É frequente ouvir-se dizer que há muitas mortes consideradas de covid que de facto não o são. E o contrário idem, há mortes atribuídas a outras doenças que, no fundo, são mortes de covid. Às vezes não é óbvia a origem da morte, ou então é partilhada, morre-se de covid e de outra doença, e não é claro saber se mais de covid se mais da outra doença. O covid mesmo que não mate cria condições para que seja outra a matar, e isso, de algum modo, é uma forma indireta de morrer de covid. Este é o tema da tese de doutoramento de zé, um licenciado em medicina pela UBI que pretende definir critérios, o mais objetivos possível, para decidir se determinada morte deve ser enquadrada ou não nas estatísticas do covid. À partida nem parece ser um trabalho de medicina, está cheio de números, de métodos estatísticos, e enferma da mesma ambiguidade de que enfermam alguns lances do futebol que atazanam a cabeça dos árbitros porque são lances de interpretação onde a unanimidade é impossível. Mas também tem muito de medicina, só os médicos é que podem avaliar até que ponto o covid interfere ou não noutras doenças instaladas, e vice-versa. Saber qual é a percentagem dessa interferência é que é o problema, se é fitty fifty, se é mais de uma do que de outra, sobre isso é que é muito complicado estabelecer consensos.
O licenciado Zé tem estudado centenas de casos e tem feito um grande esforço de síntese e de interseção de dados para conseguir detetar pontos em comum que permitam elaborar uma fórmula geral de cálculo, mas nem ele tem esperança de o conseguir. É muito difícil encontrar um padrão, cada caso é um caso, e alguns casos são até tão estranhos e fora da linha que o licenciado Zé nem sabe o que há de pensar e o que há de fazer com eles. Caso paradigmático é o do veterinário Gervásio Malaquias que, apesar de não ter apanhado covid, se não fosse o covid não teria morrido. No fundo, mesmo testando negativo na autópsia, para todos os efeitos foi o covid que o matou. “Deve ser ou não contabilizado como vítima do covid?”, pergunta-se o nosso doutorando na sua tese. Tudo começou quando o veterinário Gervásio Malaquias foi chamado para fazer o teste de covid à mula da cooperativa. O animal não andava bem, e, pelo sim pelo não, (e também porque se sabia de fonte segura que o virús andava por ali), resolveram testá-lo. O momento fatídico foi quando Gervásio Malaquias começou a introduzir a zaragatoa na narina da mula. O animal começou a ficar nervoso, a abanar-se todo, a dar solavancos com a cabeça e coices no chão, mas ninguém poderia prever que a excitação não ficaria por ali. Às duas por três, sem que ninguém contasse, em menos de nada deu uma volta de cento e oitenta graus e pôs-se mesmo a jeito para desferir um coice fulminante mesmo em cheio na testa de Gervásio Malaquias. A violência do impacto foi tão grande que o projetou em desequilíbrio até uns bons metros. O casco da mula estoirou-lhe parte da cabeça, e, como se isso não bastasse, ao cair ainda esborrachou o resto contra uma pedra que ali tinha sido posta pelo destino. O estrago crânio-encefálico foi tão grande que o pobre do Gervásio teve morte instantânea. Se não tivesse sido chamado à cooperativa para testar a mula ao covid ainda agora era vivo, de uma forma ou de outra foi o covid que o matou. E agora perguntem comigo: - a sua morte deve ou não entrar para as estatísticas do Covid?...
Gondri
3 comentários:
É muito provavel que sim, que seja contabilizado nos óbitos por covid. Repara que a mula não poderia estar a usar máscara por estar a ser zaragatoada. Mesmo que o Gervasio a estivesse a usar, dada a violência do lance, é natural que o bicho se tenha entranhado na gosma nhanhal de um crânio esmagado, uma vez que é sabido que as mulas não têm por hábito lavar as patas nem com água, quanto mais com geles. Acho que não resta qualquer dúvida.
Conheço um caso que gera ainda mais polémica. O de um gajo, protegido com um escafandro que após ter tropeçado numa zaragatoa bateu com o capacete num ventilador e ingeriu uma dose fatal de alcoól-gel. Podemos dizer "Ah! Mas nada disso está infectado e tal..." tá bem! Mas destinava-se ao tratamento!! É tal e qual um gajo passar um dia numa adega a engarrafar vinho sem o beber e apanhar uma tosga só com o cheiro, não é? Se soprar no balão acusa zero de alcoól no sangue e no entanto se lhe pedires para fazer um "4" cai pró lado. Simples.
um gajo de escafandro tropeça numa zaragatoa, bate com o capacete num ventilador e ingere uma dose fatal de alcool-gel?!... porra, quem é esse gajo?!... fazes-me lembrar uma cena dos malucos do riso. Espera aí que vou mudar de parágrafo para a contar:
diz um tipo para o outro, "já viste, diz aqui no jornal que em França é atropelado um gajo de cinco em cinco minutos", e responde o outro, muito admirado, "eh pah, quem é esse gajo, esse gajo é um fora-de-série, atropelado de cinco em cinco minutos..., fónix, e o gajo aguenta?!".
Com esta é que nos pusestes a pensar e consenso não haverá, logo fórmula só mágica porque na matemática e estatística não se arranja.
Muito bom, divertido.
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