domingo, 31 de maio de 2020

Quando a estátua de Cristiano Ronaldo esteve na UBI...

Cristiano Ronaldo e uma estátua que está a dar que falar – Observador


A Universidade da Beira Interior, como grande instituição que é, precisa de símbolos que incutam nos seus estudantes os valores do trabalho, da dedicação e da vontade de superação. Por isso é que a reitoria se lembrou de erguer nas instalações da UBI uma estátua de Cristiano Ronaldo, com uma inscrição onde se lia, “ícone do esforço e da perseverança, um exemplo de excelência”.
O problema foi aquele enchumaço indiscreto na genitália do craque que ninguém conseguia explicar. Genitália Prazeres, uma aluna perspicaz, pôs logo ali a nu a solução do enigma:
- levou um pontapé nas partes e ficou com aquela zona toda contusa...
- com tusa?... replicaram logo os alunos mais jocosos num estalar de gargalhadas!!!
O professor Leonel Vergalho, que se orgulhava de ser o melhor imitador do diácono Remédios da zona centro, opinou, no seu jeito tão peculiar:
- ó meus amigozezeze..., o jogador é um bom jogador, a estátua é uma boa estátua,... não havia nechechidade!!!... qualquer dia, ainda se lembram de pendurar ali a Gerorgina Rodriguez e fica ali aquele penduricalho espanhol todo a abanar, qual pénizezeze gigante... o escultor é um bom escultor, não havia nechechidade!!!
Outros opinadores se manifestaram, e o enchumaço do Ronaldo andou de boca em boca. Alguém disse que se o atleta estivesse com o membro flácido nada daquilo acontecia, mas a professora Leopoldina Trancada, que adorava ópera, replicou: - já ouvi Plácido Domingo com o membro ereto, e já o ouvi com o membro flácido, e uma coisa vos digo: Plácido Domingo é infinitamente melhor que Flácido Domingo, com aquilo flácido o homem não canta nada, é uma nulidade.
As opiniões de quem passava por ali sucediam-se. Algumas meninas de medicina piscaram o olho com um sorriso maroto e disseram que aquilo era um tumor benigno, duas vegans muito castas passaram e queixaram-se de que estavam a ser obrigadas a consumir com os olhos um triste espetáculo de carnes impúdicas, uma aluna de informática disse que aquilo era um bom programa para o fim de semana, e a opinião menos apimentada até foi a de um aluno de engenharia mecânica que disse apenas que aquilo era a ferramenta do Ronaldo…
Mas além destas opiniões que até tinham a sua graça, outras começaram a surgir de repúdio e condenação. A malta de esquerda, como é seu timbre, começou a associar o penta bola de ouro ao capitalismo e à alta finança, e disse que só o aceitaria em solo ubiano se fosse nacionalizado. As organizações de inspiração cristã puseram o foco no surto de depravação e luxuria que a genitália saliente do craque despoletava nas hormonas acesas dos estudantes, especialmente nos setores feminino, gay e trans. Os talhos e afins da Covilhã estavam muito preocupados porque, perante tão lascivo enchumaço, começaram a ser frequentes desabafos tipo, “a carne é fraca…”. Enfim, a contestação aumentava cada vez mais e tomava proporções preocupantes.
Perante o mau estar generalizado que se tinha instalado por causa da estátua, com uma cisão em toda a linha em que a desavença andava no ar e até já se adivinhava o confronto físico entre os que eram a favor e os que eram contra, a reitoria da UBI não quis arriscar mais discórdia e mandou tirar a estátua. E foi por isso que a estátua do Ronaldo nunca chegou a ser ubiana…

Gondri




quinta-feira, 28 de maio de 2020

Ubianos, não deixem de contribuir.




Queria pedir a todos os ubianos e ex-ubianos que depositem as vossas doações na conta deste extraordinário benfeitor.
Com tantos vigaristas e charlatães a lançar o anzol na expetativa de caçar os mais incautos, Carlos Magalhães é um modelo de confiança e credibilidade, um verdadeiro apóstolo do bem e da verdade. Não deixem de contribuir, o mundo precisa de almas caridosas como a deste singular filantropo. Mais do que um homem bom, Carlos Magalhães é uma inspiração cósmica, um coração do tamanho do universo.

Afinal o salvador do planeta
não é a Greta.
O salvador é este, aqui o tens:
Carlos Magalhães.

Engenheiro, matemático, psicólogo
Filósofo, fisiologista, sociólogo
Poeta, compositor, professor universitário
Escritor de "best-seller", ex-empresário,...

Deposita já a tua doação
Qu'este vê-se que não é charlatão
Agência: 3557-2, Conta: 0003093-7
mete já lá o dinheiro, mete, mete!

Creches, orfanatos, hospitais
Abrigos, alimentação, roupas, e muito mais
Carlos Magalhães, Assistência Mundial
Se acreditas no Sócrates, este é igual...

Gondri



terça-feira, 26 de maio de 2020

DRPI, da UBI.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e texto


Disse-me o Carlos que a UBI já acrescentou à sua lista de departamentos o DRPI, Departamento de Respostas a Perguntas Imbecis. Aliás disse-me mais: disse-me que da próxima vez que eu lhe fizer uma pergunta como a que lhe fiz aqui há dias leva-me lá a rasto. Passo a explicar o ocorrido:
Há semanas que não via o meu amigo Carlos. Encontrei-o por acaso num centro comercial:
- tás aqui? - perguntei, de sorriso aberto.
Por acaso o Carlos, que é um tipo com o sentido de humor sempre à tona, respondeu:
- não, tou ali... vê lá se não tou ali a tomar um cafezinho no andar de cima. E já agora aproveita o balanço e vai ao DRPI da UBI. Eles lá tratam do teu caso…

Gondri

domingo, 24 de maio de 2020

Licenciatura em Gestão do Lar na UBI.




Com a crescente sofisticação da sociedade, as domésticas que cuidam da casa e dos filhos passaram a ser designadas de “gestoras do lar”, e a certa altura houve a necessidade de criar na universidade um curso superior de Gestão do Lar.
Diz quem sabe que as cadeiras mais difíceis dos dois primeiros anos do curso de Gestão do Lar são:

loiça I –  1º sem/1ª ano
loiça II -  2º sem/1ºano
ferro I -   1º sem/1º ano
ferro II -  2º sem / 1º ano
ferro III - 1º sem/2º ano
ferro IV - 2º sem/2º ano

Esta da imagem é a Larissa, a melhor aluna da licenciatura de Gestão do Lar. No primeiro semestre do primeiro ano passou à cadeira de “loiça I” com distinção, e passou também a loiça II, no segundo semestre. Mas onde ela se distinguiu mesmo foi nas cadeiras de ferro. Passou a ferro nos quatro primeiros semestres, respetivamente a ferro I, II, III, e IV, tudo com notas altas. E depois de passar os dois primeiros anos sempre a passar a ferro foi festejar com umas ganzas, e ficou tão passada que acabou no hospital. Mas, felizmente, o pior já passou.
As cadeiras de esfregona I e II, respetivamente  do 1º e do 2º semestres, também correram bem, passou sempre a esfregona com muito brilho – aliás o seu professor, José Soalho, já manifestou publicamente o seu contentamento pela forma distinta como ela passou a esfregona.
Curiosamente, as cadeiras que mais obstáculos lhe criaram foram paninho do pó I e paninho do pó II lecionadas pelo professor chinês Lim Pópó. As cadeiras até eram fáceis, mas o facto de serem dadas em chinês complicou bué. “O uso da língua foi efetivamente o maior problema”, confirmou o Dr. Aurélio Felácio Perfeito, chefe de departamento. 
Neste momento só lhe falta uma cadeira para acabar o segundo ano: aspiradores II. Aspiradores é dada por um professor que também leciona na Academia Militar, o engenheiro e aspirante do exército, José Aspirante, que aspira a que ela passe a aspiradores com uma nota alta. A ver vamos se assim será…
Quando acabar o curso, a Larissa já pensa doutorar-se na área da psiquiatria do lar, abordando temáticas que ainda vai estudar no quarto ano, nas cadeiras de varrer I e varrer II. No fundo o que ela pretende estudar na sua tese é a relação entre o varrer e a doença mental, ou seja, como é que por via do varrer se pode transformar alguém com apenas um ligeiro distúrbio mental num verdadeiro doido varrido. (Só para que conste, ela chegou a pensar num doutoramento na área da matemática do lar. No entanto, aquilo a que se propunha, ou seja, transformar uma tábua de engomar numa tábua de logaritmos, pareceu-lhe demais para as parcas bases matemáticas que tinha).

Gondri

quinta-feira, 14 de maio de 2020

A colónia de fibras do Silveira...

ESTUDIO DE FIBRAS TEXTILES AL MICROSCOPIO | Fundación Alfredo Harp ...

A minha memória está estafada mas há episódios que eu não esqueço.
Numa aula prática no Acondicionamento Têxtil, na Covilhã (ajudem-me porque já não me recordo ao certo a que cadeira, Matérias Primas?...), estávamos a identificar fibras ao microscópio. O nosso professor era o prof Mário Tavares, um homem austero na maneira de ser e de vestir, recatado, de poucas palavras e nenhum riso, a quem nunca tínhamos ouvido nem a réplica de uma gargalhada, quanto mais a própria gargalhada.
Ora estava o Silveira (o saudoso Silveira, da Capinha, o que é feito dele e da sua famosa 4L que não dava para subir à serra porque lhe faltavam cavalos?...) ao microscópio, e às duas por três diz ele : - está aqui uma colónia de fibras.
Bem, não vos digo nem vos conto, o prof Mário Tavares desata a rir, e para parar?!... Esteve a aula toda a rir, desde aquela tirada do Silveira até ao derradeiro segundo. Estava um ou dois minutos sério e, de repente, lá lhe vinha outra vez à superfície aquela da colónia de fibras e zás, outra vez desmanchado a rir. Nós delirávamos com ele e também riamos que nem uns perdidos. É que ver o prof Mário Tavares a rir só por si já era um acontecimento, ele que, apesar de educado, acessível e boa pessoa, tinha sempre um ar sério e conservador. Mas vê-lo a rir convulsivamente, a aula toda sem parar, intermitentemente desde o início até ao fim, então isso era mesmo de loucos.
Se o Silveira tivesse dito que estava ali um conjunto de fibras, um agregado de fibras, ou coisa que o valha, não se tinha passado nada. Mas uma colónia… isso colónia é de focas ou de pinguins, não é de fibras, e decerto que foi isso que despoletou o riso no prof Mário Tavares que parecia uma criança pequena encantado com aquela “colónia” do Silveira.
O Silveira, claro, olhava para a gente e encolhia os ombros, incrédulo, também ele esgotado de tanto rir. Ele dissera que aquilo era uma colónia de fibras achando que era uma designação normal; o termo “colónia”, apesar de se aplicar a um aglomerado de animais, podia perfeitamente ser extensivo a fibras, a linguagem permite isso e muito mais na sua maravilhosa elasticidade. Mas o que é que vocês querem, o prof Mário Tavares deu-lhe para aquilo…  naquela cabeça imagino que só ecoasse o barulho ensurdecer das colónias de focas, de pinguins, de leões marinhos, etc.,…, e muitos episódios do National Geographic…
(Bem, eu levei a coisa para as colónias de animais porque essa me pareceu a explicação mais lógica. Mas, como não entrei lá dentro da cabeça dele para confirmar, há uma dúvida que me acompanhará até ao último dia: será que não foram mas é as nossas antigas colónias ultramarinas que lhe soltaram o riso?!...).

Gondri

terça-feira, 12 de maio de 2020

Humildade na excelência, e um peru na Mecânica Geral do prof Avelino Passos Morgado.



Uma das lembranças mais presentes que tenho da UBI, e a que recorro frequentemente quando quero dar o exemplo de uma louvável junção de humildade e excelência, é uma memória que fossilizou para sempre dentro de mim e que remonta ao dia em que fui à UBI (na altura ainda IUBI) matricular-me pela primeira vez.
Lembro-me de ter entrado no edifício da universidade, perdido como era natural, e de ter encontrado um senhor baixo, assim a dar para o redondinho, de certa idade, vestido de forma modesta, a quem perguntei se por favor me indicava onde era a secretaria.  O senhor orientou-me simpaticamente, com um estilo que me pareceu algo provinciano e me levou a crer que estaria a falar com um funcionário, quiçá um jardineiro ou um contínuo, e agradecendo lá me fiz ao caminho em direção à secretaria.
Qual não foi o meu espanto quando, dias depois, vim a saber que aquele senhor, que eu rotulara mentalmente como alguém de estatuto básico na pirâmide hierárquica daquela casa, era “apenas” major general engenheiro aeronáutico, e reitor do IUBI. Fiquei sem palavras, lembro-me muito bem. (Tiro muitas vezes este episódio da cartola quando vejo alguém armado em majestade só porque tem um título importante, como se os títulos lhe dessem a imortalidade. Enquanto formos mortais e perecíveis, não soubermos de onde viemos, para onde vamos, e o que andamos cá a fazer, somos todos igualmente insignificantes à escala do universo. Aliás, sempre achei que a petulância, a pose de pavão, e até o desdém com que algumas pessoas bem sucedidas olham para os menos privilegiados, são provas de pouca inteligência. Podem ser pessoas altamente eficazes a raciocinar, autênticas máquinas de cálculo, alunos de 20, podem ser tudo e mais alguma coisa, inteligentes não são. A inteligência implica compreender que a humanidade só dá um passo em frente cada vez que o bem triunfa sobre o mal. A inteligência é bondosa e humilde, coloca o homem no seu devido lugar face a um universo praticamente infinito, tão infinito que o nosso cérebro, por muito que se esforce, não consegue sequer imaginar...).
Se o reitor Cândido Passos Morgado passava bem por guardador de rebanhos, o professor Avelino Passos Morgado, seu irmão, que chegou ao generalato da academia com a categoria de professor catedrático, não destoava em estilo. E depois, a falar axim e com aquele riso a modos que a fugir para o saloio… nem quero imaginar o saco de gozo que ele não seria no meio dos betos de Cascais.
Apesar do ar algo velho e matarruano, o professor Avelino tinha o seu lado jovial e um sentido de humor que não raras vezes sacudia a plateia. E tinha uma tolerância juvenil, não era nenhum cara de pau, tinha as suas gafes, como todos temos, mas sabia encaixar os falhanços na boa e rir-se de si próprio. Eu olhava para ele e via uma boa pessoa. Penso que ninguém o recorda com ódio ou rancor, e até o epíteto de Broa, e o falar axim, encerram um certo carinho pela sua figura de vôvô cantigas de aldeia rural (um vôvô rigoroso, é certo, talvez demais…). Rimo-nos dele porque o enfrentámos no vigor rebelde da nossa juventude, nesse saudoso tempo em que tudo o que desse para rir a gente aproveitava.
E, já agora, permitam-me que puxe a brasa à minha sardinha e que vos dê uma novidade: eu acho que o prof Avelino gostava de mim. Senão veja-se isto que postei há uns tempos e que agora reposto por via do copy paste:

As aulas de Mecânica Geral do Broa eram um terror, dt, ddt, forças, integrais, ação e reação, e o diabo a quatro. Por isso o Balsinha, para aliviar o tédio, apalhaçava a coisa com um glugluar original: imitava o perú nas aulas. Felizmente o Broa não renegava o glu glu, e até se divertia com ele. (Era bem humorado, o Broa, e depois, com aquele falar assaloiado do axim em vez de assim, e aquela discriminação positiva com que dava prioridade às meninas nas sessões de perguntas e respostas, o tipo era mesmo um postal...).
O Balsinha teve aproveitamento nas frequências, mas, mesmo assim, teve que ir à oral. O que ele não sabia nem imaginava é que o Broa, chegada a altura de lhe fazer a oral, lhe iria propor:
- faxa o peru que está paxado.
O Balsinha sabia que ele não fazia oral a toda a gente e que isso lhe podia calhar em sorte porque já vinha com positiva das frequências, mas quando ele lhe pediu para imitar o peru em troca da aprovação não pôde acreditar, e só pensou que estava tramado:
- vá lá, professor, faça lá a oral, não brinque, eu estou aqui tão nervoso...
- já lhe disse, faxa o peru que está paxado.
O Balsinha ainda insistiu, o Broa contra-insistiu, até que o Balsinha lá se convenceu, e, vai daí, "glu glu glu glu".
- pode-se ir embora que está paxado! - confirmou imediatamente o Broa.
- posso? - hesitou o Balsinha, ainda incrédulo.
- não lhe disse já que sim?
E o Balsinha lá se levantou e saiu, sem oral mas com gluglu, e, principalmente, com o cadeirão da Mecânica no papo...
E esta foi seguramente uma das cenas mais caricatas daqueles longínquos e saudosos anos oitenta, na UBI...  

……………..
Nota final: desejo ao Prof. Dr. Avelino Passos Morgado o melhor, especialmente agora que, segundo sei, passa por alguns problemas de saúde. Se um dia o reencontrar por aí, e se o covid deixar, hei-de cumprimentá-lo com saudade.

Gondri


terça-feira, 5 de maio de 2020

Crónica do vaca-galo.




O vaca-galo

Depois de lançar os búzios, um mago das ciências ocultas viu no futuro da UBI aquilo que nem Nostradamus viu nas suas profecias. Diz ele que os búzios lhe revelaram que a UBI implementará um curso de Veterinária Genética com um projeto de investigação altamente qualificado e sem par a nível mundial, e que estará em condições de, no espaço de duas décadas, produzir um ser vivo original cujo nome incorrerá numa cacocofia (à semelhança do célebre soneto “alma minha gentil que te partiste”, de Camões). Trata-se do vaca-galo, o animal que deriva do cruzamento assistido de um animal mamífero com um animal ovíparo, mais concretamente, de uma vaca com um galo. Infelizmente, segundo o citado lançador de búzios, o animal sofrerá um bulling severo por causa do seu nome que enferma de cacofonia, e todos o molestarão com impropérios tipo, “vá cagá-lo para outro lado, seu cagão de crista e cornos”. Mesmo que não arrie o calhau onde não deve, “vá cagá-lo p'ra outro lado” é insulto que o perseguirá “ad eternum”. O PAN, e a generalidade das associações de defesa animal, hão-de insurgir-se contra os maus tratos ao inocente vaca-galo, mas levarão sempre o mesmo troco dos anti-animalistas: “desde que vá cagá-lo p’ra longe ninguém o maltrata…”. (O que não estará fácil é admiti-lo em restaurantes, porque ninguém arriscará a que ele vá cagá-lo onde os outros vão comer...).

Gondri




segunda-feira, 4 de maio de 2020

Recordações da Mecânica Geral do prof Avelino Passos Morgado…


Cara · palma · emoticon · mão · cabeça · gesto - ilustração de ...


A Mecânica Geral do prof Avelino Passos Morgado era uma espécie de tratado de Tordesilhas na medida em que nos rachava a cabeça ao meio. Ninguém percebia patavina daquilo, até parece que o estou a ouvir com aquela ladainha dos dêdêtês e dos dêdêvês, das forças, dos vetores, do sei lá que mais, enfim, com aquela conversa soviética toda que entrava a cem e saía a duzentos. No teste metia um célebre problema do carrocel e a malta espalhava-se toda com estrondo. Quando chegava o exame já todos sabiam como se resolvia o carrocel para que se aparecesse um igual toda a gente se redimisse. E de facto ele voltava a meter o carrocel, só que punha-o a andar para o lado contrário e era outro espalhanço igual ou pior do que o primeiro.
A matéria era tão complicada e complicável que até dava para o  prof Avelino revelar a sua costela de gozão. Lembro-me de um teste cuja última pergunta era tao inacessível que ninguém a cheirou sequer, foi tudo corrido a um parcial de zero valores na dita cuja. Na aula a seguir, qual bom samaritano, decidiu fazer a correção do teste no quadro. Se estivéssemos no ensino secundário toda a gente acharia normal, mas assim ninguém estava a perceber por que raio estava ele a fazer aquilo, até porque, segundo se sabia, ele nunca o fizera antes. E também ninguém lhe conseguiu descortinar as intenções quando ele chegou à correção da tal última pergunta, que ninguém resolvera, e disse, com um sorriso irónico: - esta não resolvo, esta é para vocês resolverem. O pessoal tentou resolver e népias, andou de volta dos livros, consultou tudo o que foi possível consultar, pediu inclusivamente ajuda a outros professores, e nada. E só quando chegou o exame é que a malta percebeu o esquema: lá estava outra vez a mesma última pergunta, exatamente igual, sem tirar nem pôr, e imagino as gargalhadas sádicas que o Prof Avelino não deve ter dado ao confirmar que a coça da segunda parte tinha sido igual à da primeira.
A contestação ao complicómetro do prof Avelino era geral. Um dia abordei-o no bar da universidade, “ó professor, para quê tanta dificuldade se aquilo é tudo para esquecer e nunca mais vamos precisar daquilo para nada?!”, mas ele chegou e sobejou p’ra mim, “você nunca se esqueça do que lhe vou dizer: um curso superior não é para dar informação, é para dar formação”. Continuou explicando que eram as dificuldades, o esforço de pesquisa (na altura a net era a biblioteca), o esforço mental, etc., que dava ao aluno o arcaboiço para enfrentar os desafios de uma futura profissão, que a informação ia mas a formação ficava. E eu não tive pedalada para ele.
Confesso que nesse dia fiquei rendido à clarividência do prof Avelino, até porque não estava à espera de tanta perspicácia. É que alguns dias antes tinha saído do gabinete dele a cheirar a burro. Fora lá ao gabinete, não me recordo para quê, e diz-me ele “você é que é o…como é que é?”, “gondri, professor”, “porque é que lhe chamam isso, esse não é o seu nome, pois não?”, “não professor, sou gondri porque sou Gonçalves Rodrigues, e gondri são duas sílabas do meu nome”, “como é que é isso, duas sílabas do seu nome?”, “sim professor, gon de Gonçalves e dri de Rodrigues”, ”como é que é, explique lá isso melhor?!”, “então professor, a primeira sílaba de Gonçalves, gon, e a segunda de Rodrigues, dri, gon-dri”, “mas, mas…, não estou a perceber nada…”, só sei que andei ali às voltas uma data de tempo para lhe explicar a coisa mais simples do mundo, e primeiro que ele percebesse... Mas vá lá que depois se redimiu com aquela tirada monumental de que o curso não era para dar informação mas sim formação... (Hoje penso que se calhar lhe parou a cassete porque estava tão habituado às complicações da Física que as coisas demasiado fáceis lhe entupiam por completo a engrenagem…).

Gondri


Palavras só atrapalham ...


Lamento ...


Lamento

Com o avolumar da idade, da experiência, confesso que evito repetir as palavras de meu Pai, que tanto ouvia e, posso confidenciar, detestava. 
Detestava quando algo me acontecia e ele repetia, quase, com um sorriso nos lábios

“Eu avisei, eu disse-te que isso ia acontecer !!”
“O Diabo sabe muito, não por ser o diabo mas por ser velho …”

Enfim, todo esse rol de velhos ditados que, lamentavelmente, teimam em se confirmar.

Pois mas, neste blogue já tinha, bastas vezes alertado, referido, mencionado que, quando se está num projecto global, de “agregação” de histórias, de individualidades, de personalidades, se deve têr especiais cuidados, se deve têr "open mind", se deve agradecer o que se recebe ao invés de se exigir o que se pretende.

Infelizmente, as realidades da “minha história” de 34 anos, reaparecem agora, na sua pior forma, comprometendo um “belo e louvável” projecto.

Teima-se em “quero, posso e mando” em “servir-se e não servir”, num provincianismo que “julga merecer, exigir e não dar”, num “egocentrismo” bacoco e arcaico, num bairrismo redutor ao invés de um universalismo libertador, enfim, é lamentável, com as voltas que o Mundo deu, nestes 34, em alguns lugares, em algumas pessoas, se mantenha tudo incompreensivelmente “imutável”.

Lamento …

Desertuna - UBI - Covilhã

Desertuna - Covilhã - UBI


EncantaTuna, no Theatro Circo de Braga ...

XXIV TROVAS | EncantaTuna - Tuna Académica Feminina da UBI-Theatro Circo Braga


Para as mães

Neste dia das mães ...

domingo, 3 de maio de 2020

Não aconteceu na nossa UBI mas podia ter acontecido…

                         Frase do matemático e físico inglês Isaac Newton • Notícias ...


Há um tempo atrás pus-me a pensar num post para meter na minha página do face. Não tinha nenhum rasto para seguir, nenhum tema pré-definido, nada que comentar, era o que me viesse à cabeça. Quando é assim saem coisas inesperadas, como se a cabeça se tornasse independente, trabalhasse sozinha e mandasse um relatório das conclusões para a consciência, que as recebe incrédula, tipo não dei por nada. Ao contrário do pensamento concreto, como seja a resolução de um problema matemático, a resposta a uma pergunta de conhecimento, etc. (tudo o que envolva inteligência e memória), o pensamento abstrato, a imaginação, não tem uma solução oficial única e universal, como dois e dois são quatro, tem todas as soluções que saírem, espontânea e aleatoriamente, a ponto de até o próprio ficar paradoxalmente surpreendido com aquilo que, afinal, saiu de dentro dele.
Bem, este parágrafo de faladura afilosofada, tipo introdução teórica, foi só para dizer que há tempos me veio á cabeça, sem eu saber como, uma breve cena académica que não aconteceu mas podia ter acontecido, ou que, do mesmo modo, não aconteceu na nossa UBI mas podia ter acontecido…
(Mesmo mantendo que não sei como, desconfio que talvez uma adivinha que me contaram de alentejanos me tenha influenciado subconscientemente. Já agora vou contá-la como me contaram a mim, mas, para não melindrar o Alentejo (que eu adoro!), todos os alentejanos, e até para demover os garantes da moral deste blogue de me expulsarem sumariamente, vou aqui fazer uma adaptação e substituo o Alentejo pelo Brasil, não só para me vingar das anedotas de portugueses que andam lá de boca em boca, mas também para achincalhar o imbecil do Bolsonaro. Então é assim: P: quanto tempo é que demora a fazer um aborto no Brasil? R: nove meses.)
Sem mais delongas, cá vai o copy paste da tal pequena história que na altura saltou para a minha página do face:

O prof. Nélio na sua dissertação explicava a história da maçã que teria caído em cima da cabeça de Newton, abrindo caminho à descoberta da gravidade.
Aí o Pilro, o aluno mais chato de toda a academia, perguntou:
- e se em vez de estar debaixo de uma macieira estivesse debaixo de um coqueiro, e um côco duro como cornos lhe abrisse a cabeça?!...
O prof Nélio, já cansado de aturar as parvoíces do Pilro, resolveu arrasá-lo :
- bem, nesse caso o Newton ter-se-ia dedicado à tua defesa.
- à minha defesa?... - perguntou o Pirlo, confuso e incrédulo.
- claro, só quando ficou com a mente aberta é que o Newton começou a defender o aborto...


Gondri




Máscaras ...



Não basta usar uma máscara, por mais “fashion” que seja, convém que, também proteja.


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Um exemplo, apenas um exemplo ...



        No seguimento de anteriores posts, aqui deixo um exemplo, apenas um exemplo, de como a Academia se pode pôr ao serviço da comunidade, de como a Academia pode cumprir o seu desígnio social, como diria João Leitão, o seu desígnio Universalista, sem necessidade de pedidos, contrapartidas ou lideranças, apenas a humildade de quem, consciente dos seus conhecimentos, das suas valias, se disponibiliza á sua partilha …

é professor universitário na Escola de Engenharia da Universidade do Minho. A par das aulas é o timoneiro de um grupo de mentes inquietas que dão corpo à
plataforma “Fibrenamics”, um cluster de conhecimento avançado no universo de materiais à base de fibras.
Com conhecimento e tecnologia têm procurado desenvolver soluções inéditas que aceleram a inovação das empresas e indústrias portuguesas. Nesta conversa ficamos a perceber como estes materiais nos podem proteger do COVID19 mas também do papel que vão desempenhar na nossa vida num futuro muito próximo do nosso presente.

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sábado, 2 de maio de 2020

Mete-o, mete-o. Tira-o, tira-o.




Voltando à vaca fria, a Análise Matemática da Ana Maria São Miguel mais parecia um templo dedicado ao culto do provérbio “preso por ter cão preso por não ter” (perdoem-me os senhores do PAN o uso de provérbios com cãezinhos, mas, tal como no Carnaval, em tempo quarentenal ninguém leva a mal…).
Antes que me acusem de malcriação e ofensa verbal à senhora, quero deixar bem claro o seguinte: “voltando à vaca fria” não é uma forma subtil de chamar vaca à senhora, e muito menos de lhe chamar fria, é apenas uma expressão corrente da língua portuguesa que significa regressar a um tema, no caso o sistema de avaliação da própria já por mim narrado em anterior publicação (vide “A Análise Matemática da Ana Maria São Miguel, um terror…).
Ora, como disse na altura, a madame queixava-se, qual virgem ofendida, de que se fazia testes difíceis era uma lástima, se fazia fáceis uma lástima era. E nós, enfermando da mesma epidemia, dizíamos que tanto fazia estudar como não, se era pouco não chegava, se era muito chegava demais, tropeçava nas supostas rasteiras dos testes, complicava o que era fácil, e lá vinha o cagalhão de chumbo a rolar pela reprovação abaixo…
Mas não se pense que isso de ser “mal de uma maneira pior da outra” era exclusivo da Ana Maria São Miguel. Recordo de alguém me contar que num certo teste, de uma certa cadeira (os fusíveis que me restam na memória já não dão p’ra mais…), o professor lhe tinha dado zero num exercício porque ele, apesar de responder correto, não se limitara a responder ao que a pergunta dizia, e continuara a botar sabedoria além do que lhe era pedido só para o impressionar. Não sei que justificação o professor lhe terá dado, mas imagino que tenha sido qualquer coisa como “se você apostar que consegue dar vinte traques seguidos e der vinte e um, você perde, porque a aposta são vinte, não são vinte e um”. Não, a sério, o que acho que de facto lhe disse foi que já lhe chegava o trabalho de corrigir as respostas ao que perguntava, quanto mais estar a perder tempo com sabichões por conta própria. Por isso, o melhor era demover os engraçadinhos logo de uma vez, que ele tinha mais que fazer…
Ou seja, dê para onde der, um tipo está sempre condenado ao fracasso, há sempre alguém de gume afiado pronto para espetar nos culpados, nos não culpados, e até nos desculpados… Quando alguém quer desconversar não há hipótese, se um tipo ri é porque não devia rir, se não ri é porque devia rir, se fala é porque devia estar calado, se está calado é porque devia falar, até me faz lembrar uma certa história que me contaram e aqui reporto, em lembrança ao meu Benfica tão causticamente acossado por causa das toupeiras (mais uma vez peço perdão ao PAN, mas desta vez pela alusão abusiva a esses lindos seres subterrâneos):
Há um tempo atrás, em pleno estádio da Luz, um adepto do Benfica gritava a plenos pulmões, irritadíssimo:
- mete o Jonas, mete o Jonas!!!
Entretanto, o filho, que estava ali mesmo ao lado dele, interpelou-o, clarificando:
- Mas ó pai, o Jonas está a jogar!
E o homem, no imediato, reformulou os gritos, igualmente irritadíssimo:
- tira o Jonas, tira o Jonas!!!

Gondri


João Leitão no Jornal do Fundão




 Ao lêr atentamente o artigo de João Leitão, no Jornal do Fundão de 4/3/2020, cujos passos, para mim, mais relevantes, tive o cuidado de ressalvar e transcrevo:

… A Universidade tem um sentido amplo, com vocação universalista, que naturalmente deve integrar e liderar redes ou consórcios de agentes de educação, investigação e desenvolvimento, e transferência de conhecimento e tecnologia, em consonância com a sua missão tradicionalmente tripartida, à qual acresce a emergente atividade e responsabilidade de sustentabilidade da Região-Cidade…
Colocar a tónica na relação entre a Região-Cidade e a Universidade é corajoso e fora do quadrado, pois obriga a pensar, de forma aturada, sobre o que a região pode efetivamente fazer pela Universidade, e não o contrário, como é habitual observar no pensamento dominante dos agentes políticos, empresariais e sociais, que por uma vez, deveriam pensar em servir e não somente em servirem-se da “noiva” Universidade,
… questionar para quando se prevê: (1) a revisão articulada dos Planos Diretores Municipais, integrando um conceito de Campus Universitário de Excelência da Região_Cidade; (2) a criação na região de um instituto europeu de investigação na área da qualidade de vida e sustentabilidade das regiões; (3) o investimento em facilidades (estruturas) vocacionadas para o desporto de alta competição, em altitude; (4) o desenho e a implementação de uma região bio de produções e energias verdes; (5) o investimento numa estrutura intermodal de transportes: aeroportuário; ferroviário; e rodoviário; (6) a criação de uma casa regional de artes, culturas, tecnologias e engenhos; (7) a criação de uma rede de telemedicina e apoio social para um envelhecimento seguro e saudável; (8) a criação de corredores verdes de florestação e biodiversidade; (9) o investimento no regadio a norte e a sul, em articulação com a estrutura já existente a este; (10) a construção social dedicada a quadros e estudantes nacionais e internacionais; (11) a criação de uma agência de investimento e internacionalização da região; e (12) a comunicação concertada e aglutinadora das marcas nascidas na Região_Cidade
… Está mais do que na hora, de transferir o debate hermético da Universidade para a região e ousar compensar o saldo, inequivocamente, superavitário, em termos do que a Universidade fez, faz e irá fazer por uma nova Região_Cidade, que deve ser reorganizada e estruturada com o fim de aumentar o bem-estar social e comum, e não continuar a alimentar o status quo das individualidades egocêntricas e dos senhores feudais da Terra!
Só me cabe o seguinte comentário;
Será que em 34 anos, não aprenderam nada.
Têm a coragem de terminar o artigo, denominando outros, como “individualidades egocêntricas”.
Será que, o trabalho da UM, não lhes serve de inspiração, numa demonstração de que, serão as suas iniciativas, as suas acções, em prol da região que provocarão uma reacção de aproximação.
A criação, quase universal, de áreas de “incubação”, junto dos campus, em outras Instituições, não vos diz nada ?
A Universidade, per si, representa o melhor, de massa crítica, de conhecimento, que não do empreendorismo, que a Beira Interior possui, porque não, por iniciativa da própria, ao invés de reclamar a outros, a criação de “boards”, dedicados á região, que elaborem “reports”, proponham medidas efectivas, assumam responsabilidades para com a mudança, o futuro ?
Porque não esquecer lideranças e priorizar iniciativas?  
Creio que como, há 30 anos, se esquecem que a Universidade, que tanto fomenta a economia local e, mesmo regional, não é a base da pirâmide, nem o seu topo, a Universidade subsiste, graças aos alunos que a frequentam, ás suas propinas e subsídios retirados dos impostos de “todos “ os Portugueses, que o seu impacto na economia local , será fruto dos investimentos desses estudantes, no comércio local, em rendas de alojamentos locais, no Turismo, em grande parte, pela promoção, desses mesmos estudantes, principalmente os "de fora", etc...
Como tive oportunidade de o expressar, também, o respeito não é um direito mas, uma conquista, tal como a liderança .
A prazo, como muitos outros estabelecimentos de ensino, a UBI, deparar-se-á, com uma redução desses fluxos de estudantes, de receitas para si e para o que a rodeia e, como muitas outras, terá de rentabilizar serviços, de rentabilizar a sua massa crítica, seja em trabalhos de investigação seja em consultadoria e, nesse momento, como não criou, como não “semeou”, sentirá que essa lacuna, na sua vida, na sua história, se encarregará de lhe dará a merecida humildade, a justificada “bofetada de luva branca”.

A Universidade de Granito

Como punição pelo meu mau comportamento juvenil fui parar à IUBI. Não era que a perspectiva me desagradasse. Afinal ia ser independente aos 19 anos, ter uma mesada para gerir e fazer o que me desse na real gana. Sempre esteve nos meus planos fazer estudos universitários -- a minha sorte é que o meu pai conseguia pagá-los fora de Lisboa. A minha primeira opção tinha sido Coimbra, mas nem para ali consegui entrar. Que fosse Covilhã então. Qualquer coisa menos Lisboa.

Estávamos na primeira metade dos anos 80. Havia uma grande crise económica, houve um resgate do FMI em 1983, e tinha família próxima a emigrar para os EUA. O ensino secundário deixava muito a desejar e fora dele pouco havia para entreter os jovens. Na grande cidade de Lisboa, os adultos estavam fora e os jovens entregues a si. A delinquência juvenil era um problema sério. Isto num país que uma década antes tinha saído de uma realidade política aterradora e de uma total miséria cultural. Os mais velhos pouco tinham para nos oferecer. Não estávamos interessados nem nos seus valores nem na sua dita cultura. Tínhamos de criar os nossos.

Foi neste cenário que um dia à tarde saí de uma camioneta em pleno Pelourinho. O magnífico edifício da câmara municipal à minha frente. O café Montalto, ainda em pleno funcionamento, à direita. Sem ter feito qualquer reserva, procurei uma pensão barata onde dormir e dirige-me depois ao Montalto para comer qualquer coisa. Estavam lá uns jovens que imediatamente me identificaram como caloiro. Entre eles o Eduardo Brandão e o Carlos Pedroso que por pouco não me deu uns murros (provavelmente bem merecidos). Tive direito a descer a rua num contentor de lixo, o que, só por sorte, teve menos consequências que ter levado uns socos do Pedroso. Vilipendiado, fui coagido a recolher.

Voltei então à pensão Duarte, era assim que se chamava, que de tão barata só tinha uma cortina que me separava de outro hóspede, que ressonava que nem um porco. Como vingança não hesitei em fumar do meu lado da cortina, vá lá, com a janela aberta, e Siouxie and the Banshees em volume máximo no meu leitor de cassetes Sony com auscultadores. O porco não acordou e eu estava feliz, mas não por essa razão.

No dia seguinte às 9 da manhã já estava na IUBI, tal como instruído pelos veteranos. Tinha agora pouca vontade de os contrariar, não diria por medo mas apenas por uma questão de cálculo. O edifício, novo, recuperado do que tinha sido a antiga Real Fábrica dos Panos, e posteriormente um quartel, era ao mesmo tempo austero e moderno. Nada a ver com os bafientos liceus da capital, o que me causou uma forte impressão. O Brandão, que tinha conhecido na véspera, levou-me numa visita guiada, durante a qual obtive noções básicas de etiqueta da praxe.

À hora do almoço já tinha toda a papelada da matrícula tratada e à tarde encontrei-me com um tal de Pedro Justino, mais conhecido por Pópó, um pequeno mas intrépido escalabitano, que conhecia vagamente de aventuras no Bom Sucesso e Foz do Arelho, através de um amigo comum. Foi simpático o suficiente em andar comigo a tarde toda à procura de um quarto para me instalar no início do ano lectivo. Regressei a Lisboa nesse mesmo dia, com tudo pronto para 2 anos memoráveis.


Ser parte da solução, não do problema ...



Desde a minha entrada na IUBI, que aprendi, não apenas sobre engenharia, sobre têxtil mas, sobre estratégia, sobre divisão, sobre “jogos de bastidores”, desde as “famosas RGA’s”, onde por divisões instigadas, os alunos entravam divididos, os alunos entravam “formatados”.

Confesso que, nos 80’s, a economia e as estruturas, aceitavam e, por vezes, instigavam até, “guerras” inter-departamentos, litígios entre áreas funcionais como as, clássicas, entre comerciais e produtivos.

Eram essas guerras que, não bastas vezes, possibilitavam triunfos da incompetência e inacção.

Os anos passaram, as economias evoluíram e, tornou-se fundamental, para as empresas, a partilha de objectivos comuns, de retirar o máximo de competência de todos, de que todos caminhassem num mesmo sentido, em busca de um mesmo objectivo.

A gestão “conflitiva” teve, por questão de sobrevivência das estruturas, de se transformar em gestão em equipa, em gestão colaborativa, onde cada um, com acções e responsabilidades distintas, interage de forma complementar com os seus pares.

Esta evolução, nada teve a vêr com questões mais ou menos de oportunidade ou de volatilidade mas, sempre, com questões de sobrevivência.

As pessoas, como os modelos empresariais, se se querem manter respeitadas, activas, úteis, têm também evoluir, crescer, amadurecer.

Há algum tempo, coloquei um artigo intitulado “Eu vs Nós” e, coloquei-o porque, acredito, a envolvência, a participação, a colaboração de todos os intervenientes, num qualquer projecto, percurso ou actividade é fundamental, para se conseguir o sucesso, para se atingir o bom porto.
Noutro artigo falei sobre o “não olhar para trás, para a UBI, para a Covilhã”.

Pois bem, hoje fui confrontado com a informação da ruptura entre os promotores desta Rota Ubiana .
Da ruptura entre quem me "trouxe" para este projecto.

Sobre isso, devo dizer que, sempre esperei que este projecto, ao ser implementado, criasse dimensão própria, se tornasse superior á soma dos seus promotores, se tornasse superior aos Zés, Maneis, Marias ou Isabeis, que a Rota UBIana, se tornasse independente dos seus promotores e passasse a sêr dos IUBIanos, no seu todo, como a UBI, mais tarde ao mais cedo, terá de deixar de sêr da Covilhã, dos Covilhanenses e passar a sêr de “todos”, de “todos” os seus alunos, de “todos” os seus funcionários e Docentes, de todo o País.

Por tudo isto apelo, em primeiro, ao Nuno Ramos, que enquanto coordenador, terá, responsabilidades acrescidas, mas, também, á Conceição Pereira, principal e incansável obreira de todo o trabalho visível e funcional que, em nome de algo que lhes é superior, valorizem o que os une e desvalorizem as diferenças para que o presente projecto rume ao sucesso.

Obrigado
Vasco Silva   

sexta-feira, 1 de maio de 2020




                                                  Aluno 525 - Engenharia Têxtil-Ramo Produção da IUBI-Vasco Silva


Muitos questionarão, até com desagrado, quem é este “cromo” que deu em despejar textos, aqui nos Blogs e, se julga no direito de opinar, relativamente á “nossa” Universidade, á “nossa UBI”.

Pois bem, contrariamente a muitos dos meus estimados colegas, quando saí, ainda a faltar a famigerada última cadeira, que só completei, graças ao cuidado do colega e amigo Melo, não mais voltei atrás, aliás, apenas uma vez, voltei, estando a elaborar um projecto de renovação Industrial, dirigi-me ao meu “mestre” de tecelagem, na expectativa de auxiliar na selecção das máquinas, infelizmente, a sua resposta coincidia com o meu primeiro excluído, pois, eram só, as mais caras, as que mais atrasariam a amortização, as que tornariam as passagens mais onerosas, para uma mesma produtividade, enfim as que trariam menor competitividade aos produtos fabricados, pois bem, saí, para não mais voltar e, cada vez que olhava para trás, mais desiludido ficava…

Não com colegas, não com professores ou amigos, apenas, uma UBI que “carregávamos” pelo País e pelo Mundo, e ao invés de se diversificar, de se expandir, ia, cada vez mais, encapsulando, fechando em si própria, sem “olhar” ás expectativas dos seu licenciados, ás necessidades das Industrias regionais, sem se preocupar em “alimentar” em pessoas, em competências, em soluções, toda uma região que, muito mais, que qualquer região do litoral, precisava, aspirava, por novas soluções por tecnologias, por “ideias”, por ajuda, mesmo aquela ajuda pedida mascarada de soberba, de “histórico orgulho”.

Ainda não tinha terminado o último ano lectivo e já havia recebido propostas de trabalho da TMG, em Famalicão e de Fareleiros, em Avelar. Após visitar ambas, entre a TMG tecnologicamente referencial e a Fareleiros, tecnológica e estruturalmente “arcaica”, a minha selecção recaiu, pasme-se, em Fareleiros, onde via a possibilidade de, fazer a diferença e, assim foi, com “noites sem dormir” para conseguir implementar as “novas” ideias, sem comprometer a motivação de operários, muitos com mais tempo de trabalho que eu de idade. 
Nesses momentos, não esqueço, o nosso colega Alexandre Matos (Xaninha) que me acompanhou.

Pois muito bem, a experiência profissional, começou pela organização dos armazéns de matérias primas e, organização da produção, aí, concorremos ao dito projecto de restruturação e mudámos as máquinas, então ainda de lançadeira (Lenz) por máquinas de pinças (placencia). A partir daí, havia necessidade de “rentabilizar” as máquinas, em termos produtivos e, tornou-se necessário gerir o planeamento produtivo, depois tornou-se necessário procurar novos clientes e encomendas e, começamos a visitar clientes nos tradicionais mercados de França, Inglaterra e Alemanha. Em resposta a “novos” mercados e novos clientes, tornou-se necessário criar uma unidade de desenvolvimento de produtos, seja em construção seja, em combinações e cores, ou, ainda, criar procedimentos de “confirmação de encomendas”. Relembro que, nessa altura, havia em toda a unidade, 1 computador AS400, dedicado á Contabilidade e, por necessidade o meu “Bondwell” portátil, comprado por mim, por 500 contos (2500€) que ainda trabalhava em MSDos.
As coisas foram correndo, e, numa feira na Alemanha fui desafiado a mudar-me para o Minho, para Braga, para “ A Fiandeira”.

“A Fiandeira”, era, então, detida pelo grupo financeiro Francês, Chargeurs e, a sua estrutura era, como uma unidade Multinacional. Para quem vinha de uma Empresa familiar, com 2 computadores, 2 engenheiros e 1 debuxador (desenhador), a entrada numa estrutura onde, tudo era informatizado, onde tudo era controlado, onde tudo era “profissional” foi como a chegada a um novo Mundo.
Ainda hoje, não encontrei nas, muitas empresas por onde passei, uma Empresa com a organização e a gestão que “ A Fiandeira” possuía, e da qual, confesso, sou fã e adepto.
As reuniões de Direcção eram confrontadas com mapas, não meros mapas motivacionais mas, do tipo “ a Tecelagem possui X milhões de passagens diárias, porque é que só foram efectuadas Y%”, etc…
Tudo transparente, tudo profissional …
N”A Fiandeira” corri Mundo, por vezes cruzando com o Luís Filipe Pereira, com excepção de África e da Oceania, onde, na altura, ainda não se justificava a “aposta comercial”. Em Portugal tínhamos apenas a “Maconde” como cliente.

Pois bem, acreditando que pelo trabalho desenvolvido ter sido meritório, fui desafiado a partir para a “Vilatêxtil”, referência dos tempos de estudante e por onde, entre outros, tinha passado o nosso Ilustre colega António Aguilar, o primeiro de entre os licenciados em Têxtil pela UBI.
Por morte do fundador, a filha e o marido, registavam algumas dificuldades para “alavancarem o barco” e lá fui eu.

A partir daí, empresas com mais ou menos dificuldades, vieram têr comigo, para um diagnóstico, para uma estratégia para uma solução e, enveredei, definitivamente pela gestão, pela consultadoria, pela formação, umas vezes de produção, outras comercial pois, não bastas vezes diagnósticos de ineficiência comercial denotam reais problemas produtivos, de desenvolvimento de produto, de planeamento e, vice versa.

Voltando ao início, em todo esse percurso, nunca voltei á UBI, mesmo quando estive 4 anos ligado a uma Empresa de Teixoso, tudo fazia para “evitar” a UBI, a Covilhã, fosse por mágoas antigas fosse por desilusões recentes.

Após muita ponderação e, por insistência do Nuno Ramos e da Conceição Pereira, lá acedi a registar-me, a participar nos Blogs. Todavia, para mim, participar é ajudar, é, como se exige aos amigos, aos companheiros, dizer as verdades, por mais duras e cruas que sejam, é ajudar a melhorar, é querer o melhor para os vindouros

Na Universidade, na Covilhã, aprendi muito, do que gostava e, particularmente, do que odiava, mas no meu percurso profissional, sempre tive a “honra” de representar a Engenharia Têxtil da UBI, da Covilhã, orgulhosamente. 
Reconheço um temperamento que, poderá não ser fácil mas, acredito, é justo e correcto e sempre procurei, dignificar a Instituição.

Á IUBI, UBI e Covilhã, acredito, também dei muito mas, isso são histórias para outros, para os meus amigos, companheiros, colegas e até “inimigos”, partilharem.  
Obrigado    

A Carta ...




Encontrando-nos reunidos, naquele átrio, no topo das escadas, logo ao cimo das escadas, á direita da porta de entrada, todos entretidos, a ponderar novas formas de praxe, novas formas de convívio, chega-me um colega, que não vou nomear, todo entusiasmado porque, tinha recebido uma carta do Pai, com, acreditava ele, a "esperada e desejada" mesada
Ok, então abre, pá.
Ele abre e, de entusiasmado, começo a vêr uma lividez cadavérica a apossar-se dele.
Então rapaz que se passa ?
Em resposta estende-me a carta, bem aberta e, então vi todo o seu teor ...

?

Pois, um "ponto de interrogação" gigante era tudo o que figurava, enquanto texto e, dentro do envelope, nada mais existia. 
Ao ver aquilo, questionei, então pá, se recebeste esta e é uma resposta a outra carta que enviaste, posso saber teor da que mandaste.
O pá, foi muito simples o que escrevi ...
Olha foi:

Pai !
Cumprimentos para lá, dinheiro para cá .

Um abraço para este colega e a memória da forma simpática, amiga e até, paternal, com que seu pai nos recebeu, numa memorável viagem de 36 horas, entre a Covilhã e o Cartaxo.