terça-feira, 30 de junho de 2020

A influência da leitura subversiva na vida universitária da UBI dos anos 80

Esta crónica é uma crónica séria e tal como no passado, aborda uma temática
ainda hoje preocupante. Pretende retratar a influência das diversas fontes de
leitura subversiva na vida académica da UBI em meados dos anos 80.  É por isso
um tema polémico e controverso ou como dizem hoje, quarenta anos depois, um tema
“fracturante”, que para ser percebido na sua plenitude, deve ser enquadrado á
época.  Convém não esquecer que nessa época, volvidos apenas poucos anos após o
Abril de 74, ainda era algo que preocupava muita gente nos meios literários e na
sociedade em geral, e quando transportado para o meio universitário era ainda
menos gerador de consensos relativamente ao seu impacto e especialmente, quanto
ao tipo, natureza e conteúdo que se encontrava nessas publicações.  Sabia-se no
entanto que a censura estaria já “lá para trás”no tempo, algo perdida no antigo
regime e que sem censura, essas publicações proliferavam e se tornavam mais
diversas e transmissoras de mensagens de divisão e identificação de grupos da
sociedade capazes de actos subversivos. Era assim um pouco por todo o lado, mas
em particular na UBI. No entanto aqui era difícil identificar as correntes de
pensamento e ideologias mais vincadas nessa época de liberdades e de acesso ao
conhecimento universitário.  As razões para esse facto estavam relacionadas com
o isolamento da Beira Interior e por ser uma universidade ainda pouco conhecida
no panorama académico. Eram os tempos do ainda Instituto Universitário da Beira
Interior, onde pelo número reduzido de estudantes de então, e no longínquo ano
de 1985, a população universitária, já sendo originária de vários pontos do
país, constituíamos uma família com hábitos recatados e onde se comia na
residência académica quase melhor do que em qualquer restaurante da Covilhã
desse tempo, que também não eram muitos. Esses pequenos restaurantes muitos
deles alimentados pela frequência de estudantes universitários, rapidamente se
converteram em pequenas tertúlias de grupos de colegas, onde entre uma boa
sandes de panado, ou uma bifana e uma mini,ao balcão ou sentado,se difundiam
mensagens de completa subversão e boicote, frequentemente associadas á leitura e
partilha dessa literatura subversiva.  Nessa altura, e quando se esperava
identificar correntes ideológicas que estavam então na moda,na frequência da
Universidade ou nos bares e festas ou em locais de referência da Covilhã, cidade
também agitada socialmente com a revolução e no período após,para surpresa de
todos quantos frequentávamos a UBI, tal não era possível!Ninguém conseguia
identificar os Socialistas, os Comunistas, os Sociais Democratas, os de Centro
Direita, os de Extrema Esquerda, os Marxistas Leninistas, os do Partido A, B ou
C! Nada!!!Nem uma boa dúvida razoável acerca das preferências ideológicas ou
partidárias, ou qual a cor da militância de cada um! Dos professores nem falar
pois não era tema de conversa nem nas aulas, nem fora delas, nem nas revisões de
testes, quando “a coisa” azedava, nem do pessoal discente nada transpirava que
pudesse indiciar as suas preferências ou orientações! Parecia um absoluto vazio
ideológico!! Enfim, um paraíso do melhor pluralismo democrático!! Parecíamos
esquecidos nessa interioridade até nessa busca incessante de identificação
ideológica!  Nunca se ouviu chamar fascista ou capitalista ou qualquer outro
nome a ninguém que indiciasse a sua facção ou preferência política. Bom se
exceptuarmos um dia enquanto cruzava a parada e alguém gritou para um colega: ´Ó
cenourinha, olha que a biblioteca está fechada!!”, eu me viro e estava uma
colega de cabelo ruivo a caminhar na direcção da porta de acesso á
biblioteca. Por momentos pensei tratar-se de uma social democrata, mas ao
reparar na cor do cabelo apercebi-me que apenas premiava o seu gosto pela cor
ruiva de tão interessante colega universitária! Mais tarde tive um colega a
quem, antes da primeira aula chamavam de “O vermelho”, “Conheces o fulano, sabes
quem é?”, perguntavam-me! “Não”, respondia eu! ”É o ´não sei quantos´
“vermelho”!!. , diziam-me!!Julgava eu, bom quem tem uma alcunha assim deve ser
no mínimo um pequeno comunistazinho…! Qual quê!! Desenganei-me logo no primeiro
laboratório, quando mais uma vez constatei desafortunadamente que era mais um
colega com o cabelo ruivo, ainda que a alcunha de “Vermelho” lhe ficasse melhor
do que se chamasse “Cenourinha”, pelas razões óbvias de ser uma alcunha mais
macho, ou um ‘alcunho’, nesse caso!

Bom era este o panorama que se afigurava de total indefinição ideológica,
politicamente falando.E não que isso me preocupasse pois nunca liguei muito á
política, mas incomodava-me o facto de poder estar a conversar com alguém sobre
batatas e o meu interlocutor só gostar de arroz e feijões e cebolas! O que
naturalmente tornaria as conversas que pudéssemos vir a ter, na nossa
convivência académica de pelo menos cinco anos ou mais, bastante inócuas.
Afinal estávamos num ambiente universitário e esperava-se que as conversas se
tornassem mais intelectuais pois parece que íamos ser todos Doutores e
Engenheiros!  Se em boa verdade nada transpirava que ajudasse a conhecer as
orientações ideológicas de todos os “players” ubianos, já no que toca á
proveniência, era fácil de identificar uns quantos, por sinais emitidos durante
essas conversas, nos bares ou na entrada prás aulas e na fila para a
cantina. Por exemplo,sabia-se quem era do Norte ou especialmente da cidade do
Porto, por dizerem numa frase de cinco ou seis palavras duas palavras de grande
significância e muito populares nessa zona do país,do tipo: “Está um frio fdp,
car…o!” . Assim em apenas cinco palavras pronunciadas no seu musical
dialecto,sabia-se de onde vinha e um pouco da sua terra e da personalidade dessa
pessoa,bem como os seus gostos gastronómicos requintados bem vincados no amor
incondicional ás “tripas” e á “francesinha”. Eram um livro aberto que no entanto
não permitia levantar a ponta do véu em matéria de preferências ideológicas!
Neste enquadramento,era assim que se vivia na UBI de então, onde todos éramos
felizes e perfeitamente compatíveis em matéria de pensamento. Dividiam-se aulas
entre alunos e passavam-se as aulas ausentes,pelos colegas que a elas assistiam,
fotocopiavam-se sebentas e apontamentos dos mais aplicados, e sabia-se
exactamente quem eram. Eram precisamente os que não iam ás discotecas da zona,
de Segunda a Sexta, Sábado e Domingo, até ás tantas. Estes também se sabiam quem
eram e até o que consumiam no bar em quantidade e qualidade! Neste aspecto
também eram um bar aberto,… perdão um livro aberto! Que influenciavam outros
mais aplicados, de vez em quando a experimentarem os prazeres mundanos da vida
boémia! Já se vislumbravam aqui algumas correntes ideológicas e comportamentais
que revelavam algum inconformismo e aplicavam na sua plenitude os conceitos de
liberdade e fraternidade adquiridos com a revolução de Abril! Eram os primeiros
indícios de verdadeira subversão que de uma forma encapotada criavam condições
para a introdução de ideias menos concordantes com o ideal e conhecimento
universitário. Daí ao aparecimento das outras tendências manifestadas em
simultâneo, introduzidas pelo aparecimento da literatura subversiva.
Continuavam-se por isso a ver as subdivisões na academia: depois de
identificados os naturais do Porto, surgiam agora os certinhos, os tais que iam
ás aulas para os colegas, e os boémios subdivididos entre o grupo dos que
comemoravam as vitórias nos testes e as passagens ás disciplinas e o grupo dos
que comemoravam todos os dias sem que fosse necessário motivo. Estes também
comemoravam quando chumbavam ás disciplinas, sob a égide do princípio ideológico
e politicamente correcto do “beber para esquecer”. Aquela igualdade que todos
sentíamos quando pisámos a UBI pela primeira vez, como caloiros, dava assim
lugar á cisão em vários grupos, onde continuava a haver dificuldade em
distinguir qual a cor política de cada um! Também isso não era assim tão
importante, desde que Marxistas Leninistas, Sociais Democratas, Socialistas,
Centristas, etc, fossem todos ás mesmas festas da semana do caloiro e bebessem
todos Superbock do mesmo barril!  Com o decurso das primeiras aulas do primeiro
semestre,além das cisões já identificadas até então, assistiu-se crescimento
exponencial das divisões na academia com o surgimento de obras e publicações
subliminares e a sua difusão tentacular entre os alunos, professores e pessoal
não docente da UBI, fontes de actividades subversivas e geradoras de
instabilidade.  A periodicidade regular destas publicações e o então baixo preço
de aquisição, tornavam ameaçadora a sua rápida absorção e difusão dos conteúdos
atingindo todos os estratos sociais da população estudantil, docente e auxiliar
da UBI. A opressão anterior “pidesca” e de lápis azul,ainda bem vincada nos anos
posteriores á conquista de Abril, assumia contornos de revolta e de completa
subversão. Ao ponto de muita dessa literatura finalmente ajudar a perceber o que
até aí não tinha sido possível: - como a academia da UBI se dividia em termos
ideológicos!!  Se até aqui não tinha sido possível identificar nada mais que os
ideólogos do copo e da festa serrana e os marrões certinhos, agora passava a ser
possível uma identificação mais realista das várias correntes de pensamento e
das tendências de cada um!!

Vejamos então cada um dos sinais que permitiram essa identificação através dessa
literatura subversiva.Conhecidos através da metodologia de aplicação de um dos
princípios mais antigos de uma sociedade civilizada: - “Diz-me o que lês,
dir-te-ei quem és!”  E o que começou a aparecer na UBI desse tempo capaz de
gerar esses indícios e de a levar á subversão? A UBI vivia momentos tranquilos
até ao aparecimento de um quiosque bem em frente da entrada principal. Ponto de
passagem obrigatório de todos, mesmo dos que faziam a sua pausa no café do
Artur. Era o principal antro onde se distribuíam a literatura subversiva. O
Autosport era um dos principais manifestos. Semanal, saía então á terça-feira e
era então muito acessível! Havia guerras para conseguir um exemplar,pois era de
tiragem limitada. Especialmente em Março,época de Rali de Portugal.Sabia-se quem
eram os malucos dos automóveis pois até o reservavam semana após semana e o
coleccionavam. Entretanto mal o compravam liam-no avidamente, esquecendo-se
alguns até de ir ás aulas nesses dias de início da semana. Era assim um
documento extremamente subversivo, pois antes do Rali de Portugal ajudava a
planear a ida ao rali desses estudantes influenciáveis pelo gosto aos
automóveis, ao ponto de abdicarem das aulas durante uma semana para se meterem
em meia dúzia de carros e planearem longas viagens para ir ver o rali passar e
as longas vaquinhas logísticas para que tal fosse possível. A quem não era
bafejado com um exemplar, era-lhe lido o seu conteúdo ou emprestado “á sucapa”,
e levado para as aulas onde era lido nos fundos das salas mais concorridas. Não
podia haver nada mais subversivo e impactante nos desígnios universitários dos
Ubianos, pois além de distrair da aquisição das matérias leccionadas ao ser lido
no fundo da sala, também incentivava a faltar ás aulas nesse semestre e sempre
que o rali fosse perto! Ou a Rampa da Covilhã se disputasse! A sua natureza mais
subversiva é vincada ainda pelo facto de nunca se ter constado que nenhum aluno
tivesse aprendido mecânica por ávido consumo dessa literatura! Nem mesmo os de
Engenharia Mecânica! Mas era uma publicação de fácil leitura e quando
avistada,por descuido, ficava bem debaixo do braço de cada um ou mais
dissimulada na pasta do portátil ou no meio das sebentas de fotocópias da
Fiação, encadernadas na Associação. Era um documento tão subversivo que
corrompeu inclusivamente alguns professores do Departamento Têxtil que incautos
se deixaram influenciar para o seu consumo regular. E de outros departamentos
também! E o seu impacto ia mais longe pois terá sido várias vezes difundido o
conteúdo da sua mensagem ou partes dela, á população da cidade através de
programas sobre automóveis divulgados na rádio local, quando estas apareceram. O
único revés sofrido nesta onda de influência, aconteceu precisamente num desses
programas que ia para o ar á terça-feira á noite, quando um dia por falhas de
impressão a publicação não foi distribuída a tempo da passagem da mensagem, que
no entanto ocorreu da mesma maneira, mas com recurso ao improviso na melhor
aplicação da velha máxima “ a necessidade aguça o engenho”!! O Autosport esse só
apareceu nos quiosques e tabacarias no dia seguinte! Também não raras vezes esta
publicação levou a conflitos estudantis que lutavam por conseguir um exemplar
depois de correrem todos os pontos de venda da cidade. Não havia pois nada mais
subversivo que agora permitia a identificar mais um grupo restrito de pensamento
com uma tendência bem vincada, dentro da população Ubiana.Tão ferozmente
subversivo que no dia da primeira frequência de Análise Matemática I,um Sábado,
por causa da leitura do exemplar da semana anterior, enquanto o resto da turma
fazia o teste e tentava a sua sorte, eu e um outro colega estávamos á mesma hora
no Alto da Serra do Bussaco, num gancho a ver passar o Rali da Figueira da
Foz!Como passaram apenas dois alunos em cerca de centen e meia de colegas
examinados, acabei a concluir que foi uma falta bem empregue e sem danos maiores
rumo á conclusão do curso!Portanto uma subversão positiva!

Outro dois exemplares dessa literatura de “Intervenção” bastante marcantes das
tendências e ideologias vigentes na população estudantil eram a “Bola” e a
revista “Maria”. Nunca percebi o porquê de se considerar a “Maria” uma
publicação de literatura “cor-de-rosa”. Na altura quando ouvi esta referência
pela primeira vez, cheguei a pensar tratar-se de um manifesto Socialista, do
“partido da rosa”, portanto uma publicação com uma conotação ideológica política
evidente! Que no entanto não se confirmou,depois de ter folheado três exemplares
e não ver nada dessa cor! Havia muitas cores nas páginas, mas rosa não era uma
delas!Lendo um par de artigos na diagonal, também não me parecera que contivesse
referências ideológicas atribuídas ao socialismo, nem a qualquer outra de
natureza política! No entanto percebi mais tarde que influenciou o
desenvolvimento pessoal e o conhecimento de anatomia de muita gente estudante e
desenvolveu o seu pensamento científico,bastante útil para absorver as matérias
mais exigentes dadas em sala de aula nos mais diversos cursos.Também subverteu
alguns ubianos e ubianas que as liam no fundo da sala e ajudou assim á
identificação de mais um grupo ideológico: - os adoradores dos assuntos do
coração, que não queriam saber nada de carros. Diga-se em abono da verdade que
esta constatação chocou-me um pouco por verificar que nenhum dos elementos deste
grupo pertencia em simultâneo ao outro grupo!  Ainda que no seu apogeu
subversivo esta revista tenha sido utilizada para me forçar á conversão através
da leitura ininterrupta da Maria e outros manifestos similares, nas viagens que
fazia desde Viseu com um certo presidente da associação académica a recitar
continuamente e até á exaustão, a mensagem subversiva nela contida. Tal sucedeu
semanas a fio,o que me levou a pensar que seria ele um dos líderes dessa
facção. No entanto, a alternância com outro manifesto também ele alvo de intensa
leitura nessas viagens,o “Jornal do Incrível”, constatei que era apenas um
elemento afecto a essa ideologia, que adorava o “cor de rosa”, com a mesma
intensidade que adorava o “extraordinário”!Nunca mais me preocupei desde então
com a contínua pressão psicológica nessas viagens, e passou a ser mais uma coisa
do tipo “fazer a festa deitar os foguetes e apanhar as canas”, que todavia
comecei a notar que tornava as viagens mais curtas entre Viseu e a Covilhã!
Esta revista tinha no entanto a virtude inovadora de fornecer os primeiros
conhecimentos de Ginecologia,Psiquiatria, Psicologia e Sexologia ainda antes do
aparecimento dos cursos de Medicina da UBI, e a clarificar as dúvidas estudantis
acerca de vida sexual saudável, aos seus leitores através da análise detalhada a
respostas a questões como: “Dei um beijo ao meu namorado no passado
fim-de-semana! Estarei grávida?”, cujas conclusões ajudaram ainda ao
desenvolvimento de um pensamento crítico científico que,nalguns casos de alguns
alunos e conforme testemunhos recolhidos após o final dos respectivos cursos,
terá ajudado á sua conclusão e á sua consolidação como profissionais nas suas
áreas científicas de intervenção e ao seu desenvolvimento individual nestas
matérias!Portanto embora subversiva e muito importante para alguns, nem boa nem
má para outros,era uma lieteratura que não reunia consensos e dessa forma
contribuía ainda mais para a cisão da academia!  Para outros alunos,com quem
recolhemos depoimentos, confessaram-nos que o carácter subversivo da publicação
era acentuado por fomentar a desconcentração dos temas universitários e matérias
abordadas nas aulas, através de conteúdos profundos e extremamente apelativos á
criatividade! Também registámos casos de um ou outro aluno que faltou ás aulas
da manhã por ter estado a recitar partes da mensagem dessa publicação aos
colegas de quarto da residência enquanto apanhavam uma piela, que impossibilitou
que qualquer deles fosse ás aulas da manhã! No dia seguinte! Apesar da ressaca
ter sido suave por terem bebido apenas bebidas brancas a acompanhar os
amendoins!

Da mesma forma passou-se também a conseguir identificar os Lampiões por serem
aqueles que dentro da ideologia e do amor ao futebol e aos desportos com bola,
passeavam orgulhosamente o manifesto reaccionário de maior formato da época: a
Bola.Que na altura já não era muito acessível mas ainda assim amplamente
difundida! Que sofria a concorrência de outras publicações alternativas de
intervenção: o “Record”, e poucos anos mais tarde, o “Jogo”, o primeiro mais
identificado com os Anti-benfiquistas (como os do FCPorto) e o segundo com os
Sportinguistas. Ainda que todos os subvertidos pela Bola, tinham muitas vezes
que beber informação no Record por falhas constantes na distribuição ou faltas
para agradar a tanto futuro “bom chefe de família” – os benfiquistas!! A Bola
era seguramente um parente pobre da literatura da subversão, até porque se bem
que conseguia os mesmos resultados nefastos concorrendo para a baixa frequência
das aulas, sempre que havia jogos do Europeu ou Mundial, como tinha um formato
grande era mais difícil de esconder entre as sebentas para ser lido nas aulas na
3.1 ou no fundo de um anfiteatro qualquer. Diz quem a lia, que para não dar
muito nas vistas,só se liam as “gordas” e que o resto do conteúdo não era
importante, o que reforça o carácter de parente pobre da literatura de
intervenção desse tempo! Era no entanto uma publicação extremamente perigosa
pois chegou a gerar conflitos que degeneraram em chapadaria entre adeptos de
dois clubes retratados nessa edição!Só não foi necessário chamar a polícia de
intervenção porque os contendores acabaram em berreiro a alta voz a selar uma
aposta com um aperto de mãos a meio da descida para a residência, que pôs fim ao
conflito até ao fim-de-semana seguinte!  Percebeu-se que era uma publicação que
facilmente incendiava os ânimos, sem que na altura existissem programas de
televisão para esse efeito. Parente pobre da subversão, mas ainda assim bastante
perigoso! Era no entanto a literatura subversiva de eleição por ser a mais
representativa,pelo número de exemplares debaixo do braço visíveis,
especialmente quando a contagem era feita á entrada do bar ou sobre o passadiço
de acesso.  Sabia-se assim quem era do Benfica ou das outras congregações
futebolísticas,grupos de natureza aguerrida mas sem grau de organização elevado,
na UBI naturalmente!Já se conseguia assim chatear o parceiro ou o colega de
quarto com a mão bem aberta levantada, sempre que depois do fim-de-semana o
clube do outro levava cinco! Era outra forma de cortesia, mas provocadora de
conflitos que afectavam o quotidiano Ubiano!  A maior virtude desta peça de
literatura terá sido facilitar a integração de estudantes estrangeiros na UBI,
pois é sabido que nesse tempo alguns conseguiram entendera totalidade do seu
conteúdo ainda antes mesmo de aprenderem o português necessário á compreensão
das sebentas e dos conteúdos do curso. O devorar dessa informação fez pois
milagres pela aculturação de alguns deles, que sabiam tudo o que lá vinha
descrito até á última virgula até mesmo quem marcava os golos e descrever a
justiça da marcação dos “off-side”, mas não tinham a mais pálida ideia das
matérias contida nas sebentas das disciplinas!

Apareceu na altura um outro documento de ideologia vincado num pequeno nicho da
população estudantil, que se achava mais aculturada por ler o Blitz e ficar a
par de todos os concertos,críticas e lançamentos discográficos! Era um grupo no
entanto mais discreto e que não gostava muito de o emprestar e o tornar uma
leitura de massas!Tecnicamente, quem não lia o Blitz era um ignorante, até
porque antes de aparecer e ser vendido no quiosque em frente á UBI ou noutro
ponto de venda qualquer na Covilhã, chegava á UBI um restrito número de
exemplares, trazidos do Porto pelos alunos utentes da Rede de
Expressos.Assim,por viajar mais dissimulado era mais restrita a sua leitura e o
seu efeito subversivo mais controlado e restrito aos seus proprietários e a um
ou outro seu colega de quarto. Raramente havia discussões e chapadaria á volta
do Blitz, como havia á volta da Bola e do Record! Conclui-se por isso que foi
uma corrente ideológica passageira na vida académica da UBI, e de todas a menos
notada pela sua efémera passagem. Não fosse o facto de aquela malta usar umas
t-shirts “bacanas” que eram distribuídas com a publicação e que continuaram a
ver-se no ambiente universitário desse tempo. Até porque o seu preço disparou e
deixou de estar ao alcance de qualquer pequeno anarquista remediado que gostasse
de outra música que não a que passava na Rádio Covilhã ou no Oceano Pacífico da
Renascença! Estações devoradas á noite enquanto se estudava para os exames ou se
faziam os desenhos em perspectiva cavaleira, exigidos para fazer as disciplinas
de Desenho Técnico.  O pior deste grupo era acharem-se superiores por usarem
calças apertadas ao fundo. E mais inteligentes, o que, ao contrário do que esses
pensavam e para bem da harmonia do quotidiano universitário ubiano, os
professores e as disciplinas mais exigentes se encarregavam de nivelar! Não se
consta por isso que esta corrente subversiva gerasse acréscimos de QI! Ou bom
gosto a vestir!

Existiam algumas outras publicações também elas subversivas mas de distribuição
mais limitada e que identificavam nichos tendencialmente activos entre a
população universitária, São alguns exemplos as revistas de lavores e tricot,
que algumas alunas e alunos também compravam. De acesso restrito, marcavam as
elites mais habilidosas de mãos da Universidade, Até pelo seu preço elevado fora
do alcance de qualquer um até dos que compravam a Bola e equacionavam opções
sempre que esta falhava! Até porque já havia quem fizesse na família uso dessa
literatura e a utilizasse para fazer os enxovais dos casamentos vindouros, logo
após terminassem os seus cursos, onde pontificavam as grandes toalhas e naperons
bordados em ponto de cruz!Destas a “Fada do Lar” era das mais procuradas, o que
mostrava já uma tendência que poderia vir a descambar no futuro e obrigar a uma
revisão do enxoval! Era a corrente dos Indefinidos, que felizmente no caso de
alguns também liam o Blitz e sabiam onde era o próximo concerto! Não para fumar
umas coisas “que fazem rir” mas tão somente porque gostavam de música boa nos
ouvidos e não daquela que o “Open-end” ou os teares de pinças davam nas aulas
práticas!Ou as piadas secas extremamente rebuscadas e espremidas nas aulas de
Termodinâmica e outras disciplinas difíceis com elevado índice de reprovações,
com que alguns professores nos brindavam como forma de enaltecer a burrice
intrínseca de alguns companheiros de luta universitária!

Também afastavam gente das aulas pelas horas que demoravam a fazer qualquer
paninho que lembrasse as nossas avós! E que lhes afastasse a vista do quadro
onde a matéria era explicada, consumando a maior subversão de todas: -o
desinteresse pela disciplina e pela frequência das aulas.

Com a contribuição desta literatura altamente subversiva e desconcertante foi
assim possível identificar as ideologias e maiores correntes de influência
visíveis na UBI em meados dos 80. Alguns indivíduos ficaram tão marcados que
após a passagem na Universidade e face ao desaparecimento de muitas destas
publicações, procuraram encontrar eco para a passagem das mesmas mensagens nas
redes sociais, onde apesar da influência e divulgação ser maior, não permite o
coleccionismo dos exemplares dessas marcantes publicações! E convenhamos que o
formato em papel é que era bom, pois entre outras vantagens era usado como papel
higiénico nos quartos da residência, depois de devorada intensamente a mensagem
neles contida, como era o caso da “Bola” por ser um formato maior em papel mais
macio. O que acabava a torná-lo um manifesto mais económico e deixava antever já
princípios revolucionários de reciclagem e utilização sustentável, descobertos e
promovidos anos mais tarde com as políticas ambientais de sucessivos
governos. Ficava assim provado que no seu apogeu subversivo, essa publicação
também contribuiu para o desenvolvimento de uma consciência ambiental notável em
todos quantos a leram e lhe davam essa utilização!  Nunca mais a vida
universitária da UBI foi a mesma e ainda hoje muitos questionam como é que com
tanta influência ideologicamente subversiva ainda houve quem conseguisse
concluir o curso!


João Leonardo

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Baratinha contra os animalistas - vantagem de cá, vantagem de lá…



O Baratinha é um ilustre ubiano que anda sempre pegado com a malta vegetariana por causa da caça. É com a caça e com os touros, aquilo é um forrobodó no facebook que até faz faísca. Cada vez que o Baratinha posta um javali como troféu de caça a tropa anti-caça levanta-se toda em protesto e é um festival de ataques e contra-ataques, uma vez com vantagem de cá, outra vez com vantagem de lá, (como dizia Vasco Santana numa das mais notáveis cenas da “Canção de Lisboa”).
Eu já cheguei a propor, para pacificar as hostes, e a bem dizer agradar a gregos e troianos, que os caçadores fossem autorizados a dar apenas dois tipos de tiros. Clarificando, acho que a caça só devia ser autorizada quando um caçador desse um tiro liro liro, e o outro desse um tiro liro ló, e que depois se juntassem os dois à esquina a tocar a concertina e a dançar o só li dó. Mas a minha proposta foi liminarmente rejeitada por ambas as partes. Pelo Baratinha porque quando é p’ra caçar é p’ra caçar, não há limitações nem regras, não há cá tiro liro liro nem meio tiro liro liro, aquilo é carregar no gatilho e zás, mesmo nos cornos, e não há que ter pena porque o javali não passa de um arsenal de bifes com pernas. Pelos ativistas anti-caça porque os animais são seres sencientes e o sofrimento do animal é desumano, e porque além disso a concertina e as danças do só li dó causariam stress e medo nos animaizinhos em redor.
A velha guarda caçadora e carnívora e a nova vaga vegetariana e compassiva, não têm como se entender. O mundo rural que cria galinhas e porcos não sente a comoção que vem dos prédios e das avenidas, cheias de alfaces à mesa, e corta o pio a uma galinha com a mesma facilidade com que corta o pé a uma alface.
Com os touros é basicamente a mesma coisa, mas com uma estranha nuance. É que ambos dizem que amam o touro. Os anti-taurinos amam-no como amam todos os animais, e amam-no ainda mais por piedade. Os taurinos amam-no porque é um ser nobre e valente, porque é a alma da festa brava e encarna os valores mais sublimes da ousadia e da coragem. Aliás, mais do que amar, idolatram-no. É um amor diferente, digo eu, que ainda não perdi a esperança de um dia amar alguém espetando-lhes uma bandarilha nas costas. Aliás, não é por acaso que a bandarilha tem na ponta um arpão que a fixa: serve para o amor não desagarrar…
A disputa entre a ruralidade e a urbanidade não está para acabar. A rudeza dos matarruanos da província continuará a contrastar com a delicadeza sensível dos betinhos da cidade. As picuinhices da educação dos citadinos, muito preocupados com a etiqueta e as boas maneiras, não fazem escola no campo, onde uma bujarda bem tirada das nalgas por muito que cheire a estrume dá sempre vontade de rir. O carnivorismo e o veganismo meteram-se no meio dessa disputa, são questões não só de sensibilidade mas também de civilização. Olhe-se o ti Alfredo, um caçador de longa data que desconheço se alguma vez foi à caça com o Baratinha. Tenha ido ou não, a verdade é que ele e o Baratinha estão do mesmo lado da barricada, são de gatilho fácil e pontaria afinada, e não podem ver os animalistas nem pintados. Diz que um dia destes o ti Alfredo foi a um restaurante vegan, na zona mais beta de Cascais, só para armar confusão. Mal o garçon chegou ao pé dele, o ti Alfredo pediu, em modos de brutamontes carnívoro:

- Venha mas é p'ra cá uma bruta feijoada à transmontana para animar a festa abaixo das costas, que eu gosto é de fogo de artifício...
O garçon, um rapaz novo e sensível, começou a chorar. E o ti Alfredo não se ficou:
- olha-me esta libelinha, olha, olha..., tenho é que te levar à caça e à tourada, o que tu precisas é de ser desmamado...
E é isto, meu senhores, o campo há de andar sempre às turras com a cidade…

Gondri


quinta-feira, 18 de junho de 2020

Este aqui é o Tobias, o primeiro aluno cão da UBI, e do mundo.



Este aqui da foto é o Tobias, o primeiro aluno cão da UBI, e do mundo, que entrará no ano de 2035. E esta é a crónica tal como será escrita alguns anos depois.

CRÓNICA DO 1º ALUNO CÃO DA UBI.

O Tobias foi o primeiro aluno cão do mundo a entrar no ensino superior. Ingressou na UBl, em 2035, para o curso de Engenharia Civil (quando lhe perguntaram na praxe porque escolhera civil disse que era porque não queria ser militar. Claro que depois do inevitável balde de água fria que o deixou enregelado nunca mais voltou a armar-se em engraçadinho…). Podia ter sido um aluno brilhante, mas, infelizmente, perdeu-se porque se dedicou a interesses alternativos. As cadelas, as noitadas insones de boémia, o desleixo, o desapego aos livros, as muito más opções que tomou condenaram-no ao fracasso e à suspensão da vida académica. Deprimido e sem dinheiro, o Tobias ainda tentou continuar ao abrigo do estatuto de trabalhador estudante e foi admitido numa churrascaria da Covilhã, em horário compatível, para manter o lume das brasas aceso. Mas falhou redondamente na churrascaria porque o seu estado de profunda infelicidade não lhe permitiu a alegria de abanar o rabo, e assim o efeito de abano necessário à manutenção do fogo perdeu-se por inércia.
Os seus pais adotivos, dois tripeiros do Porto, desses que trocam os vês pelos bês, que o adotaram no canil de Beja para que ele nunca tivesse inbeja dos alentejanos, eram pobres e não tinham como ajudá-lo. Sem o dinheiro da bolsa (que perdera por falta de aproveitamento escolar), o Tobias teve que abandonar os estudos e deixou-os desolados. Desolados e zangados, porque, no fundo, sabiam perfeitamente que se ele não se tivesse baldado para os livros nada daquilo teria acontecido. Disseram que ele era tal e qual o pai - o pai biológico, bem entendido -, um pastor alemão que estragou a vida por andar metido com duas carraças que lhe chuparam o dinheiro todo e o deixaram na miséria. Apesar de não ser nenhum santo, o pai também não era mau cão, tinha é um azar danado, nada lhe corria de feição. Numa ocasião disse em público que tinha quatro patas - coisa normal num cão - e viu desde esse dia a sua vida a andar para trás por causa de uma denúncia anónima que caiu como uma bomba na sua reputação. O cobarde anónimo e mentiroso que o denunciou disse que ele tratava mal as suas quatro patas, que tinha um enorme desprezo pelo gado patum, que chegou mesmo a violar as patas com requintes de malvadez, que as penas andaram no ar e os gritos de "quá quá" atraíram um grupo de gays que vieram ao engano porque perceberam "cu há cu há". Foi uma acusação grave e perversa e o pai do Tobias bateu no fundo. Mas encheu-se de ganas e reergueu-se, viu-se e desejou-se para provar que era tudo um chorrilho de mentiras, chegou inclusivamente a submeter-se ao polígrafo com êxito, e, depois de muitas batalhas, conseguiu reabilitar-se. 
No entanto os boatos, por muito desmentidos que sejam, deixam sempre um cheiro a culpa que nunca sai completamente, e o Tobias já nasceu com essa culpa inocente herdada do pai. Era um cão com problemas, ninguém sabia se era por ser filho de quem era, se tinha a ver com a disposição dos astros no momento em que nascera, se era o destino, se era tão só obra do acaso, ninguém sabia. Se fosse um cão estável emocionalmente não se deixaria seduzir pela perdição, teria sido um aluno brilhante e chegaria ao fim com distinção e com o louvor de todos. Andava há bué de tempo a tratar-se com um psiquiatra canino que tinha feito de tudo para o equilibrar por dentro. Basicamente, segundo o psiquiatra canino, o problema dele era ser malhado, preto e branco, e vivia numa luta interior que o matava aos poucos por causa disso. No seu diagnóstico disse que ele tinha duas consciências, a consciência negra da parte que era preta, e a consciência branca da parte que era branca, e que a consciência negra acusava a branca de racismo, e que aquele conflito, dele com ele próprio, o consumia em lume brando. O psiquiatra andou a fazer-lhe psicanálise a ver se lhe encontrava no passado a raiz do problema, e só lhe encontrou uma raiz de pessegueiro e uma tabuleta a dizer “black lives matter”. Era óbvio que se tratava de um problema de dupla personalidade com racismo acoplado.
Os seus pais adotivos por um lado eram rígidos e não lhe perdoavam o falhanço académico porque achavam que ele falhara por culpa própria. Mas, por outro lado, tinham coração de manteiga e sofriam por ele, e só pediam a Deus que ele fosse ao menos um cão de caráter, que tivesse um comportamento exemplar, que não fosse ladrão. Sim, que não fosse ladrão, que ladrasse pouco, porque nunca se tinham esquecido dos conflitos com a vizinhança quando o rapazinho era ainda cachorro e ladrava toda a noite, “o seu cão é um ladrão, só ladra, ele que vá ladrar p’ró cara***”, e outros impropérios que se lembravam de ter engolido e calado da vizinhança encolerizada.
O psiquiatra canino que o tratou foi fundo na análise e, como já se disse, detetou um problema de dupla personalidade e auto-racismo, um caso em que coabitavam na mesma pessoa o racista e a sua vítima. Mas, segundo Zé Rodrigues, ex-colega de turma e o maior amigo do Tobias, o conflito interior com teor racista que o psiquiatra tirou da cartola era tudo uma grande treta, e atreveu-se a dizer que o homem não passava de um pseudo-intelectualóide freudiano a querer convencer os incautos de que toda a verdade estava enterrada no subconsciente. A interpretação mais clarividente e acertada pareceu-lhe ser a do especialista em psicologia animal, Dr. Diogo Cão (que, apesar do nome, não percebia nada de artes de marear). Diogo Cão escreveu no seu livro, “A ascensão e queda do cão Tobias”, o seguinte:
“Antigamente a expressão "vida de cão" servia para qualificar uma vida que não agradava a ninguém. Nessa altura o cão ficava na rua, ao frio e à chuva, comia restos (e eventualmente algumas verdascadas, se se portava mal), jogava numa divisão inferior. Ter vida de cão era ter uma vida pobre e desconfortável.
Mas com o advento do animalismo social o cão passou a ser mais do que pessoa, a ter privilégios de monarca, só com direitos e nenhum dever. Ter vida de cão passou a ser ter vida de lorde, ter tudo sem fazer nenhum. E foi isso mesmo que tramou o Tobias, a ideia de que tudo lhe viria às mãos, perdão, às patas, sem mexer uma palha”.
Zé Rodrigues subscreveu tudo o que disse Diogo Cão, e acrescentou que o Tobias era um calão e um boémio de primeira, sempre fora dos eixos. Convidara-o frequentemente para passar os fins de semana mais solarengos na sua casa de lazer lá para os lados do Tortosendo, e nunca a designação de “lazer” lhe pareceu tão apropriada como quando o tinha lá. Não fazia um corno, era um preguiçoso tão compulsivo que, se lhe apresentassem uma máquina em que bastava carregar num botão e aparecia tudo feito, dizia logo que não contassem com ele para carregar no botão.
Foi esse mesmo Zé Rodrigues que tirou esta foto do Tobias, esta anexa à crónica. Tirou-lhe muitas, disse, não foi só esta, e todas em posição de nãfaznada, como disse que se dizia na sua Beja natal. Mas, segundo ele, esta talvez fosse a melhor de todas as que lhe tirou em modo parasita. Vejam só o estilo do bicho, é a preguiça em pessoa, perdão, em cão. Aqui está ele, a beber a sua cervejola no maior relaxe, ociosa e desmazeladamente à espera dos tremoços. Acham que ele se dá ao trabalho de os ir buscar?! era o ias...

Gondri

segunda-feira, 15 de junho de 2020

O primeiro ubiano a pisar solo lunar

Esta crónica descreve a epopeia espacial do primeiro ubiano a
pisar solo lunar, a sua grande personalidade e as razões que
estiveram na base de tão grande conquista.

De seu nome Vasily Antonov Silva, homem de raízes humildes, filho
de um português emigrado e de uma cidadã de Leste,nascido e
criado até idade adulta no seu país de origem, foi dos primeiros
estudantes estrangeiros a beneficiar de um programa Erasmus. Na
altura quis o destino que viesse para a Covilhã, para a UBI, para
o início dos seus estudos universitários.Já nesse momento, a sua
forte personalidade e alguma frieza, própria da cultura do seu
país natal, faziam antever uma carreira brilhante, apesar das
dificuldades próprias de estar a estudar num país onde a língua
era claramente um obstáculo, a juntar ao idioma local.Mas afinal
quem era Vasily Antonov Silva e como é que se tornou o primeiro
ubiano a pisar o solo lunar? Hoje sabemos um pouco mais da sua
história, contada na primeira pessoa,numa entrevista dada a uma
rádio local onde lhe colocámos algumas questões, na qual se
consegue perceber como tudo aconteceu e teve esse magnífico
epílogo.

Vasily Antonov foi, nas suas palavras, uma criança com uma
infância normal, com os mesmos gostos de qualquer miúdo em fase
de crescimento. No entanto, as primeiras tendências para os
assuntos e temas relacionados com a conquista espacial, surgiram
quando se apercebeu que os pais estavam constantemente a ser
chamados á escola pela directora de turma, para serem informados
que estava sempre distraído e com a cabeça na lua, nunca reagindo
ás solicitações em sala, fossem elas as perguntas sobre a matéria
ou as picardias dos colegas de carteira! Tais comportamentos
indiciavam já muita concentração para outros assuntos e temas
menos terrenos! Era o primeiro sinal que algo de excepcional se
passava na sua mente. Ainda segundo ele, outro dos sinais a
confirmar esta tendência,residiu no facto de, enquanto criança e
até á tenra idade de oito anos, ter tido três mascotes a quem
curiosamente deu o nome de Laika I, Laika II e Laika III numa
clara alusão já á primeira cadela a viajar ao espaço. Mais tarde
e após o desaparecimento doloroso da Laika III,numa experiência
científica para avaliar a sua capacidade de voar,recebeu uma
outra mascote, a quem colocou o nome de Sputnik, por ter achado
que sendo um macho, o nome Laika IV não seria o mais
adequado!Mais espantoso em todos estes sinais é que nessa fase da
sua vida nem sequer tinha televisão em casa e raramente o pai
trazia um jornal para casa que não fosse para embrulhar a garrafa
de Vodka!Ainda assim, na sua mente já havia esta influência de
pensamento espacial, que segundo o próprio terá sido originada
aquando das noites que passava ao relento no telhado da sua casa
a olhar para os céus e a tentar contar estrelas ao mesmo tempo
que admirava aquele destino tão apetecido: a Lua!! O
Sputnik,entretanto, nas brincadeiras, viu o seu nome abreviado
para “nik” por ser mais fácil o treino em apanhar paus ou o disco
em época de praia! Há quem diga que este diminutivo esteve na
origem da marca “Nike” de acordo com as suas
palavras. Entretanto, também nas suas idas aos poços das Penhas
da Saúde , a pretexto de ir estudar para local mais aprazível e
calmo, quando o calor apertava com o seu grupo restrito de
colegas, enquanto estes iam a banho, já então Vasily apenas
ficava deitado na toalha a olhar o céu e a pensar o que estaria
para além daquela cor azul clara, enquanto esperava pela hora de
comer o lanche.Era talvez o maior sinal que indicaria a sua
grande apetência para “estar na Lua” e antevia o desfecho dessa
grande carreira profissional de astronauta que viria mais tarde a
abraçar! Ao mesmo tempo sabia que na Serra a cerca de 2000m de
altitude estava seguramente mais perto desse tão almejado
destino, o que o enchia de felicidade!

Bom, depois da sua infância e adolescência, vincada nos tempos de
liceu com a sua grande apetência para os temas espaciais, chegou
a altura de escolher onde prosseguir os seus estudos
universitários. Contrariando a crescente e reconhecida apetência
para a Astronomia e Astrofísica, chegou á UBI, e por escolha
própria, tendo escolhido apenas um curso no seu boletim de
candidatura: - Engenharia Têxtil. Segundo ele depois de muita
ponderação e em face da descoberta de que a Engenharia do Papel,
estava longe de corresponder aos seus anseios e aos dos seus
progenitores, pois originalmente pensava ser um curso da área
financeira. Amarguradamente a descoberta de que o Papel não era o
Papel Moeda, e o atraso entretanto acumulado para a formalização
da candidatura, tê-lo-á deixado sem grandes opções de escolha e a
Engenharia Têxtil foi a escolha óbvia, quer pela tradição da
Universidade e da indústria covilhanense, quer pela
pluridisciplinaridade do curso, com cadeiras desde a Matemática,
Física, Electromagnetismo, Termodinâmica e Química Orgânica só
acessíveis a grandes mentes ao serviço do seu claro propósito de
poder vir a enveredar por uma carreira na área aeroespacial!

Nessa entrevista confessou mesmo que não há melhor curso para
quem queira aceder a uma carreira espacial. No entanto após
alguns anos no curso de ingresso, decidiu, após a conquista de
tão difíceis cadeiras e num rasgo de pensamento visionário,que
fazia sentido a mudança de curso para Engenharia Aeronáutica,
pois sentiu necessidade de adquirir conhecimentos e ser preparado
para voar. Afinal a Lua era lá longe e só a tricotar panos, a
estampar e a tingir, não lhe parecia que conseguisse lá chegar um
dia!!

Assim, conseguiu reunir o melhor de um dos mundos (porque o outro
era a Lua, onde queria ir!) e com essa abordagem conseguiu
especializar-se em têxteis técnicos, para perceber como usar o
fato de astronauta e ao mesmo tempo em tecnologia aerospacial,
por reconhecer que seria muito útil para se poder candidatar a um
programa de uma agência qualquer espacial.

Também neste particular considera que a sua opção pela Agencia
Espacial Europeia foi determinante e muito importante neste
objectivo, pois no Ex-Bloco de Leste e nos Estados Unidos já
havia então muita concorrência para os poucos lugares disponíveis
na desejada viagem, e seria a única possibilidade de vir a pisar
o solo lunar! Também a relevância já não seria a mesma, por
carecer de novidade!

Como estudante, Vasily foi um estudante de comportamentos normais
e teve um percurso comum a muitos outros. Enquanto frequentou
ambos os cursos, ficou hospedado na residência académica, como
bolseiro, em virtude das suas dificuldades de estudante
estrangeiro e apesar de na altura não existirem propinas
elevadas,foi obrigado a trabalhar nas obras e a fazer uns turnos
da noite nalgumas fábricas ao fim-de-semana, para fazer algum
dinheiro, para poder viver, comprar mercearias, tomar o seu café
e frequentar a Número Uno onde bebia os seus Vodka Laranja, com
os quais matava saudades do seu país natal, como nos
confidenciou!Assume que não teve grandes relacionamentos
amorosos, pois entre as bebedeiras nas discotecas locais e a
frequência das aulas da tarde na universidade e as refeições,o
tempo que lhe sobrava passava-o a olhar para o céu e a pensar
como conseguir tamanho objectivo. Por isso, refere, não lhe
sobrava muito tempo para relações ou idas ao cinema. Agravado
também desde que descobriu os caracóis com panaché e as empadas
de frango do Café Primor ou da esplanada do Sporting da
Covilhã. Por isso o tempo era todo contado entre a prossecução do
seu objectivo e as prioridades que concorriam para esse mesmo
objectivo!.Não obstante, as suas marcas e classificações
académicas sempre revelaram a sua grande aplicação e
competitividade, que anteviam um futuro deslumbrante e só ao
alcance de muito poucos,á sua espera!O frio no Inverno também
ajudava ao estudo e lembrava-lhe os serões em família na sua
Dubrovnik natal e facilitou a sua adaptação ao clima da Beira
Interior!

Diplomado com distinção, mas antes ainda a frequentar o quarto
ano do curso de Aeronáutica, recebeu a primeira proposta para se
associar ao projecto de conquista espacial da Agencia Espacial
Europeia. Conhecimentos de base adquiridos, faltava saber se ele
próprio seria capaz de passar os exigentes patamares de um
projecto espacial, e particularmente os relacionados com os
testes físicos para tripulante de uma cápsula espacial! Neste
ponto, considera Vasily Antonov Silva, a sorte sorriu-lhe um
pouco pois na altura em que se integrou no projecto,este estava
ainda numa fase quase embrionária e a perspectiva de crescer
profissionalmente com o avanço do projecto ganhou grande
importância e foi determinante para conseguir chegar á Lua!Logo
no primeiro ano enquanto completava os seus estudos na UBI,entre
as frequências e exames, viajava constantemente ao
estrangeiro,para efectuar testes físicos, alternando com idas
frequentes á natação nas piscinas dos Penedos Altos e ténis no
Clube de Campo.E algumas aulas de boxe e “full contact” sempre
que ia ás discotecas da zona e se embebedava! Assim ganhou a
massa muscular necessária a que os testes físicos para astronauta
fossem passados igualmente com distinção, ficando aprovado para
integrar de pleno direito, a missão espacial.

Mas se esta fase estava conseguida, outras houve bastante
desafiantes e em que também participou e teve que se aplicar
activamente. Assim, o projecto estava de tal forma atrasado que
ainda pôde dar a sua contribuição para a escolha do nome da
cápsula espacial, tendo sugerido que não podendo ser
“Endeavour” (porque os americanos escolheram primeiro e
registaram o nome), se chamasse “Tremocious”, por analogia com o
outro marisco que começou a apreciar avidamente sempre que no
Primor acabavam os caracóis! Vasily confidenciou ainda que este
marisco foi aliás a principal razão que o fez ficar em Portugal e
na UBI, após o período do programa Erasmus ter acabado!A par dos
banhos na Lagoa do Vale do Rossim e do Covão da Ametade, em pleno
Inverno que ajudavam a atenuar as saudades da sua terra natal! E
a apreciar melhor o Vodka com Laranja nas Quinta-feiras serranas
no Uno! E que na sua opinião foram estas vivências que tiveram
especial relevância e grande importância para a conquista de tão
nobre objectivo por parte deste Ubiano! E de outros também, que
no entanto nunca foram ao Espaço!

A viagem ao solo lunar, essa, refere não teve “grande história”
ou dificuldades de maior, com excepção de alguns episódios
esporádicos que recorda, a maior parte deles passados nas fases
que antecederam o voo espacial e a sua preparação para o mesmo.

A aplicação dos conceitos das várias disciplinas e em especial do
Electromagnetismo, entretanto adquiridos nas Engenharias
frequentadas, Vasily compreendeu a sua importância, desde as
fases iniciais do projecto espacial, ao perceber numa manhã
enquanto tomava o pequeno almoço, que os recados colados na porta
do seu frigorífico e os procedimentos de operação no interior da
cápsula experimental de treino tinham o mesmo tipo de ímanes a
segurá-los. Finalmente as aulas de Electromagnetismo faziam todo
o sentido e além dos campos magnéticos e dos programas
informáticos em Basic, Pascal e Cobol desenvolvidos no fantástico
AS400 agora finalmente via a aplicação prática das matérias,que
lhe faltou quando frequentava a disciplina!!

Conta-nos que aprender a manobrar a cápsula espacial e o foguetão
até nem foi das tarefas mais difíceis!Para quem tinha aprendido a
programar a Shima do Departamento Têxtil, os procedimentos e
rotinas de viagem até foram bastante fáceis de assimilar e
executar.” - Era mais difícil fazer um cachecol com trança”,
confidenciou. No entanto os treinos de natação e o resto da
preparação física para passar os testes de voo foram mais
complicados. A necessidade de reduzir o peso para poder “flutuar
suavemente” dentro da cápsula e mais rapidamente aceder aos
comandos ou aos armários e para abrir ou fechar a cama, foi a
maior dificuldade!Por ter que cortar radicalmente com o consumo
de bifanas, finos e empadas do Primor, cerca de dois meses antes
do início dos testes! Refere que depois do treino e da sua
aprovação final,também sentiu grandes dificuldades quando,numa
fase posterior, o responsável da missão lhe perguntou o que
gostaria de comer durante a viagem ( a par da comida de síntese
já prevista comum aos restantes elementos da tripulação, a
Agencia previa incluir para cada elemento um “mimo” gastronómico
da sua nacionalidade, á escolha). Em resposta á pergunta o que é
que gostaria de levar para comer, respondeu: -uma garrafa de
aguardente de zimbro ia bem, e um queijo da serra, acrescentando
“Curado, não Amanteigado”! A dificuldade natural em resposta á
inesperada questão do director de missão, confessa que residiu no
facto de ter dúvidas sobre qual seria o comportamento do queijo
amanteigado, durante a viagem num ambiente de “gravidade zero”!
Daí a opção pelo Curado, por questões de maior consistência face
ao Amanteigado, variante que sempre preferiu nas entradas,
canapés, sandes e pequenos almoços anteriormente degustados nos
saudosos dias de estudante ubiano.

Para o local da partida da missão foi escolhido o Cabo da Boa
Esperança,por ter um nome mais de acordo com o espírito da missão
e mais fácil de traduzir para os restantes países (Cape of Good
Hope), como alternativa ao Cabo Espichel. E também porque havia
uma secreta boa esperança em que fosse uma realidade a viagem de
regresso.O lançamento da cápsula não teve problemas de maior,
tendo decorrido dentro da normalidade e na observância de todos
os procedimentos de viagem. Recorda aliás que o único percalço,
foi a escolha da hora exacta para o lançamento, pois os restantes
países parceiros da missão não reuniram o consenso sobre a hora,
mas sabia-se que teria que ser de manhã, para que se pudesse
chegar á Lua á noite, por estar mais iluminada e ser por isso
mais fácil de visualizar o local para uma boa e desejável
alunagem! Por isso algum atraso a verificar os últimos
procedimentos arrastou a hora de saída prevista inicialmente para
as 9:00 locais, para as duas da tarde,hora a que se deu o
lançamento.Como era a primeira missão, também não se sabia se
seria uma alunagem, uma aterragem ou uma amaragem, por não se
conhecer muito sobre o local previsto para a descida! Durante a
entrevista confessou-nos que isso o tinha deixado muito
desassossegado e bastante apreensivo. Daí a opção pela aguardente
de zimbro, até porque já estava farto de vodka das muitas noites
serranas, e afinal, não era ele que ia a a guiar!O medo do
desconhecido a juntar á emoção da descoberta, confessa que foi
sempre uma dualidade de sentimentos que o dividiu! Só
ultrapassável pela vontade e emoção da conquista de tão única
experiência espacial que sentiu durante toda a viagem! E pelos
longos tragos na aguardente de medronho, que á sucapa também
meteu no saco de viagem, sempre que o receio de que algo pudesse
correr mal, se manifestava!

Ainda assim refere como a decisão mais difícil que teve que tomar
na fase de preparação do vôo, o momento em que teve que decidir
sobre qual o símbolo que deveria escolher para juntar ao da
Agência Espacial, para deixar como marco indelével da sua estadia
em solo lunar! O seu coração dividido vacilava entre a bandeira
do seu país natal e a do país de acolhimento,refere.Conta que
após alguns dias de intensa reflexão, falou mais alto o
sentimento e reconhecimento da sua magnífica estadia na cidade e
na Universidade que o acolheu para os seus estudos e tornou
possível este honroso objectivo, a Covilhã e a UBI, e a escolha
tornou-se então óbvia e fácil. Iria levar uma bandeira que o
marcou profundamente nos tempos de estudante. E assim ficou
resolvido mais uma difícil escolha.



Quanto á viagem propriamente dita, refere, foi magnífica,pois
além do animado convívio a bordo com os seu dois colegas europeus
de missão, o comandante sueco Olav Olofsson e a franco-inglesa,
Mary Crescent, astronautas experientes e mais do que isso grandes
amigos desde as fases mais exigentes de treino, especialmente
depois de sair da atmosfera e após as 7 da tarde, ao começar de
escurecer e ao entrar no firmamento e com mais tempo para
desfrutar da soberba paisagem interestelar, após o cumprimento
dos procedimentos de arranque fazendo-o sentir-se “como em casa”
e um privilegiado pela oportunidade de aplicar nesta viagem todos
os conhecimentos e treino anteriormente adquiridos!E finalmente
conseguia ter algum tempo de relaxamento,onde pôde apreciar essa
magnífica paisagem e fazer alguns “bonecos” com a sua Polaroid,
para memória futura de tão épico momento!Lembra-se com saudade de
pensar como seria bom abrir a porta e sair para um passeio nas
estrelas, objectivo obviamente difícil de cumprir á velocidade da
cápsula!Ainda há dias numa entrevista a uma entrevista da
especialidade e como um homem da ciência e do pensamento
científico , assumia que essa restrição e impedimento sentido no
espaço o ajudaram a preparar para suportar e entender melhor o
confinamento imposto pelo Covid! Por se ter sentido mais preso na
cápsula do que em sua casa onde sempre podia ir á rua passear o
velho e fiel Sputnik!!Capacidade de análise que desenvolveu
grandemente na sua passagem pela UBI, de acordo com as suas
palavras!

Na chegada á Lua, os momentos que antecederam a alunagem, segundo
ele era também uma aterragem, como pôde confirmar pelo intenso pó
que se levantava no contacto com o solo ( também baptizado de “o
aLuno”, para não confundir com “o terreno”) e confirmado na
pequena caminhada que fez em solo lunar! Por decisão do chefe de
missão seria ele o primeiro a sair da cápsula e a pisar a
superfície lunar, levando consigo o marco histórico que seria
colocado para enaltecimento da conquista e memória futura.O que
fez de pronto assim que o comandante desligou os reactores e
finalmente com o fato vestido, esperou a luz verde acender para
abrir a escotilha e descer a escada para a superfície lunar,
dando início ao passeio espacial.Assim que pisou o solo,
confirmou que a alunagem havia sido um sucesso,pois foi perto da
dos americanos como inicialmente previsto. Ao olhar em redor
conseguia ver lá ao longe,e apesar da pouca luz,a bandeira
estadounidense que Armstrong tinha deixado em Julho de 1969. Com
a satisfação do dever cumprido no rosto começou a avançar na sua
direcção empunhando o pequeno poste com a sua ícone bandeira e
com a bandeira da Agencia Espacial. O caminho pareceu-lhe longo
pois feito a pé e com a gravidade zero tornou-se demorado e o que
parecia perto afinal era muito longe. Quando fala do tempo que
demorou na sua caminhada lunar, assume que já na Ubi, nunca foi
muito bom a calcular distâncias, o que entre outras coisas
impediu que chegasse a horas ás festas e que pudesse ser bem
sucedido na sua única tentativa de tirar a carta de condução!
Também pelo facto de ser muito difícil fazer o “ponto de
embraiagem”, nas íngremes subidas das ruas da Covilhã, que
adicionado a esse deficiente cálculo das distâncias inviabilizou
a passagem no exame! De qualquer forma,ao chegar próximo da
bandeira americana, achou descortês retirá-la pois eles foram os
primeiros, mas rapidamente encontrou um local perto, menos
pedregoso, onde finalmente espetou o poste com a bandeira da
missão e a sua escolhida, dos Leões da Floresta, colectividade
que segundo refere o marcou muito nos tempos de estudante Ubiano
pelas longas horas que aí passava a jogar pingue-pongue nos
intervalos das aulas de laboratório que frequentava e dos
relatórios que tinha que redigir.

Depois de alguns ensaios e recolhas de amostras para estudo e as
selfies da praxe, que ocupou a tripulação durante três dias, (o
tempo previsto, de acordo com o calendário da missão), foi
iniciada a viagem de regresso que decorreu conforme esperado e
sem outros acontecimentos relevantes.Com excepção do facto de
que, de volta á Terra, por ligeiros problemas nos sistemas de
navegação, a amaragem não aconteceu próximo da Foz do Rio
Minho, (só para chatear os espanhóis que não se quiseram associar
ao projecto), onde estava previsto acontecer, mas sim ao largo
das Berlengas, tendo sido prontamente confirmado pelo comandante
Olofsson, após avistar o voo de uma cagarra através do postigo da
cápsula já insuflada.Um pequeno erro de cálculo na trajectória
que no entanto não comprometeu minimamente o sucesso da viagem!

Foram recolhidos por aquilo que pensava ser um “destroyer” da
armada portuguesa, mas que depois de uma análise apurada
verificou ser um rebocador oceanográfico pois apesar dos seus
parcos conhecimentos sobre a marinha de guerra (adquiridos a
jogar batalha naval na residência,pela noite dentro
covilhanense), achava pouco provável a existência de uma grua num
navio de guerra!Conta-nos que mais tarde durante uma conferência
e quando se referia a este final de viagem,alguém o interpelou
até num tom que considerou um pouco ofensivo e
injurioso,confirmando que não existem “destroyers” na marinha de
guerra portuguesa, pelo que acabou a admitir que, a não ser um
rebocador poderia bem ser um bacalhoeiro de um dos portos da
zona!  Refere ainda com emoção que após a chegada ao Cabo da Boa
Esperança, e depois de despir o fato e passar na câmara de
descompressão, quando lhe perguntaram o que sentia nesse
instante, ter referido o frio,fome e que as suas primeiras
palavras numa frase bem articulada gramaticalmente foram: -
“Agora ia mesmo era uma bifana do Primor e um par de finos com
groselha”! Frase que indubitavelmente mostra o grande Ubiano que
ele é!

Vasily Antonov Silva, por este grande feito, é hoje
orgulhosamente recordado e homenageado por esse marco histórico
da conquista espacial,personalidade mundialmente conhecida nos
meios científicos e aeroespaciais, onde tem dado desde então,
inúmeras conferências e escrito artigos de elevada relevância
científica. Pessoa recatada e na sua infinita humildade, é também
apelidado de “Primo Basílio”,carinhosamente,com especial
incidência na família….. ou entre amigos de “Toni Silva”, homem
de reconhecidos méritos e grande capacidade intelectual,
proeminente escanção e dono de um paladar de gastrónomo
apurado!”Tudo isto”,diz,”apenas se tornou possível graças ao
tempo que passei na UBI e na Covilhã”.

Testemunho de experiência de vida universitária que tem
recomendado desde então aos seus descendentes directos e filhos
de amigos mais próximos.

A este propósito e na mesma entrevista, em jeito de conclusão,
ainda teve tempo de apontar as razões do seu crescente amor pela
vida na UBI, quando questionado sobre que outras razões tornaram
possível a sua forte paixão e apego á vida universitária na
Covilhã e se acreditava que se tivesse estudado noutro qualquer
país ou Universidade teria acedido a esta conquista espacial, foi
peremptório em afirmar que não, pois não achava que as pessoas
que mais o influenciaram e fizeram com que permanecesse e
concluísse os seus estudos pudessem existir noutras
universidades.Clarificando este aspecto acabou a referir-se a
algumas personagens que o influenciaram positivamente nesse amor
á vida na UBI, como um célebre companheiro de residência, também
aluno de Engenharia Têxtil,que constantemente interpelava os
outros alunos e alunas na fila para as refeições da cantina,com
dúvidas existenciais de elevada acutilância e que contagiava
todos em seu redor com as suas efusivas gargalhadas. Com ele, diz
que aprendeu a adquirir espírito de humor, (assume que quando
chegou á cidade era muito sisudo e de semblante carregado), e
aprendeu a reflectir sobre o absurdo e as mais ínfimas causas de
um problema e a desenvolver o espírito crítico necessário para
ter uma boa desenvoltura no programa espacial.A par da
elasticidade mental e a argúcia para ultrapassar os testes
psicotécnicos iniciais, para acesso ao programa. Vasily Antonov
considera que sem essa influência marcante teria sido quase
impossível a concretização deste sonho de viajar até á Lua.

Surpreendentemente ou talvez não, ficámos assim a saber que por
detrás deste feito estiveram personagens como essa e como os
demais colegas de carteira, que durante as aulas de laboratório e
a pressão sentida nas praxes académicas do seu ano de caloiro,
ajudaram ao desenvolvimento de um pensar científico que se
revelou bastante útil para esta conquista, a quem ainda hoje
agradece pelo grande companheirismo e contributo dado para a
conclusão da sua formação universitária, e que refere, sem eles,
não teria conseguido nunca sair da Terra! Ou frequentar lugares
míticos como o English Bar no Fundão ou o Clube de Campo da
Covilhã!! Ou os Bairros dos Penedos Altos e Santo António em
época de santos populares, onde entre as risadas e os pezinhos de
dança com as colegas e as quadras dos manjericos, descobriu que
“broa” não era apenas o nome dado a um dos seus exigentes
professores, mas o magnífico e saboroso pão de milho que
acompanhava as sardinhas e o caldo verde! Grandes experiências
sensoriais que não existiam na sua terra natal, refere !! A voz
da humildade e da gratidão de um grande Ubiano, o primeiro a
pisar o solo lunar, desbravando para as gerações vindouras o
caminho árduo da conquista espacial europeia.

João Leonardo

sábado, 13 de junho de 2020

A importância da sinuosidade das nádegas do caloiro na conformação em hélice da molécula do ácido desoxirribonucleico




Quando cheguei pela primeira vez à residência universitária de Santo António a veteranada estava toda de garras afiadas à espera dos caloiros. Não tenho aquela memória apurada que vejo que alguns colegas meus da altura ainda têm, os pormenores já se me evaporaram no éter do tempo. Mas lembro-me basicamente que aquilo foi durinho, tomei banho de água fria vestido, tive cama à espanhola, além de que, sem tábuas por baixo, o colchão só parou no chão quando me fui deitar. Fui humilhado, ostracizado e vilipendiado q.b, fui tratado abaixo de pessoa. Na perspetiva dos veteranos eu não era um praxado fácil, achava piada a tudo, e considerando que um dos princípios filosóficos da praxe era desanimar o caloiro, comigo o falhanço era total. Se calhar até ainda levei mais no cachaço por causa disso…
Entretanto o tempo passou, naturalizei-me veterano, e chegou a minha vez de praxar. E só vos digo uma coisa, se o meu juízo final depender da forma como me portei com os caloiros, vou direitinho para o céu. Eu não fiz aos caloiros um milésimo do que me fizeram a mim, não os maltratei, não os assustei, não lhes infligi nem a mais levezinha das dores. As praxes que fazia eram para veterano rir, e se alguma coisa de facto eu infligia aos caloiros era a humilhação intelectual de mostrar ao mundo como eles eram burros. Praxe era sessão de gargalhada, e, se no início os caloiros se sentiam intimidados por não saberem o rumo que aquilo ia levar, por fim até já se soltavam e entravam na festa.
No fundo as praxes consistiam numa sessão de perguntas e respostas, e sempre com aquela ironia sádica tipo “você não sabe uma coisa tão cagativa, caloiro?!..., porra, que você é mesmo burro!...” Pelo meio vinham aquelas perguntas sem pés nem cabeça, tipo quantos litros de flatulência à pressão atmosférica é que o Bocage libertava por dia e se eram mais ou menos do que as torradas que o Shakespear comia ao pequeno almoço…
Além do sarau hilariante de perguntas e respostas, vinham depois as composições que o caloiro tinha que escrever subordinadas a um determinado tema. Normalmente o caloiro tinha vinte e quatro horas para redigir o seu texto. Levava o tema num papelinho e lá ia ele com a obrigação de se apresentar no dia seguinte com a sua composição escrita. Escusado será dizer que os temas eram verdadeiras aberrações, e eu ficava sempre na expetativa de ver até onde chegava a imaginação dos caloiros. De todos os temas com que os desafiei há um que nunca mais esqueci (aliás até o incluí no meu livro das paranóias). Pegue lá, caloiro, amanhã quero ver isso. Assim que lhe pus o papelinho nas mãos e ele viu o que o esperava, ficou com cara de morto. Tinha que dissertar à volta do tema “A importância da sinuosidade das nádegas do caloiro na conformação em hélice da molécula do ácido desoxirribonucleico”. Só me lembro de ele me dizer, desanimado, “não consigo”. “Tem que conseguir, caloiro, senão tá lixado!”, respondi à veterano mau.
E no dia seguinte o coitado do caloiro lá me trouxe o seu texto.  Triste e desolado, disse-me primeiro, para me preparar para a desilusão: “foi só o que consegui”. E eu olhei para a folha de papel e estava lá apenas isto: “A sinuosidade das nádegas do caloiro é muito importante para a conformaçãso em hélice da molécula do ácido desoxirribonucleico”. Desmanchei-me a rir a bandeiras despregadas. Ainda não tinha parado de rir e já estava a intervalar uma investida verbal com as gargalhadas, “você é mesmo burro ó caloiro, zurre lá”. O caloiro nada. “Vá lá caloiro, zurre”, “zu quê?”, “então você não sabe o que é zurre?”, “eu não”, “então você não conhece o verbo zurrar?”, “ah, zurrar conheço”, “então…”, “e eu é que tenho que zurrar, é?”, “não, queres ver que sou eu…”. O caloiro achou piada àquela minha estocada final e, deixando escapar um sorriso, deu três ou quatro zurradelas e pôs toda a gente a rir, ele incluído. Aliás, o único talento que mostrou foi o de zurrador…
Em suma, as minhas praxes eram inócuas e engraçadas. E, deixem-me alimentar o ego, acho que até os caloiros ficaram com saudades...

Gondri


quarta-feira, 10 de junho de 2020

Serenata na UBI





Recordo-me de uma serenata que um grupo de guitarristas e cantores da academia de Coimbra fez na UBI. Já não me recordo em que ano foi, só sei que em todo o meu tempo de estudante essa foi a primeira e a última vez que assisti ao vivo a uma serenata a sério. Fiz algumas às meninas da residência feminina, com voz de cana rachada e sem acompanhamento, e quis a providência divina que me tenha sempre livrado de uns bons baldes de água fria, já para não dizer de um jato vermelho de tomates podres porque, felizmente, a tomatina de Buñol, Valência, nunca foi para ali exportada. 
A serenata de Coimbra na Covilhã, na UBI, foi uma noite de emoções. Não sei se em Coimbra tem mais magia, dizem que sim, que tem “mais encanto”. Mas só posso dizer que aquela mexeu comigo, entrou por mim a dentro e encheu-me de poesia.
Quando cheguei ao quarto a comoção já tinha abrandado, já me tinham passado os arrepios e a pele de galinha. Mas cheguei com a vontade de escrever ao rubro, e foi um ar enquanto me desaguei no papel e escrevi estas palavras que relembro sempre que a saudade as chama:
Isqueiros acesos na noite (como velas em conventos míticos e distantes), o balanço penetrante do gemido das guitarras, vozes quentes e doces em direção aos céus, alguém ao nosso lado que não contém as lágrimas, e uma vontade de ficar ali eternamente, a sofrer a melodia, embalado pela serenata…”.
São estes momentos que nos enchem a alma.

Gondri

sábado, 6 de junho de 2020

ó prof Lucas, o programa de colorimetria não corre!

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Às vezes ponho-me a andar para trás no tempo a ver se me salta da memória qualquer coisa que mereça a pena ser contada, que não seja palha para conversa. E foi assim que me surgiu uma história curiosa que se passou na cadeira de Colorimetria, com o prof Lucas.
Os computadores ainda davam os primeiros passos. A turma dividiu-se em grupos e cada grupo tinha a tarefa de fazer o seu programa, em linguagem Basic. O professor Lucas, que se tinha doutorado na América e sabia a potes de linguagens de programação, era o professor da cadeira.
Quando eu e os colegas do meu grupo acabámos o trabalho, fomos ao computador para correr o programa. Mas o programa dava erro. Verificámos tudo na expetativa de encontrar alguma passagem menos lógica, alguma contradição, qualquer coisa que pudesse justificar a inoperância do programa. Mas nada. Continuava a não correr.
Depois de tentarmos tudo, e já desiludidos com a nossa performance informática, fomos ter com o professor Lucas, “o programa não corre, professor, não sabemos porquê”. O professor deu-lhe uma vista de olhos e disse imediatamente, “tem que correr”, e nós de resposta, “pois professor, tem que correr mas não corre”, “então vamos lá ver se corre ou não corre”, disse. E lá fomos nós com o professor. E o programa não correu.
Já algo impaciente, o professor Lucas voltou a confirmar a lógica das instruções, passo a passo, e estava tudo bem. Só encolhia os ombros, olhava para nós com cara de surpresa, “não percebo, isto está tudo bem, o programa tem que correr…”. Já estava de todas as cores, uma pilha de nervos, e quanto mais vezes olhava para o programa mais vezes se irritava. E assim ficou por largos e largos minutos, cada vez mais convencido de que só lhe restava desistir.
Até que, de súbito, soltou-nos um riso tépido, e, apontando para o erro, disse, incrédulo, “e ninguém vê isto?!”. E ficámos todos, ele incluído, com cara de parvos a olhar para o óbvio.
O cérebro humano tem esta característica de não se dar bem com os extremos, nem com o que é demasiado difícil nem com o que é demasiado fácil. Ao demasiado difícil não lhe chegamos porque está alto demais, ao demasiado fácil não lhe ligamos, passamos por ele e não o vemos.
O professor Lucas, que sabia demais daquilo, focava-se é na construção do programa, na lógica da linguagem, tentava perceber alguma incongruência que confundisse o computador. Mas, por mais que se debatesse com o monstro, a verdade é que daquela vez não saía dali.
Até que, já em desespero de causa, lembrou-se finalmente de olhar para onde ninguém olha: para a numeração dos passos do programa. Como sabemos as instruções são numeradas, vide ex. seguinte:

1Ø  LET X= …
2Ø  IF X = … THEN …
3Ø   etc…
4Ø   etc…

ora, sem darmos por ela, tínhamos trocado a sequência dos números, e aquilo que devia ser 1Ø, 2Ø, 3Ø, 4Ø,…, sempre em ordem ascendente, num determinado ponto da sequência estava trocado (é óbvio que ao fim de tanto tempo eu não me lembro em que ponto da sequência é que a coisa estava trocada, mas imaginemos que em vez de estar 4Ø, 5Ø, 6Ø, estava, por exemplo 4Ø, 6Ø, 5Ø. Por muito certas que estivessem as instruções, é óbvio que o programa não podia correr.
De facto faltou-nos ali um ignorante que, não percebendo nada de programação, se focasse na única coisa que percebia: a numeração. Às vezes é preciso ser burro para ver o óbvio. Tinha-nos resolvido o berbicacho…

Gondri


quinta-feira, 4 de junho de 2020

ó professora, onde é que está o vibrador?..


Laboratório Agitador Magnético Misturador De Laboratório de ...


Um dia, numa aula prática de Química (não me perguntem que Química é que era, qual era a professora, quais eram os colegas que estavam comigo…, não me lembro de nada), dei uma bronca das grandes, e nem dei por ela…
Um dos artefactos que se usam para mexer as soluções são aqueles agitadores magnéticos que giram e fazem o mesmo efeito que mexer com uma colher, ou coisa assim. Chamam-se agitadores (ou misturadores?!), mas, não sei o que me passou pela cabeça, pensei que se chamavam “vibradores”. De facto faziam vibrar a solução, misturando-a, e só me veio à mente chamar-lhes isso. Mas juro que o fiz na mais pura inocência, sem nunca associar ao lado erótico da palavra. “Ó professora, onde é que está o vibrador?”, perguntei alto e bom som. Lembro-me perfeitamente de a professora não me ter respondido e de eu estanhar o seu silêncio. Voltei à carga “ó professora, o vibrador, pode dizer-me por favor onde é que está?”. E nada, a professora continuou a ignorar-me e eu sem perceber nada do que se estava a passar. Vi logo que algo de anormal estava a acontecer, a professora tinha ouvido perfeitamente o que eu dissera, não era surda nem eu mudo, e eu tinha falado alto e bom som. Aquilo não podia ser só distração dela.
Até que alguém dos meus colegas se encostou a mim “não é vibrador, é agitador, assim ainda assustas a mulher…” , e rematou com um risinho sarcástico. E foi só nessa altura que eu finalmente desci á terra e compreendi o incómodo da professora. Claro que não lhe disse nada, apenas passei um pano sobre o assunto e não voltei a chamar vibrador ao agitador. Ela também nada disse, ficou tudo no segredo dos deuses e do silêncio. E ainda hoje não sei se ela achou que eu tinha dito aquilo de propósito ou se tinha sido apenas um lapso…

Gondri

terça-feira, 2 de junho de 2020

Covid paranóico na UBI... ou será que era a lady Gaga?



Parece que houve um surto de covid paranóico na UBI. É um vírus que ataca o esfincter, eriça os pelos, e dá assim uma sensação estranha nos intestinos tipo uma bicha solitária a recitar um poema do Fernando Pessoa. O primeiro ubiano a ser infetado tinha comido grelos ao almoço mas isso revelou-se perfeitamente irrelevante, e ele acabou a dançar, todo desconchavado, tipo marioneta epiléptica, cambalhotas p'ra trás e p'rá frente e piruetas enroscadas num varão, salto empranchado e queda de cabeça mesmo em cheio num pudim flã...
Mas o pior nem foi isso, o pior foi quando chegou a boa pinga, aquilo é que foi ter visões de peixes voadores passando-lhe a rasar à cara, visões de peixes das profundezas oceânicas a explodir quando chegavam à superfície e não suportavam a vertiginosa diminuição da pressão, e faziam puumm quando explodiam, e as vísceras caiam-lhe em cima como bátegas de peixe mole projetadas p'las pás de uma ventoinha,...
Eh pah, mas o bonito e o belo foi quando apareceu aquela gente doida que anda por aí com a veia toda picada de alucinogénios… não vos digo nada, às duas por três a coisa descambou para o surreal e aquilo já parecia a hélice de um porta-aviões a girar em círculos velozes e concêntricos, e ficou tudo num reboliço gigantesco..., e como se isso não bastasse ainda apareceu aquele bicho maluco a cantar "I'm the Scatman" como quem bate claras para as pôr em castelo no tempo recorde de 5 segundos, ou menos...
Se não perceberam nada do que leram nos parágrafos acima não se preocupem, também não era para perceber. Por acaso fui eu que escrevi, mas quem me inspirou foi um licenciado em heroína que estava a ouvir “I’m de Scatman” nos headphones, já só com um terço do corpo p’ra cá do precipício e atordoado pela música pirotécnica. E claro, foi uma inspiração à moda do carago, altamente escanifobética... 
(Não sei se este breve trecho dá para eu tirar o mestrado em psiquiatria, mas desconfio que não...)

Gondri 



segunda-feira, 1 de junho de 2020

Um dia com o Doutor .…..diferente!!....

Bom, a pedido de “várias famílias” vou contar a história de um dia diferente
passado na companhia do Dr. Mário Tavares na prática do seu desporto favorito: a
pesca.  É uma história onde se poderá apreciar o lado mais desconhecido do
Dr.Mário, pessoa com quem tive o privilégio de privar fora do ambiente
universitário, na condição de seu vizinho na rua onde vivíamos na Covilhã.
Assim a história sendo longa, começa por esse facto. No final do primeiro ano de
curso, a convite do meu colega Vasco Marques, acabei a mudar de casa da
Residencial S. João onde morava juntamente com o Pedroso,o Dinho e um par de
outros colegas, para a “única rua plana da Covilhã” (como carinhosamente lhe
chamava), tendo assim ido parar na casa ao lado da família Tavares.Que tinham em
comum com o Vasco, o facto de serem naturais da zona de Vale de Cambra, que por
essa razão já conhecia o Dr. Mário Tavares.Cedo por isso começámos a conversar
aos fins de dia, nos varandins do terraço fronteiro da sua casa ou em breves
conversas de circunstancia sempre que nos cruzávamos a entrar em casa.
Naturalmente a nossa amizade foi-se desenvolvendo nas interessantes conversas
que ia tendo com o Dr. Mário, pessoa de grande cultura geral e simplicidade, ao
mesmo tempo que o ia conhecendo no seu lado mais profissional, enquanto começava
a ter as primeiras disciplinas com ele. Sempre com o respeito que a relação
professor-aluno impunha, e pela quantidade vasta de conhecimentos que o
Dr. evidenciava e que eu valorizava pelo facto de nos meus tempos de liceu ter
sido um aluno da área de Quimicotecnia, portanto com apetência para absorver com
facilidade todo o seu vasto conhecimento das matérias que o professor leccionava
nas suas disciplinas.  Não obstante esse grande respeito pelo Dr. Mário
Tavares,investigador têxtil e professor universitário, tínhamos conversas sobre
outros temas que agradavam a ambos, especialmente como agricultura, construção
civil, ou temas similares.  Numa dessas conversas de fim de dia e a propósito de
passatempos, o Dr.Mário pergunta-me se gosto de pesca, ao que lhe respondi,
rindo que pesca para mim, só no prato! O Doutor desarmado começa a rir e
pergunta se eu nunca pesquei antes. Digo-lhe: “Até hoje já tive um par de
experiências de pesca, mas não fiquei muito cliente pois na última dessas
experiências fui pescar para o Douro, á cana e passei um dia numa escarpa
inclinada nas margens com dificuldade em me equilibrar para evitar cair ao rio,
quanto mais para lançar a cana. Além de que foi um dia de aborrecimento e entre
três pessoas pescámos dois peixes apenas! Portanto a minha experiência de pesca
ficou arrumada nesse dia!” O Doutor Mário ria-se despregadamente com a
narrativa, logo ele que tinha sempre um ar mais sério, julgava eu! Bom, diz-me
ele, realmente para pescar é preciso ter paciência! Ao que lhe respondi: Ó
Dr. Mário, eu paciência tenho, mas admito que se calhar tive azar nessas duas
vezes, mas os “pescadores profissionais´” com quem fui ainda tinham menos
paciência do que eu!  Bom o Dr. começou a tecer elogios á pesca, pois era o seu
passatempo preferido e dizia-me! Sabe eu gosto é da tranquilidade de um dia de
pesca, se bem que ás vezes a companhia também não ajuda! Diz-me então que
costumava ir com um amigo, mas que esse amigo deixou de ir porque perdeu o
interesse, e que nos últimos anos ia sempre sózinho!Daí ao convite foi um
instante: “Ó João, você não quer vir comigo á pesca na próxima vez?Eu costumo
pescar numas pequenas lagoas e represas ali para os lados de Portalegre! Vai ver
que se vier vai gostar e que vai apagar essa experiências menos boas!”. “Ó
Dr. Mário,até gostaria, mas eu nem sequer tenho equipamento”, digo-lhe eu.  “O
João, eu levo o equipamento e tudo o que precisamos e até o almoço. A menos que
você queira comer alguma coisa diferente”. Digo-lhe eu: Ó Dr. eu não sou
esquisito, mas então vamos, até para que o Doutor não vá sozinho! É mais uma
experiência e certamente não irá correr pior que as anteriores! Na próxima vez
que for diga-me um par de dias antes para eu estar a contar e me preparar”. Dito
isto, o Doutor Mário só se ria, mas ficou então combinado para daí a um par de
semanas, num Sábado. “Ó João, mas olhe que temos que sair cedo!”..,
disse-me.”Não tem problema eu consigo levantar-me cedo. A que horas é que é para
sair?”  Responde-me: “Lá para as 3 ou 4 da manhã, pois ainda temos algumas horas
de viagem até chegarmos ás lagoas”. Pergunto: Então e o que vamos
pescar?...”Achegans”, diz-me. Alguma vez pescou achegans? .Penso eu,
“Achegans!??Que raio são achegans?!”, era a primeira vez que ouvia falar nesse
nome!! “E que peixe é esse Sr. Doutor?”!. “É um peixe pequeno muito saboroso”,
diz-me ele! “Está bem, não conheço, mas é mais uma novidade, para você ver que
grande pescador eu sou!”,rematei eu, rindo e a pensar no que me tinha metido,a
sair ás três da matina!  Não imaginava eu o dia de pescaria que aí vinha!
Continuando, chega ao dia e lá estamos nós a sair ás 3:30 da manhã, Toyota Hiace
carregada com duas canas de pesca, bóias, “tupperware” com o isco, cesta, sim
“cesta de vime” com o almoço, lanche,e bom vinho da sua produção valecambrense!
O dia prometia, e na altura, apesar de eu já ter muitos quilómetros feitos ao
volante da sua Toyota Hiace,por outras razões que para aqui não interessam,
eh,eh,eh,,o Doutor estoicamente fez toda a viagem até ao local onde íamos
pescar. Bem, o local era simplesmente paradisíaco, uma pequena lagoa muito para
além de Alcains, acho que não muito longe de Portalegre, que nos levou três
horas de viagem para lá chegar. Na altura não havia A23 nem A nenhuma!, foi tudo
pela antiga estrada nacional e distritais, desde a Covilhã até ao local, numa
viagem “non-stop”, pois nem que quisessemos depois de Castelo Branco não havia
onde parar, nessas estradas do interior! Nada de comodidades,de cafezinho pelo
caminho, nem de parar para esticar as pernas. Para surpresa minha, assim que
chegámos ao local,cerca das 6 da manhã, o Dr. Mário tira da cesta um termos de
café, e antes mesmo de prepararmos a “faina”, tomámos um cafezinho com uma
sandes de queijo que a mim me “souberam pela vida” e finalmente traziam algum
conforto ao estômago para enfrentar a manhã de pesca!  Um nascer do sol
maravilhoso e um dia que prometia ser de muito calor, começava-se a ver os
contornos da pequena lagoa e aí estávamos nós a prepararmo-nos para iniciar a
pescaria. Calções de banho vestidos, o D. Mário diz-me que a água está óptima e
que vamos para dentro da lagoa!”Ò Doutor, para dentro da água, como? A lagoa
está cheia de lodo, ainda me afundo e nem sei nadar!È muito perigoso.Eu vou é
ficar a pescar na margem, numa sombra naquelas árvores, digo-lhe eu!”.O Dr. a
rir diz-me, então se você fica na margem não vai pescar nada! Não tenha medo que
a lagoa não é funda, isto são lagoas de regadio e não são fundas. Com um bocado
de sorte a água nem chega aos joelhos. Venha lá daí, que não tem problema. Até
porque eu vou levar o isco para lá e se ficarmos próximos é mais fácil”. Bom, se
tem a certeza que não há problema vamos lá. Acabámos de preparar as canas de
pesca e vejo três anzóis em cada uma. Pergunto: Ò Dr. vamos pescar com três
anzóis?”. “Sim”, responde, “isto aqui são peixinhos pequeno e assim há mais
hipótese de pescar mais. Você vai ver que quando começarem a sair são uns atrás
dos outros e não temos mãos a medir!”. A rir digo-lhe eu incrédulo: “Isto vai
ser bonito vai, logo eu que nunca pesquei nada na vida, mas se o Doutor
diz…. Vamos lá!!.  Entramos na água e lembro-me que mesmo ao entrar estava
bastante agradável, morna, por se tratar de água parada. Continuamos os dois até
quase meio da lagoa.A água dava pela cintura!. Diz ele: “Então ó João,não lhe
disse, que tem sempre pé! Vamos lá então ver o que isto dá! Você sabe põr o isco
no anzol?”.... “Ó Doutor, acho que sim..” - digo-lhe eu a rir - Apesar da pouca
experiência não deve ser difícil!Passe lá as minhocas!!  Bom, pensava eu que
eram minhocas grandes, das gordas, que vêm da terra húmida.Qual não é o meu
espanto quando vejo umas pequeníssimas minhocas, muito fininhas mais parecidas
com centopeias.Como os anzóis eram três e pequeníssimos,tiro a primeira, levou
algum tempo a processar, mas lá foi, tiro a segunda, e essa já foi mais difícil,
e olho para o Doutor Mário, que já estava a lançar e a rir-se que me dizia:
“Então você demora? Consegue ou não?” Respondo:”-.Isto é mais difícil do que
estava á espera, mas sim, só me falta uma”. Acabei de enfiar o último anzol
lançando e o Dr. Já estava a tirar achegans,que ainda se estava a rir enquanto
eu estava a olhar para a cana. Diz-me ele: “Está á espera de quê, ó João?” Que o
peixe “pique”, digo eu”! O Doutor: “Nada disso, aqui o peixe é muito pequeno e
quase não se sente picar”Se está á espera comem-lhe o isco e você não pesca
nada! È lançar esperar um minuto ou dois e puxar!” “OK, vou experimentar como
você diz”. E não é que a coisa funcionou, pois puxo e já trazia dois peixes nos
três anzóis.  Diz o D. “Tire o peixe do anzol e ponha neste saco á cintura que
quando estiver cheio vamos á margem por no balde!”. “! Digo-lhe ”OK”e começo a
tirar os peixes do anzol!  Á falta de “treino” dificultado pelo pequeníssimo
tamanho do peixe, depois de o tirar do anzol, o primeiro cai á água! O Dr. a
ver, começa a rir-se á gargalhada e diz:Assim estamos tramados, se você os deixa
cair á água depois de os tirar! Tem que o segurar bem, enquanto roda o anzol e
lho tira da boca!” E continuava a rir-se enquanto eu tirava o segundo, que com a
promessa de não falhar, lá correu melhor e lá entrou peixe para o saco. Momento
para voltar a pôr isco nos anzóis, desta vez,também a correr mal,mais uma
operação demorada meto a primeira “minhoca”. O Dr. a ver o meu ar desajeitado,
continuava a rir e a gozar perguntava: “Então ó João você já acertou com isso ou
quê?”.  Começava a ficar um pouco farto da demora e da minha falta de destreza
no manuseio de tanta coisa escorregadia, as minhocas, o peixe e o cuidado
extremo com os anzóis, decido escolher as maiores para os dois últimos
anzóis. Meto-as com rapidez tal, que o Dr. estranhando me disse:-“Já conseguiu?
Mostre lá isso!” Caminho dois passos na direcção dele e orgulhoso mostro-lhe os
anzóis com o isco! “Claro, eu não lhe disse que ia conseguir?! O Dr.Mário deixa
de rir e com um ar carregado e visivelmente chateado diz-me: “Você não pode por
um isco desse tamanho no anzol, senão não temos isco para o dia todo e o peixe
come o isco que sobra no anzol e não morde! Tem que as cortar ao meio se forem
desse tamanho! Senão daqui por umas horas não temos mais isco!”A continuar
diz-me: “Ó João, é melhor ficar aqui mais perto de mim, e eu preparo os seus e
os meus anzóis. Você só tem que lançar para o lado oposto do meu, puxar e tirar
o peixe do anzol!” . E foi assim que fizemos. A manhã correu bem, tirámos ambos
peixe com fartura e aquilo era um gozo, pois realmente era lançar, esperar um
par de minutos e puxar e lá vinham mais três agarrados. Á hora que parámos para
almoço, e apesar dos peixes serem pequenos já tínhamos o balde quase
cheio. Almoçámos, descansámos uma meia horinha numa sombra e cerca das 2 da
tarde voltámos á carga, para dentro de água. Estava um dia de verdadeiro calor
alentejano, seco, mas aí dentro de água já mais confortáveis para continuar a
pescaria pela tarde! Á tarde a história repetia-se com achegans e mais achegans
ás dúzias a encher não só o balde como um saco que pusemos dentro da cesta do
lanche, e lá continuávamos. O peixe era tanto, que por volta das 7 da tarde já
eu estava fartinho de ver peixe e da pescaria.Dentro de água continuava-se
óptimo, mas já eram muitas horas a pescar. Nessa altura pergunto ao Dr. se ainda
íamos pescar por muito mais tempo, e a que horas estava a pensar regressar: A
resposta dele: -“ Ó João então agora que isto está a ser bom você quer ir
embora? Então ainda há luz para mais um par de horas, lá para as 8 e meia ou 9 é
que o sol se põe! A essa hora vamos”!! Digo-lhe:”- Senhor Doutor, para mim são
muitas horas na água em pé, já nem sinto as pernas, eu vou sair e dar por
terminada a minha pescaria!”.Diz-me: “Então você já está cansado? Está bem, eu
ainda vou ficar mais um bocado, enquanto “estiver a sair”!  Julgava eu que após
o sol se pôr estaria a pesca acabada! Afinal o “ficar mais um bocado” continuou
além do crepúsculo, mal se via a não ser com o magnífico luar que estava nesse
dia e o Dr continuava no meio da lagoa , “na maior” descontracção a lançar e a
tirar peixe até ás 10 da noite, hora em que finalmente se decidiu voltar á
margem! Eu já “esfumava” por todos os lados, com uma “seca” de três horas á
espera na margem, a dizer mal da minha vida só de pensar que ainda havia pelo
menos uma viagem de cerca de duas horas e meia até á Covilhã!  A viagem, apesar
do cansaço visível do Dr. Mário e da minha oferta para dividir a condução ao
passar por Alpedrinha, que de pronto foi rejeitada,(não sei ainda hoje se por
falta de confiança do Dr. na minha condução!), não teve grande história. Fomos
conversando para manter a atenção na estrada, sobre a pescaria que tinha corrido
bem, (segundo o Dr. tínhamos pescado “mais de dez quilos de achegans”) e de
outros temas agrícolas ligados ao campo espaçados por alguns silêncios mais ou
menos longos que me deixavam um pouco apreensivo, pois era tarde e ambos
estávamos já acordados há cerca de 21 horas!Mas não houve “nada de maior” e o
Dr. parecia controlar a condução apesar do cansaço!A passar o Fundão diz-me
rindo: Então você nunca comeu achegans!!. Respondo-lhe: “Não, a menos que tenha
comido alguma vez sem saber”. Então desta vez você vai ver que saboroso que é
apesar de ser pequeno! Deste tamanho, come-se tudo, nem as espinhas se
tiram!.Desta vez você vai comer,fritos, e levar alguns para por na
arca”.Digo-lhe a rir: “Não sei posso até nem gostar!!.”  Nisto chegamos a casa,
eram quase 1 da manhã e eu ajudo o Dr. Mário a levar o equipamento para casa, o
balde e o saco de peixe, a cesta do lanche,etc. etc e digo-lhe:”Bom Sr. Doutor,
até amanhã e obrigado pela companhia e pela experiência” Diz-me ele: “Onde é que
você vai? Então não fica para comermos o peixe?” Respondo-lhe:”Agora, senhor
Doutor?!!Então isso não era para amanhã?!” Não, é só mais meia horinha e era
agora que eu estava a falar enquanto estão frescos!A minha mulher já os vai
preparar!”. Eu já incomodado e estafadíssimo, digo-lhe:”Então Ó Dr. mas agora
vai acordar a sua esposa a esta hora para nos vir fritar achegans??!Então não é
melhor ser amanhã que é domingo?”.. “Não,ela ainda está acordada porque nunca se
deita antes de eu chegar! E eu já estou a ficar com fome! Não incomoda nada e
não demora!” “Ó Doutor mas não vá incomodá-la! Amanhã comemos isso se me quiser
convidar! Agora já é tarde!.”, retorqui-lhe. “Não demora nada, venha para a
cozinha que já vamos comer!”, responde-me!

E foi assim que terminou a história de um longo dia de pesca, a comer achegans e
beber bom vinho á mesa com o Dr. Mário e a esposa!. Ás duas e meia da manhã
entrei na casa ao lado, exactamente 24h depois de me ter levantado para essa
“aventura”,que acabou por ser um dia bem passado apesar de cansativo e do
enfadonho do Dr. Mário com a minha falta de habilidade a pôr o isco no anzol!
Esta foi uma de duas ou três grandes histórias que eu passei privando com o
Dr. Mário Tavares, grande e humilde pessoa e mais do que um professor
universitário dotado de um grande conhecimento técnico uma excelente pessoa
desse tempo que também sempre me mereceu um grande respeito e estima e de quem
guardo por isso gratas recordações!  As outras histórias guardo-as para mim
especialmente uma famosa viagem com ele,de boleia até Viseu em que o
Dr. resolveu puxar dos galões (eh!eh…) e ensinar-me diversas maneiras de curtir
azeitonas, além das que eu conhecia, pela minha vivência no campo, com o Dr. a
“destrocar” receitas de química, a começar ao passar no alto da Senhora do Carmo
e ininterruptamente até que me deixou á porta de minha casa em Viseu!Essa foi de
antologia e sem que sentisse a falta da rádio na Toyota Hiace!!Eh!eh!eh! Belos
tempos esses! E um grande abraço para o Dr. Mário Tavares que já não vejo há
mais de 25 anos!


 João Leonardo