sábado, 2 de maio de 2020

Mete-o, mete-o. Tira-o, tira-o.




Voltando à vaca fria, a Análise Matemática da Ana Maria São Miguel mais parecia um templo dedicado ao culto do provérbio “preso por ter cão preso por não ter” (perdoem-me os senhores do PAN o uso de provérbios com cãezinhos, mas, tal como no Carnaval, em tempo quarentenal ninguém leva a mal…).
Antes que me acusem de malcriação e ofensa verbal à senhora, quero deixar bem claro o seguinte: “voltando à vaca fria” não é uma forma subtil de chamar vaca à senhora, e muito menos de lhe chamar fria, é apenas uma expressão corrente da língua portuguesa que significa regressar a um tema, no caso o sistema de avaliação da própria já por mim narrado em anterior publicação (vide “A Análise Matemática da Ana Maria São Miguel, um terror…).
Ora, como disse na altura, a madame queixava-se, qual virgem ofendida, de que se fazia testes difíceis era uma lástima, se fazia fáceis uma lástima era. E nós, enfermando da mesma epidemia, dizíamos que tanto fazia estudar como não, se era pouco não chegava, se era muito chegava demais, tropeçava nas supostas rasteiras dos testes, complicava o que era fácil, e lá vinha o cagalhão de chumbo a rolar pela reprovação abaixo…
Mas não se pense que isso de ser “mal de uma maneira pior da outra” era exclusivo da Ana Maria São Miguel. Recordo de alguém me contar que num certo teste, de uma certa cadeira (os fusíveis que me restam na memória já não dão p’ra mais…), o professor lhe tinha dado zero num exercício porque ele, apesar de responder correto, não se limitara a responder ao que a pergunta dizia, e continuara a botar sabedoria além do que lhe era pedido só para o impressionar. Não sei que justificação o professor lhe terá dado, mas imagino que tenha sido qualquer coisa como “se você apostar que consegue dar vinte traques seguidos e der vinte e um, você perde, porque a aposta são vinte, não são vinte e um”. Não, a sério, o que acho que de facto lhe disse foi que já lhe chegava o trabalho de corrigir as respostas ao que perguntava, quanto mais estar a perder tempo com sabichões por conta própria. Por isso, o melhor era demover os engraçadinhos logo de uma vez, que ele tinha mais que fazer…
Ou seja, dê para onde der, um tipo está sempre condenado ao fracasso, há sempre alguém de gume afiado pronto para espetar nos culpados, nos não culpados, e até nos desculpados… Quando alguém quer desconversar não há hipótese, se um tipo ri é porque não devia rir, se não ri é porque devia rir, se fala é porque devia estar calado, se está calado é porque devia falar, até me faz lembrar uma certa história que me contaram e aqui reporto, em lembrança ao meu Benfica tão causticamente acossado por causa das toupeiras (mais uma vez peço perdão ao PAN, mas desta vez pela alusão abusiva a esses lindos seres subterrâneos):
Há um tempo atrás, em pleno estádio da Luz, um adepto do Benfica gritava a plenos pulmões, irritadíssimo:
- mete o Jonas, mete o Jonas!!!
Entretanto, o filho, que estava ali mesmo ao lado dele, interpelou-o, clarificando:
- Mas ó pai, o Jonas está a jogar!
E o homem, no imediato, reformulou os gritos, igualmente irritadíssimo:
- tira o Jonas, tira o Jonas!!!

Gondri


1 comentário:

Unknown disse...

...fomos cobaias, fomos carne, fomos numeros... that's why...
Depois conto-vos...