segunda-feira, 15 de junho de 2020

O primeiro ubiano a pisar solo lunar

Esta crónica descreve a epopeia espacial do primeiro ubiano a
pisar solo lunar, a sua grande personalidade e as razões que
estiveram na base de tão grande conquista.

De seu nome Vasily Antonov Silva, homem de raízes humildes, filho
de um português emigrado e de uma cidadã de Leste,nascido e
criado até idade adulta no seu país de origem, foi dos primeiros
estudantes estrangeiros a beneficiar de um programa Erasmus. Na
altura quis o destino que viesse para a Covilhã, para a UBI, para
o início dos seus estudos universitários.Já nesse momento, a sua
forte personalidade e alguma frieza, própria da cultura do seu
país natal, faziam antever uma carreira brilhante, apesar das
dificuldades próprias de estar a estudar num país onde a língua
era claramente um obstáculo, a juntar ao idioma local.Mas afinal
quem era Vasily Antonov Silva e como é que se tornou o primeiro
ubiano a pisar o solo lunar? Hoje sabemos um pouco mais da sua
história, contada na primeira pessoa,numa entrevista dada a uma
rádio local onde lhe colocámos algumas questões, na qual se
consegue perceber como tudo aconteceu e teve esse magnífico
epílogo.

Vasily Antonov foi, nas suas palavras, uma criança com uma
infância normal, com os mesmos gostos de qualquer miúdo em fase
de crescimento. No entanto, as primeiras tendências para os
assuntos e temas relacionados com a conquista espacial, surgiram
quando se apercebeu que os pais estavam constantemente a ser
chamados á escola pela directora de turma, para serem informados
que estava sempre distraído e com a cabeça na lua, nunca reagindo
ás solicitações em sala, fossem elas as perguntas sobre a matéria
ou as picardias dos colegas de carteira! Tais comportamentos
indiciavam já muita concentração para outros assuntos e temas
menos terrenos! Era o primeiro sinal que algo de excepcional se
passava na sua mente. Ainda segundo ele, outro dos sinais a
confirmar esta tendência,residiu no facto de, enquanto criança e
até á tenra idade de oito anos, ter tido três mascotes a quem
curiosamente deu o nome de Laika I, Laika II e Laika III numa
clara alusão já á primeira cadela a viajar ao espaço. Mais tarde
e após o desaparecimento doloroso da Laika III,numa experiência
científica para avaliar a sua capacidade de voar,recebeu uma
outra mascote, a quem colocou o nome de Sputnik, por ter achado
que sendo um macho, o nome Laika IV não seria o mais
adequado!Mais espantoso em todos estes sinais é que nessa fase da
sua vida nem sequer tinha televisão em casa e raramente o pai
trazia um jornal para casa que não fosse para embrulhar a garrafa
de Vodka!Ainda assim, na sua mente já havia esta influência de
pensamento espacial, que segundo o próprio terá sido originada
aquando das noites que passava ao relento no telhado da sua casa
a olhar para os céus e a tentar contar estrelas ao mesmo tempo
que admirava aquele destino tão apetecido: a Lua!! O
Sputnik,entretanto, nas brincadeiras, viu o seu nome abreviado
para “nik” por ser mais fácil o treino em apanhar paus ou o disco
em época de praia! Há quem diga que este diminutivo esteve na
origem da marca “Nike” de acordo com as suas
palavras. Entretanto, também nas suas idas aos poços das Penhas
da Saúde , a pretexto de ir estudar para local mais aprazível e
calmo, quando o calor apertava com o seu grupo restrito de
colegas, enquanto estes iam a banho, já então Vasily apenas
ficava deitado na toalha a olhar o céu e a pensar o que estaria
para além daquela cor azul clara, enquanto esperava pela hora de
comer o lanche.Era talvez o maior sinal que indicaria a sua
grande apetência para “estar na Lua” e antevia o desfecho dessa
grande carreira profissional de astronauta que viria mais tarde a
abraçar! Ao mesmo tempo sabia que na Serra a cerca de 2000m de
altitude estava seguramente mais perto desse tão almejado
destino, o que o enchia de felicidade!

Bom, depois da sua infância e adolescência, vincada nos tempos de
liceu com a sua grande apetência para os temas espaciais, chegou
a altura de escolher onde prosseguir os seus estudos
universitários. Contrariando a crescente e reconhecida apetência
para a Astronomia e Astrofísica, chegou á UBI, e por escolha
própria, tendo escolhido apenas um curso no seu boletim de
candidatura: - Engenharia Têxtil. Segundo ele depois de muita
ponderação e em face da descoberta de que a Engenharia do Papel,
estava longe de corresponder aos seus anseios e aos dos seus
progenitores, pois originalmente pensava ser um curso da área
financeira. Amarguradamente a descoberta de que o Papel não era o
Papel Moeda, e o atraso entretanto acumulado para a formalização
da candidatura, tê-lo-á deixado sem grandes opções de escolha e a
Engenharia Têxtil foi a escolha óbvia, quer pela tradição da
Universidade e da indústria covilhanense, quer pela
pluridisciplinaridade do curso, com cadeiras desde a Matemática,
Física, Electromagnetismo, Termodinâmica e Química Orgânica só
acessíveis a grandes mentes ao serviço do seu claro propósito de
poder vir a enveredar por uma carreira na área aeroespacial!

Nessa entrevista confessou mesmo que não há melhor curso para
quem queira aceder a uma carreira espacial. No entanto após
alguns anos no curso de ingresso, decidiu, após a conquista de
tão difíceis cadeiras e num rasgo de pensamento visionário,que
fazia sentido a mudança de curso para Engenharia Aeronáutica,
pois sentiu necessidade de adquirir conhecimentos e ser preparado
para voar. Afinal a Lua era lá longe e só a tricotar panos, a
estampar e a tingir, não lhe parecia que conseguisse lá chegar um
dia!!

Assim, conseguiu reunir o melhor de um dos mundos (porque o outro
era a Lua, onde queria ir!) e com essa abordagem conseguiu
especializar-se em têxteis técnicos, para perceber como usar o
fato de astronauta e ao mesmo tempo em tecnologia aerospacial,
por reconhecer que seria muito útil para se poder candidatar a um
programa de uma agência qualquer espacial.

Também neste particular considera que a sua opção pela Agencia
Espacial Europeia foi determinante e muito importante neste
objectivo, pois no Ex-Bloco de Leste e nos Estados Unidos já
havia então muita concorrência para os poucos lugares disponíveis
na desejada viagem, e seria a única possibilidade de vir a pisar
o solo lunar! Também a relevância já não seria a mesma, por
carecer de novidade!

Como estudante, Vasily foi um estudante de comportamentos normais
e teve um percurso comum a muitos outros. Enquanto frequentou
ambos os cursos, ficou hospedado na residência académica, como
bolseiro, em virtude das suas dificuldades de estudante
estrangeiro e apesar de na altura não existirem propinas
elevadas,foi obrigado a trabalhar nas obras e a fazer uns turnos
da noite nalgumas fábricas ao fim-de-semana, para fazer algum
dinheiro, para poder viver, comprar mercearias, tomar o seu café
e frequentar a Número Uno onde bebia os seus Vodka Laranja, com
os quais matava saudades do seu país natal, como nos
confidenciou!Assume que não teve grandes relacionamentos
amorosos, pois entre as bebedeiras nas discotecas locais e a
frequência das aulas da tarde na universidade e as refeições,o
tempo que lhe sobrava passava-o a olhar para o céu e a pensar
como conseguir tamanho objectivo. Por isso, refere, não lhe
sobrava muito tempo para relações ou idas ao cinema. Agravado
também desde que descobriu os caracóis com panaché e as empadas
de frango do Café Primor ou da esplanada do Sporting da
Covilhã. Por isso o tempo era todo contado entre a prossecução do
seu objectivo e as prioridades que concorriam para esse mesmo
objectivo!.Não obstante, as suas marcas e classificações
académicas sempre revelaram a sua grande aplicação e
competitividade, que anteviam um futuro deslumbrante e só ao
alcance de muito poucos,á sua espera!O frio no Inverno também
ajudava ao estudo e lembrava-lhe os serões em família na sua
Dubrovnik natal e facilitou a sua adaptação ao clima da Beira
Interior!

Diplomado com distinção, mas antes ainda a frequentar o quarto
ano do curso de Aeronáutica, recebeu a primeira proposta para se
associar ao projecto de conquista espacial da Agencia Espacial
Europeia. Conhecimentos de base adquiridos, faltava saber se ele
próprio seria capaz de passar os exigentes patamares de um
projecto espacial, e particularmente os relacionados com os
testes físicos para tripulante de uma cápsula espacial! Neste
ponto, considera Vasily Antonov Silva, a sorte sorriu-lhe um
pouco pois na altura em que se integrou no projecto,este estava
ainda numa fase quase embrionária e a perspectiva de crescer
profissionalmente com o avanço do projecto ganhou grande
importância e foi determinante para conseguir chegar á Lua!Logo
no primeiro ano enquanto completava os seus estudos na UBI,entre
as frequências e exames, viajava constantemente ao
estrangeiro,para efectuar testes físicos, alternando com idas
frequentes á natação nas piscinas dos Penedos Altos e ténis no
Clube de Campo.E algumas aulas de boxe e “full contact” sempre
que ia ás discotecas da zona e se embebedava! Assim ganhou a
massa muscular necessária a que os testes físicos para astronauta
fossem passados igualmente com distinção, ficando aprovado para
integrar de pleno direito, a missão espacial.

Mas se esta fase estava conseguida, outras houve bastante
desafiantes e em que também participou e teve que se aplicar
activamente. Assim, o projecto estava de tal forma atrasado que
ainda pôde dar a sua contribuição para a escolha do nome da
cápsula espacial, tendo sugerido que não podendo ser
“Endeavour” (porque os americanos escolheram primeiro e
registaram o nome), se chamasse “Tremocious”, por analogia com o
outro marisco que começou a apreciar avidamente sempre que no
Primor acabavam os caracóis! Vasily confidenciou ainda que este
marisco foi aliás a principal razão que o fez ficar em Portugal e
na UBI, após o período do programa Erasmus ter acabado!A par dos
banhos na Lagoa do Vale do Rossim e do Covão da Ametade, em pleno
Inverno que ajudavam a atenuar as saudades da sua terra natal! E
a apreciar melhor o Vodka com Laranja nas Quinta-feiras serranas
no Uno! E que na sua opinião foram estas vivências que tiveram
especial relevância e grande importância para a conquista de tão
nobre objectivo por parte deste Ubiano! E de outros também, que
no entanto nunca foram ao Espaço!

A viagem ao solo lunar, essa, refere não teve “grande história”
ou dificuldades de maior, com excepção de alguns episódios
esporádicos que recorda, a maior parte deles passados nas fases
que antecederam o voo espacial e a sua preparação para o mesmo.

A aplicação dos conceitos das várias disciplinas e em especial do
Electromagnetismo, entretanto adquiridos nas Engenharias
frequentadas, Vasily compreendeu a sua importância, desde as
fases iniciais do projecto espacial, ao perceber numa manhã
enquanto tomava o pequeno almoço, que os recados colados na porta
do seu frigorífico e os procedimentos de operação no interior da
cápsula experimental de treino tinham o mesmo tipo de ímanes a
segurá-los. Finalmente as aulas de Electromagnetismo faziam todo
o sentido e além dos campos magnéticos e dos programas
informáticos em Basic, Pascal e Cobol desenvolvidos no fantástico
AS400 agora finalmente via a aplicação prática das matérias,que
lhe faltou quando frequentava a disciplina!!

Conta-nos que aprender a manobrar a cápsula espacial e o foguetão
até nem foi das tarefas mais difíceis!Para quem tinha aprendido a
programar a Shima do Departamento Têxtil, os procedimentos e
rotinas de viagem até foram bastante fáceis de assimilar e
executar.” - Era mais difícil fazer um cachecol com trança”,
confidenciou. No entanto os treinos de natação e o resto da
preparação física para passar os testes de voo foram mais
complicados. A necessidade de reduzir o peso para poder “flutuar
suavemente” dentro da cápsula e mais rapidamente aceder aos
comandos ou aos armários e para abrir ou fechar a cama, foi a
maior dificuldade!Por ter que cortar radicalmente com o consumo
de bifanas, finos e empadas do Primor, cerca de dois meses antes
do início dos testes! Refere que depois do treino e da sua
aprovação final,também sentiu grandes dificuldades quando,numa
fase posterior, o responsável da missão lhe perguntou o que
gostaria de comer durante a viagem ( a par da comida de síntese
já prevista comum aos restantes elementos da tripulação, a
Agencia previa incluir para cada elemento um “mimo” gastronómico
da sua nacionalidade, á escolha). Em resposta á pergunta o que é
que gostaria de levar para comer, respondeu: -uma garrafa de
aguardente de zimbro ia bem, e um queijo da serra, acrescentando
“Curado, não Amanteigado”! A dificuldade natural em resposta á
inesperada questão do director de missão, confessa que residiu no
facto de ter dúvidas sobre qual seria o comportamento do queijo
amanteigado, durante a viagem num ambiente de “gravidade zero”!
Daí a opção pelo Curado, por questões de maior consistência face
ao Amanteigado, variante que sempre preferiu nas entradas,
canapés, sandes e pequenos almoços anteriormente degustados nos
saudosos dias de estudante ubiano.

Para o local da partida da missão foi escolhido o Cabo da Boa
Esperança,por ter um nome mais de acordo com o espírito da missão
e mais fácil de traduzir para os restantes países (Cape of Good
Hope), como alternativa ao Cabo Espichel. E também porque havia
uma secreta boa esperança em que fosse uma realidade a viagem de
regresso.O lançamento da cápsula não teve problemas de maior,
tendo decorrido dentro da normalidade e na observância de todos
os procedimentos de viagem. Recorda aliás que o único percalço,
foi a escolha da hora exacta para o lançamento, pois os restantes
países parceiros da missão não reuniram o consenso sobre a hora,
mas sabia-se que teria que ser de manhã, para que se pudesse
chegar á Lua á noite, por estar mais iluminada e ser por isso
mais fácil de visualizar o local para uma boa e desejável
alunagem! Por isso algum atraso a verificar os últimos
procedimentos arrastou a hora de saída prevista inicialmente para
as 9:00 locais, para as duas da tarde,hora a que se deu o
lançamento.Como era a primeira missão, também não se sabia se
seria uma alunagem, uma aterragem ou uma amaragem, por não se
conhecer muito sobre o local previsto para a descida! Durante a
entrevista confessou-nos que isso o tinha deixado muito
desassossegado e bastante apreensivo. Daí a opção pela aguardente
de zimbro, até porque já estava farto de vodka das muitas noites
serranas, e afinal, não era ele que ia a a guiar!O medo do
desconhecido a juntar á emoção da descoberta, confessa que foi
sempre uma dualidade de sentimentos que o dividiu! Só
ultrapassável pela vontade e emoção da conquista de tão única
experiência espacial que sentiu durante toda a viagem! E pelos
longos tragos na aguardente de medronho, que á sucapa também
meteu no saco de viagem, sempre que o receio de que algo pudesse
correr mal, se manifestava!

Ainda assim refere como a decisão mais difícil que teve que tomar
na fase de preparação do vôo, o momento em que teve que decidir
sobre qual o símbolo que deveria escolher para juntar ao da
Agência Espacial, para deixar como marco indelével da sua estadia
em solo lunar! O seu coração dividido vacilava entre a bandeira
do seu país natal e a do país de acolhimento,refere.Conta que
após alguns dias de intensa reflexão, falou mais alto o
sentimento e reconhecimento da sua magnífica estadia na cidade e
na Universidade que o acolheu para os seus estudos e tornou
possível este honroso objectivo, a Covilhã e a UBI, e a escolha
tornou-se então óbvia e fácil. Iria levar uma bandeira que o
marcou profundamente nos tempos de estudante. E assim ficou
resolvido mais uma difícil escolha.



Quanto á viagem propriamente dita, refere, foi magnífica,pois
além do animado convívio a bordo com os seu dois colegas europeus
de missão, o comandante sueco Olav Olofsson e a franco-inglesa,
Mary Crescent, astronautas experientes e mais do que isso grandes
amigos desde as fases mais exigentes de treino, especialmente
depois de sair da atmosfera e após as 7 da tarde, ao começar de
escurecer e ao entrar no firmamento e com mais tempo para
desfrutar da soberba paisagem interestelar, após o cumprimento
dos procedimentos de arranque fazendo-o sentir-se “como em casa”
e um privilegiado pela oportunidade de aplicar nesta viagem todos
os conhecimentos e treino anteriormente adquiridos!E finalmente
conseguia ter algum tempo de relaxamento,onde pôde apreciar essa
magnífica paisagem e fazer alguns “bonecos” com a sua Polaroid,
para memória futura de tão épico momento!Lembra-se com saudade de
pensar como seria bom abrir a porta e sair para um passeio nas
estrelas, objectivo obviamente difícil de cumprir á velocidade da
cápsula!Ainda há dias numa entrevista a uma entrevista da
especialidade e como um homem da ciência e do pensamento
científico , assumia que essa restrição e impedimento sentido no
espaço o ajudaram a preparar para suportar e entender melhor o
confinamento imposto pelo Covid! Por se ter sentido mais preso na
cápsula do que em sua casa onde sempre podia ir á rua passear o
velho e fiel Sputnik!!Capacidade de análise que desenvolveu
grandemente na sua passagem pela UBI, de acordo com as suas
palavras!

Na chegada á Lua, os momentos que antecederam a alunagem, segundo
ele era também uma aterragem, como pôde confirmar pelo intenso pó
que se levantava no contacto com o solo ( também baptizado de “o
aLuno”, para não confundir com “o terreno”) e confirmado na
pequena caminhada que fez em solo lunar! Por decisão do chefe de
missão seria ele o primeiro a sair da cápsula e a pisar a
superfície lunar, levando consigo o marco histórico que seria
colocado para enaltecimento da conquista e memória futura.O que
fez de pronto assim que o comandante desligou os reactores e
finalmente com o fato vestido, esperou a luz verde acender para
abrir a escotilha e descer a escada para a superfície lunar,
dando início ao passeio espacial.Assim que pisou o solo,
confirmou que a alunagem havia sido um sucesso,pois foi perto da
dos americanos como inicialmente previsto. Ao olhar em redor
conseguia ver lá ao longe,e apesar da pouca luz,a bandeira
estadounidense que Armstrong tinha deixado em Julho de 1969. Com
a satisfação do dever cumprido no rosto começou a avançar na sua
direcção empunhando o pequeno poste com a sua ícone bandeira e
com a bandeira da Agencia Espacial. O caminho pareceu-lhe longo
pois feito a pé e com a gravidade zero tornou-se demorado e o que
parecia perto afinal era muito longe. Quando fala do tempo que
demorou na sua caminhada lunar, assume que já na Ubi, nunca foi
muito bom a calcular distâncias, o que entre outras coisas
impediu que chegasse a horas ás festas e que pudesse ser bem
sucedido na sua única tentativa de tirar a carta de condução!
Também pelo facto de ser muito difícil fazer o “ponto de
embraiagem”, nas íngremes subidas das ruas da Covilhã, que
adicionado a esse deficiente cálculo das distâncias inviabilizou
a passagem no exame! De qualquer forma,ao chegar próximo da
bandeira americana, achou descortês retirá-la pois eles foram os
primeiros, mas rapidamente encontrou um local perto, menos
pedregoso, onde finalmente espetou o poste com a bandeira da
missão e a sua escolhida, dos Leões da Floresta, colectividade
que segundo refere o marcou muito nos tempos de estudante Ubiano
pelas longas horas que aí passava a jogar pingue-pongue nos
intervalos das aulas de laboratório que frequentava e dos
relatórios que tinha que redigir.

Depois de alguns ensaios e recolhas de amostras para estudo e as
selfies da praxe, que ocupou a tripulação durante três dias, (o
tempo previsto, de acordo com o calendário da missão), foi
iniciada a viagem de regresso que decorreu conforme esperado e
sem outros acontecimentos relevantes.Com excepção do facto de
que, de volta á Terra, por ligeiros problemas nos sistemas de
navegação, a amaragem não aconteceu próximo da Foz do Rio
Minho, (só para chatear os espanhóis que não se quiseram associar
ao projecto), onde estava previsto acontecer, mas sim ao largo
das Berlengas, tendo sido prontamente confirmado pelo comandante
Olofsson, após avistar o voo de uma cagarra através do postigo da
cápsula já insuflada.Um pequeno erro de cálculo na trajectória
que no entanto não comprometeu minimamente o sucesso da viagem!

Foram recolhidos por aquilo que pensava ser um “destroyer” da
armada portuguesa, mas que depois de uma análise apurada
verificou ser um rebocador oceanográfico pois apesar dos seus
parcos conhecimentos sobre a marinha de guerra (adquiridos a
jogar batalha naval na residência,pela noite dentro
covilhanense), achava pouco provável a existência de uma grua num
navio de guerra!Conta-nos que mais tarde durante uma conferência
e quando se referia a este final de viagem,alguém o interpelou
até num tom que considerou um pouco ofensivo e
injurioso,confirmando que não existem “destroyers” na marinha de
guerra portuguesa, pelo que acabou a admitir que, a não ser um
rebocador poderia bem ser um bacalhoeiro de um dos portos da
zona!  Refere ainda com emoção que após a chegada ao Cabo da Boa
Esperança, e depois de despir o fato e passar na câmara de
descompressão, quando lhe perguntaram o que sentia nesse
instante, ter referido o frio,fome e que as suas primeiras
palavras numa frase bem articulada gramaticalmente foram: -
“Agora ia mesmo era uma bifana do Primor e um par de finos com
groselha”! Frase que indubitavelmente mostra o grande Ubiano que
ele é!

Vasily Antonov Silva, por este grande feito, é hoje
orgulhosamente recordado e homenageado por esse marco histórico
da conquista espacial,personalidade mundialmente conhecida nos
meios científicos e aeroespaciais, onde tem dado desde então,
inúmeras conferências e escrito artigos de elevada relevância
científica. Pessoa recatada e na sua infinita humildade, é também
apelidado de “Primo Basílio”,carinhosamente,com especial
incidência na família….. ou entre amigos de “Toni Silva”, homem
de reconhecidos méritos e grande capacidade intelectual,
proeminente escanção e dono de um paladar de gastrónomo
apurado!”Tudo isto”,diz,”apenas se tornou possível graças ao
tempo que passei na UBI e na Covilhã”.

Testemunho de experiência de vida universitária que tem
recomendado desde então aos seus descendentes directos e filhos
de amigos mais próximos.

A este propósito e na mesma entrevista, em jeito de conclusão,
ainda teve tempo de apontar as razões do seu crescente amor pela
vida na UBI, quando questionado sobre que outras razões tornaram
possível a sua forte paixão e apego á vida universitária na
Covilhã e se acreditava que se tivesse estudado noutro qualquer
país ou Universidade teria acedido a esta conquista espacial, foi
peremptório em afirmar que não, pois não achava que as pessoas
que mais o influenciaram e fizeram com que permanecesse e
concluísse os seus estudos pudessem existir noutras
universidades.Clarificando este aspecto acabou a referir-se a
algumas personagens que o influenciaram positivamente nesse amor
á vida na UBI, como um célebre companheiro de residência, também
aluno de Engenharia Têxtil,que constantemente interpelava os
outros alunos e alunas na fila para as refeições da cantina,com
dúvidas existenciais de elevada acutilância e que contagiava
todos em seu redor com as suas efusivas gargalhadas. Com ele, diz
que aprendeu a adquirir espírito de humor, (assume que quando
chegou á cidade era muito sisudo e de semblante carregado), e
aprendeu a reflectir sobre o absurdo e as mais ínfimas causas de
um problema e a desenvolver o espírito crítico necessário para
ter uma boa desenvoltura no programa espacial.A par da
elasticidade mental e a argúcia para ultrapassar os testes
psicotécnicos iniciais, para acesso ao programa. Vasily Antonov
considera que sem essa influência marcante teria sido quase
impossível a concretização deste sonho de viajar até á Lua.

Surpreendentemente ou talvez não, ficámos assim a saber que por
detrás deste feito estiveram personagens como essa e como os
demais colegas de carteira, que durante as aulas de laboratório e
a pressão sentida nas praxes académicas do seu ano de caloiro,
ajudaram ao desenvolvimento de um pensar científico que se
revelou bastante útil para esta conquista, a quem ainda hoje
agradece pelo grande companheirismo e contributo dado para a
conclusão da sua formação universitária, e que refere, sem eles,
não teria conseguido nunca sair da Terra! Ou frequentar lugares
míticos como o English Bar no Fundão ou o Clube de Campo da
Covilhã!! Ou os Bairros dos Penedos Altos e Santo António em
época de santos populares, onde entre as risadas e os pezinhos de
dança com as colegas e as quadras dos manjericos, descobriu que
“broa” não era apenas o nome dado a um dos seus exigentes
professores, mas o magnífico e saboroso pão de milho que
acompanhava as sardinhas e o caldo verde! Grandes experiências
sensoriais que não existiam na sua terra natal, refere !! A voz
da humildade e da gratidão de um grande Ubiano, o primeiro a
pisar o solo lunar, desbravando para as gerações vindouras o
caminho árduo da conquista espacial europeia.

João Leonardo

3 comentários:

Gondri disse...

SOBERBO, TOP!!!
E o melhor de tudo é que fiquei a saber por ti que se não fossem as minhas dúvidas existenciais, e as gargalhadas que despoletava, o Vasily nunca tinha posto os pés na lua, eh, eh,eh, nunca tive tanto prazer em ter nascido, sou muitá bom!!!

Unknown disse...

Vê lá como é que numa crónica só se homenageiam duas grandes personagens marcantes da longa história Ubiana:o Vasily e tu!😂😂

Nuno Miguel da Cruz Ramos disse...

João, li, voltei a lêr, repeti e de cada vez mais apreciei, o prazer foi sempre diferente, mas constantemente espectacular.
Continua, que maravilha!