondri


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