Um grupo de investigadores da faculdade de ciências da UBI, em colaboração com três vacarias da região, começou por desenvolver um projeto piloto de treino intensivo das vacas com vista à obtenção de uma carne isenta de gordura e com mais quilómetros do que calorias. O projeto, denominado “atletas ruminantes”, foi financiado pela maior cadeia de talhos de carne magra e musculosa do mundo, o Mac CR7, que, segundo os especialistas, monopolizará o mercado mundial de carnes magras na era pós-covid.
O projeto ubiano consistiu na criação de um carro robô em ponto pequeno que despertasse a curiosidade do gado vacum e despoletasse corridas de perseguição, com características dietéticas, corrigindo a taxa de gordura dos alimentos ingeridos para valores mínimos. A velocidade, direção, diferenciais de velocidade, zig zags, e todos os elementos cinéticos e potenciais que compõem o movimento do artefacto, foram registados em gráficos e posteriormente analisados por uma equipa multidisciplinar.
Mas o “boom” científico verdadeiramente inacreditável que foi aplicado no robô foi a descoberta de um campo eletro-psico-magnético que permite influenciar alguns eletrões específicos dos átomos do cérebro das vacas, condicionar e energia das orbitais atómicas, e desse modo induzir por via elétrica uma sensação de felicidade nos animais idêntica ao riso nos humanos. No fundo, as vacas riem literalmente à gargalhada. (Se pensam que é como o riso das hienas, digo-vos já que não tem nada a ver. As hienas na verdade não riem, apenas produzem sons que fazem lembrar o riso humano, sons característicos da sua espécie como é o ladrar no cão ou o miar no gato, parece que riem mas não riem, de facto não acham piada a nada. Pudera, só comem merda e carne podre, iam achar piada a quê?!...). Trata-se efetivamente de um riso fundamentado no sentido de humor, um riso “humano”, uma gargalhada suportada pela faculdade de “achar piada”.
Tudo começou a partir das conclusões de investigadores ubianos que estudaram os efeitos de um certo tipo de ondas eletromagnéticas nas estruturas atómicas do cérebro das vacas. Além de detetarem as já referidas alterações no humor, verificaram também uma acentuada perda de peso dos animais, supressão de células adiposas, e definição muscular. A obtenção de carne magra de baixo colesterol por esta via passou a ser uma prioridade da investigação, especialmente para acudir no combate às doenças cardiovasculares e a todas as doenças associadas ao consumo excessivo de gordura.
Mas o sinal dos tempos interrompeu os fins carnívoros do projeto, o recrudescer do animalismo e de todas as filosofias vegan e vegetariana transformou os campos de testes, onde se estudava e aperfeiçoava o carrinho robô, em verdadeiros parques infantis para as vacas. O campo eletro-psico-magnético que induz a graça e a consequente vontade de rir, conjugado com o movimento dos animais, ora acelerado, ora retardado, com tangentes, secantes, curvas e contracurvas, arcos de circunferência, retas, segmentos de reta e outros, tornou a vida das vacas num verdadeiro céu na terra. O efeito desse campo nas células adiposas tornou as vacas bonitas de magras, autênticas beldades de passerelle, e muito mais leves para se deleitarem com os prazeres da corrida. É certo que davam uns ricos bifes dietéticos, mas isso já passou à história. Nunca mais irão esbarrar no medo do talho, ninguém as há de abater para as comer, viverão felizes o tempo que o tempo deixar, e só a doença ou o tempo lhes travará a felicidade. Vê-las correr, rir e saltar, alegres e contentes, a perseguir o carrinho telecomandado que deambula pelas pastagens idílicas num cenário de pura animação bovina, é qualquer coisa de extraordinário e tem uma plasticidade estética sem palavras.
O projeto, agora intitulado “vacas felizes” (os açorianos já remeteram para o Tribunal Constitucional uma acusação de plágio porque o “Programa Leite de Vacas Felizes” é ideia original dos Açores), já começou a ser implementado em todo o mundo com um sucesso estrondoso. Fruto do trabalho e criatividade dos seus investigadores, o “vacas felizes” é agora o ex-libris da Universidade da Beira Interior, o seu principal divulgador à escala planetária, e é tão importante que o magnífico reitor já decidiu proibir definitivamente o consumo de carne de vaca nas cantinas da instituição, e já propôs também que seja colocada no brasão da UBI a seguinte quadra:
"Não é na Índia, não
Onde são sagradas
Que as vacas são
Mais bem tratadas..."
"Não é na Índia, não
Onde são sagradas
Que as vacas são
Mais bem tratadas..."
Gondri
4 comentários:
Muito louco, e com um final à moda de Coimbra.
Eheheh.
Gondri ainda por cima conseguiste que andássemos atrás das vacas, logo eu que nunca quis ser toureiro.
Está genial.
Grande abraço amigo.🍺
Gostei particularmente do verso ritmado que sumaria a crónica!����
Isto induz o riso convulsivo. Um perigo para a saúde pública!
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