quarta-feira, 24 de junho de 2020

Baratinha contra os animalistas - vantagem de cá, vantagem de lá…



O Baratinha é um ilustre ubiano que anda sempre pegado com a malta vegetariana por causa da caça. É com a caça e com os touros, aquilo é um forrobodó no facebook que até faz faísca. Cada vez que o Baratinha posta um javali como troféu de caça a tropa anti-caça levanta-se toda em protesto e é um festival de ataques e contra-ataques, uma vez com vantagem de cá, outra vez com vantagem de lá, (como dizia Vasco Santana numa das mais notáveis cenas da “Canção de Lisboa”).
Eu já cheguei a propor, para pacificar as hostes, e a bem dizer agradar a gregos e troianos, que os caçadores fossem autorizados a dar apenas dois tipos de tiros. Clarificando, acho que a caça só devia ser autorizada quando um caçador desse um tiro liro liro, e o outro desse um tiro liro ló, e que depois se juntassem os dois à esquina a tocar a concertina e a dançar o só li dó. Mas a minha proposta foi liminarmente rejeitada por ambas as partes. Pelo Baratinha porque quando é p’ra caçar é p’ra caçar, não há limitações nem regras, não há cá tiro liro liro nem meio tiro liro liro, aquilo é carregar no gatilho e zás, mesmo nos cornos, e não há que ter pena porque o javali não passa de um arsenal de bifes com pernas. Pelos ativistas anti-caça porque os animais são seres sencientes e o sofrimento do animal é desumano, e porque além disso a concertina e as danças do só li dó causariam stress e medo nos animaizinhos em redor.
A velha guarda caçadora e carnívora e a nova vaga vegetariana e compassiva, não têm como se entender. O mundo rural que cria galinhas e porcos não sente a comoção que vem dos prédios e das avenidas, cheias de alfaces à mesa, e corta o pio a uma galinha com a mesma facilidade com que corta o pé a uma alface.
Com os touros é basicamente a mesma coisa, mas com uma estranha nuance. É que ambos dizem que amam o touro. Os anti-taurinos amam-no como amam todos os animais, e amam-no ainda mais por piedade. Os taurinos amam-no porque é um ser nobre e valente, porque é a alma da festa brava e encarna os valores mais sublimes da ousadia e da coragem. Aliás, mais do que amar, idolatram-no. É um amor diferente, digo eu, que ainda não perdi a esperança de um dia amar alguém espetando-lhes uma bandarilha nas costas. Aliás, não é por acaso que a bandarilha tem na ponta um arpão que a fixa: serve para o amor não desagarrar…
A disputa entre a ruralidade e a urbanidade não está para acabar. A rudeza dos matarruanos da província continuará a contrastar com a delicadeza sensível dos betinhos da cidade. As picuinhices da educação dos citadinos, muito preocupados com a etiqueta e as boas maneiras, não fazem escola no campo, onde uma bujarda bem tirada das nalgas por muito que cheire a estrume dá sempre vontade de rir. O carnivorismo e o veganismo meteram-se no meio dessa disputa, são questões não só de sensibilidade mas também de civilização. Olhe-se o ti Alfredo, um caçador de longa data que desconheço se alguma vez foi à caça com o Baratinha. Tenha ido ou não, a verdade é que ele e o Baratinha estão do mesmo lado da barricada, são de gatilho fácil e pontaria afinada, e não podem ver os animalistas nem pintados. Diz que um dia destes o ti Alfredo foi a um restaurante vegan, na zona mais beta de Cascais, só para armar confusão. Mal o garçon chegou ao pé dele, o ti Alfredo pediu, em modos de brutamontes carnívoro:

- Venha mas é p'ra cá uma bruta feijoada à transmontana para animar a festa abaixo das costas, que eu gosto é de fogo de artifício...
O garçon, um rapaz novo e sensível, começou a chorar. E o ti Alfredo não se ficou:
- olha-me esta libelinha, olha, olha..., tenho é que te levar à caça e à tourada, o que tu precisas é de ser desmamado...
E é isto, meu senhores, o campo há de andar sempre às turras com a cidade…

Gondri


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