Enquanto o "novo casalinho" lá atrás recuperava das emoções fortes devidas às latinices, o resto da malta fazia contas à vida, tentado estabelecer um plano de trabalho para os próximos dois dias.
Ninguém tinha escapado às tarefas que a Andreia ia atribuindo. Isto não ia ser só ver passarinhos e passarinhas e não se fazer mais nada! Havia que montar as tendas, escalonar as pessoas para as refeições, quem ia lavar a louça, quem acendia fogueiras, etc. Uma espécie de "The Survival" passado no Covão. As "sortes" tinham ditado uma boa distribuição de tarefas mas o que nelas sobressaíam eram dois aspectos que eram de suma importância: Nem pensar deixar a Carla ao pé de comida e, muito menos, permitir que o Chico ateasse fogo onde quer que fosse. Tirando estas condicionantes todos aceitaram as suas tarefas sem resistência. As restrições impostas à Carla só fizeram com que ela amuasse e passasse algum tempo de mono enquanto que o outro mostrava um semblante como quem não percebeu o porquê de tal proibição.
O Chico a.k.a. "O Pívias" é um moço do Pínzio, ali ao pé da Guarda. Tem tanto de ingénuo como de humilde com uns quantos pózinhos de perlimpimpim em rasgos de inteligência que a todos não passam ao lado. Do nada é capaz de virar uma situação adversa a seu favor. Mas também é capaz da maior estupidez que se possa imaginar. Colocá-lo por conta das fogueiras tanto poderia ser sinónimo de uma boa fogueira para aquecer o pessoal durante dois dias, como de pegar fogo ao país inteiro. Não adiantava arriscar. Entrou em Sociologia, vai tendo um percurso com alguns altos e baixos mas vai-se safando. Já está no 2º ano. O problema do rapaz é que, de tão trapalhão e inconstante, as miúdas afastam-se mais depressa dele do que se diz "Pó". Por vezes lá se vai aliviando quando apanha uma "incauta" que ainda não o conheça minimamente. O que normalmente lhe traz uns amargos de boca, pois o rapaz é igualmente pródigo em estragar tudo num abrir e fechar de olhos. Durante uns tempos achou que os preservativos usavam-se frente e verso, com lavagens a escovilhão pelo meio e não raras vezes, no inicio da sua saga sexual, pendurava-os no fio da roupa para secar ao lado das peúgas, para disfarçar. À custa da brincadeira andou uns tempos "ao-tio-ao-tio" porque em algumas companhias, as menstruações andavam atrasadas sem se saber muito bem porquê. Mas, até nisto, as cegonhas teimavam em não aparecer, o que se pode concluir que, até nestes termos, o rapaz lá ia tendo uma pontada de sorte. E das miúdas nem se fala. Por não se ter lembrado de levar companhia, vai dormir sozinho numa tenda. O que o está a deixar à beira de um ataque de nervos.
A "Sherman" é a Carla. É um tractor. Ficou carimbada com essa alcunha mal partiu uma porta ao entrar nos serviços académicos há dois anos para se matricular, porque parecia trazer duas pessoas numa só. Chamar anafada àquilo é quase um elogio. A miúda é como o boneco da Michelin só que ampliado e com um peso a fazer inveja ao mais encorpado dos alunos da UBI. Porém é muito inteligente e muito divertida. O que rapidamente a popularizou no meio académico. No entanto tem um senão. A Carla costuma levar marmitas de comida para as aulas teóricas. Lanches do tamanho de duas refeições. Que vai comendo sempre que os professores se viram para o quadro ou estão fora do seu raio de acção. A moça não tem uma ténia. A moça "É" a ténia. Veio de Castelo Branco para cursar Gestão. No gozo, os colegas dizem-lhe que no dia em que tirar o curso, emagrece. E vira top model porque a miúda até tem uma carinha laroca e um corpinho que, para já, só o photoshop pode prever e/ou manipular. Segundo rezam as boas línguas, é a loucura total debaixo dos lençóis. As más, dizem que ela ainda é virgem. O que não corresponde à realidade, porque a miúda é a fogosidade em pessoa. Mas nunca fica por cima. Vai compartilhar a tenda com a Micaela.
O "Lupas" é o Zé Remígio. Veio de Tavira. É o gajo com menos saudades de casa e dos que mais longe vive dela. Em três anos de Covilhã, foi a casa só nos Natais e nas férias grandes. Durante este tempo, perdeu o sotaque algarvio e só fala em "covilhoco". Quando vai ao Algarve ninguém o entende. Mas isto não lhe faz confusão, já que os algarvios têm dificuldade em compreender tudo quanto fala português. Usa uns óculos de lentes garrafais, daí a alcunha. Cursa Gestão e é dele de quem se diz ter uma paixão assolapada pela Andreia. Ela sabe disso mas não sente nada por ele além de uma boa amizade. Ele não sabe disso e acha que a "Tomada da Bastilha" está por uma questão de dias ou horas. Anda nisto há dois anos. O que não faz dele a pessoa mais bafejada pela inteligência na Universidade. Ainda para mais porque a moça vai a casa todos os fins de semana ter com o namorado e o "Lupas" acha que ela se recolhe em casa (na Covilhã) para passar os cadernos a limpo, ritual que este respeita religiosamente. Apesar de meio ensandecido, já vai no terceiro ano com algumas cadeiras por fazer do primeiro, fruto de uma boa dose de vida boémia e muito maior em cerveja. Ele e o "Pombinhas" juntos dão cabo de qualquer bar minimamente abastecido. Continua virgem "como o aço" à custa da platonice. Sabe que vai para a mesma tenda que a Andreia e, à custa disto, já nem sabe como se chama.
A "Sargenta" - Andreia veio de Tancos e é uma miúda gira que se farta. Tem um porte atlético de fazer inveja a um praticante de alta competição. E esconde um corpo de modelo fotográfico. Do alto dos seus cento e oitenta e três centímetros, por onde passa, deixa tudo e todos a olhar para trás. Ninguém sabe ao certo se a alcunha se deve à sua estatura se ao facto de ter vindo de onde veio. Coincidentemente ou não, é um dois em um. Sabe que o "Lupas" lhe arrasta a asa constantemente, andam quase sempre juntos por todo o lado mas já está prometida a um gajo de Leiria que estuda em Santarém. No entanto diz sempre ao colega ubiano que ela é virgem, só para o picar. Nasceu no inicio de Setembro. Ela, o "Lupas" e o "Pombinhas" são os mais avançados do grupo, academicamente falando. Está em Têxtil e só chumbou a Álgebra no primeiro ano. Esta cadeira é o elo que a liga à caloirada aqui presente. Partilha a mesma tenda que o "Zé Remígio" mas com um separador de arame farpado e electrificado para evitar avanços.
O "Pombinhas" veio de Pombal - daí a alcunha, dizem - e foi o primeiro "bff" do "Lupas" na Covilhã. Vivem no mesmo apartamento. Dormem no mesmo quarto. Comem lado a lado na cantina. Apanham tremendas borracheiras ao mesmo tempo e gregam em sintonia e - pasme-se - quase conseguem produzir melodias enquanto o fazem: os chamados "cantos gregorianos". Menos quando o "Lupas" sai para ir "seduzir" a colega de Têxtil ou para que o "Pombinhas" possa ir às aulas do 3º ano de Electromecânica. Quando vai. No meio académico, o "Lupas" e o "Pombinhas" são conhecidos como "os testículos da UBI" por andarem sempre juntos. Alfredo, de nome de baptismo, treina - quando sóbrio - num ginásio local e adora fazer escalada e caminhadas em trilhos montanhosos. Num fim de semana como este, é a melhor bússola que todos podem ter, no caso de se acabar o vinho e ter-se de ir às compras. Divide tenda com o Osório.
Dominic é um luso-belga "radicado" na Gafanha da Nazaré e agora caloiro de Química. Também cognominado de "Franciú" é o espalha brasas do grupo. Bem disposto, acaba por se manifestar como a parte mais extrovertida do grupo. Com ele por perto há animação garantida. É um gajo que, fazendo jus ao curso, gosta de provocar reacções. De tal forma as provoca que testou-as na "veterana" que o praxou, a Marina. A coisa correu de tal forma bem que neste momento, é mais outro casalinho que não se larga e que analisa constantemente as salivas um do outro. A Química entre eles foi de tal forma explosiva que não houve nem haverá calculo estequiometrico que o explique. Aquela junção de "Poirot" com a "Katia Aveiro" é como uma reacção ácido-base: Dá sempre qualquer coisa a mais que só a água que transpiram. Tal como o famoso detective, detesta que lhe digam que é um "franciú" mas já se habituou tanto à alcunha que já nem liga. Ouvir o Dominic a falar é razão mais que suficiente para passar uma noite às gargalhadas, muito por culpa da fusão dos sotaques que lhe saem boca fora (belga + gafanhão + covilhoco). É a besta negra do Chico, pois antecipou-se ao beirão na conquista da madeirense, o que deixou bastante fodido. Agora toleram-se mas sem grandes intimidades. O Dominic ainda o goza com a situação, coisa que deixa tanto a Marina como o Chico ainda um pouco irritados, mas nada que uns beijinhos não ponham uma pedra no assunto. Na Marina, claro. E lá fica o Chico agarrado ao pau a chorar sempre que esgana a cobra cega. Como seria mais do que óbvio, partilha a tenda com a sua mais-que-tudo.
Marina, também conhecida como Berlaitadas é uma moça madeirense que foi parar à Covilhã por engano. Um "erro informático" trocou-lhe as voltas e em vez de a mandar para Lisboa para a Católica, recambiou-a para cá. Ainda tentou, em vão, repor a ilegalidade burocrática mas poucos dias após a recepção ao caloiro conheceu o gafanhão e rendeu-se "às evidências" cagando de alto para a capital. Disse aos pais que tinha encontrado outra vocação. Ninguém sabe ao certo como é que ganhou aquela alcunha, o que ainda hoje lhe gera algum desconforto. E ao Dominic então nem se fala. Mas como neste aspecto, quando a alcunha pega, não há tira-nódoas que a retire e lá tem de viver com isso até ao fim do curso. O Chico diz que tem uma teoria, mas lá está, vinda do Chico ninguém lhe dá credibilidade. Só o Dominic poderá avalliar se estas são de qualidade superior. Vai partilhar a tenda com o Dominic. O que não vai ser nada de novo, já que vivem juntos. O que deixa o Chico ainda mais lixado da vida.
Micaela van der Voort dos Santos. Nome comprido para uma gaja cuja mãe holandesa deu umas cambalhotas com o Sr. Santos, numas férias no Meco e a veio parir para Coimbra. Não pesca nada de holandês, mal pronuncia o seu próprio nome e mal entrou em Gestão na UBI ficou com o cognome de "Laranja-Mecânica". Micaela (ou Micas, para abreviar) é uma miúda simpática. Nada de deitar fora mas também nada do outro mundo. Pratica natação e já passou pelo escrutínio observador do Ildefonso, tendo chumbado com mérito. É das poucas pessoas ali que já assistiram aos ataques de fúria do Barnabé, mas nunca fez grande alarido disso. Um nadinha reservada, cora com bastante facilidade quando alguém olha para ela durante mais de três segundos. Faz uma parelha improvável com a Carla, com quem vai partilhar a tenda. A sardenta do Calhabé (bairro onde mora em Coimbra) toca viola e levou-a para dar um arzinho da sua graça. Quem sabe se um Kum-Ba-Ya não sirva para sossegar os ânimos em horas de maior exaltação. Ou isso ou uns fadinhos de Coimbra e temos fim de semana animado. Tem um coração puro mas começa a dar sinais de desgaste.
"Teleponto" é o nome de guerra do Osório, que calhou ter de partilhar tenda com o Pombinhas, muito por causa da insistência do "Lupas" que quer à força toda investir nos avanços com a sua "Julieta". O Osório é um alentejano de Beja, tem boa aparência, e é caloiro de Comunicação. Bem falante, apesar do sotaque que o trai e que por vezes provoca sonolência, é um sujeito com uma paciência infinita para tudo o que faz. E se à verborreia toda se juntar um charro, é homem para fazer durar um Padre-Nosso uma tarde inteira. Por ser um moço calmo, ficou incumbido de tratar do fogo no acampamento, que é prática de bem fazer para que este pegue e não se apague. Provavelmente será o gajo que mais plantões vai fazer naquele fim de semana e com pouco tempo para brincadeiras de alcova. As miúdas - descomprometidas - do grupo fizeram uma aposta para ver qual delas veria o seu fogo extinto pelo Osório. Neste momento, tanto a Carla como a Micas encontram-se na linha da frente para o conseguir, também porque são "quem sobra". O alentejano, com a sua paciência infinita só tem de as deixar poisar, que nestas coisas dos embates fornicantes, os alentejanos gozam de boa fama.
3 comentários:
Fantástica descrição dos personagens ☺️
É isso o íncrível da UBI, pessoas de origens totalmente distintas mas que se ligam.
Boa imagem descritiva e interactiva das personagens.
Isto promete.
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