quinta-feira, 14 de maio de 2020

A colónia de fibras do Silveira...

ESTUDIO DE FIBRAS TEXTILES AL MICROSCOPIO | Fundación Alfredo Harp ...

A minha memória está estafada mas há episódios que eu não esqueço.
Numa aula prática no Acondicionamento Têxtil, na Covilhã (ajudem-me porque já não me recordo ao certo a que cadeira, Matérias Primas?...), estávamos a identificar fibras ao microscópio. O nosso professor era o prof Mário Tavares, um homem austero na maneira de ser e de vestir, recatado, de poucas palavras e nenhum riso, a quem nunca tínhamos ouvido nem a réplica de uma gargalhada, quanto mais a própria gargalhada.
Ora estava o Silveira (o saudoso Silveira, da Capinha, o que é feito dele e da sua famosa 4L que não dava para subir à serra porque lhe faltavam cavalos?...) ao microscópio, e às duas por três diz ele : - está aqui uma colónia de fibras.
Bem, não vos digo nem vos conto, o prof Mário Tavares desata a rir, e para parar?!... Esteve a aula toda a rir, desde aquela tirada do Silveira até ao derradeiro segundo. Estava um ou dois minutos sério e, de repente, lá lhe vinha outra vez à superfície aquela da colónia de fibras e zás, outra vez desmanchado a rir. Nós delirávamos com ele e também riamos que nem uns perdidos. É que ver o prof Mário Tavares a rir só por si já era um acontecimento, ele que, apesar de educado, acessível e boa pessoa, tinha sempre um ar sério e conservador. Mas vê-lo a rir convulsivamente, a aula toda sem parar, intermitentemente desde o início até ao fim, então isso era mesmo de loucos.
Se o Silveira tivesse dito que estava ali um conjunto de fibras, um agregado de fibras, ou coisa que o valha, não se tinha passado nada. Mas uma colónia… isso colónia é de focas ou de pinguins, não é de fibras, e decerto que foi isso que despoletou o riso no prof Mário Tavares que parecia uma criança pequena encantado com aquela “colónia” do Silveira.
O Silveira, claro, olhava para a gente e encolhia os ombros, incrédulo, também ele esgotado de tanto rir. Ele dissera que aquilo era uma colónia de fibras achando que era uma designação normal; o termo “colónia”, apesar de se aplicar a um aglomerado de animais, podia perfeitamente ser extensivo a fibras, a linguagem permite isso e muito mais na sua maravilhosa elasticidade. Mas o que é que vocês querem, o prof Mário Tavares deu-lhe para aquilo…  naquela cabeça imagino que só ecoasse o barulho ensurdecer das colónias de focas, de pinguins, de leões marinhos, etc.,…, e muitos episódios do National Geographic…
(Bem, eu levei a coisa para as colónias de animais porque essa me pareceu a explicação mais lógica. Mas, como não entrei lá dentro da cabeça dele para confirmar, há uma dúvida que me acompanhará até ao último dia: será que não foram mas é as nossas antigas colónias ultramarinas que lhe soltaram o riso?!...).

Gondri

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