terça-feira, 5 de maio de 2020

Crónica do vaca-galo.




O vaca-galo

Depois de lançar os búzios, um mago das ciências ocultas viu no futuro da UBI aquilo que nem Nostradamus viu nas suas profecias. Diz ele que os búzios lhe revelaram que a UBI implementará um curso de Veterinária Genética com um projeto de investigação altamente qualificado e sem par a nível mundial, e que estará em condições de, no espaço de duas décadas, produzir um ser vivo original cujo nome incorrerá numa cacocofia (à semelhança do célebre soneto “alma minha gentil que te partiste”, de Camões). Trata-se do vaca-galo, o animal que deriva do cruzamento assistido de um animal mamífero com um animal ovíparo, mais concretamente, de uma vaca com um galo. Infelizmente, segundo o citado lançador de búzios, o animal sofrerá um bulling severo por causa do seu nome que enferma de cacofonia, e todos o molestarão com impropérios tipo, “vá cagá-lo para outro lado, seu cagão de crista e cornos”. Mesmo que não arrie o calhau onde não deve, “vá cagá-lo p'ra outro lado” é insulto que o perseguirá “ad eternum”. O PAN, e a generalidade das associações de defesa animal, hão-de insurgir-se contra os maus tratos ao inocente vaca-galo, mas levarão sempre o mesmo troco dos anti-animalistas: “desde que vá cagá-lo p’ra longe ninguém o maltrata…”. (O que não estará fácil é admiti-lo em restaurantes, porque ninguém arriscará a que ele vá cagá-lo onde os outros vão comer...).

Gondri




5 comentários:

Sao Teixeira Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sao Teixeira Pereira disse...

hahahaha

Gondri, és realmente um génio, um ilustre sucessor de Camões!



Com tal qualidade de cacofonia,

Nem o vaca-galo entende a alegoria!

:-)

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Adoro os sonetos de Camões!

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.




Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

Vasco Silva disse...

Bem Gondri

Mais um excelente contributo, mais um excelente texto.

Infelizmente, começo a ponderar se as participações, quase individuais e, sistemáticamente, dos mesmos, num bloque que, deveria ser, dos IUBIanos, de "todos" os IUBIanos, não deturpará os objectivos.

Da minha parte, por enquanto, decidi "suspender" a participação, na expectativa que, outros, contribuam, também, para os conteúdos .

Abraço
Vasco

Gondri disse...

São,
Camões não é um poeta, Camões é a poesia.
Calhei a ver esta foto do galo em cima da vaca e lá vai disto, saiu-me uma tipo o al maminha, a mais famosa cacofonia da língua portuguesa. Enquanto der para rir a gente vai aproveitando :)

Gondri disse...

Vasco,
tiraste-me as palavras da boca, também eu já equacionei dar um tempo sabático. E é o que vou fazer, solidarizando a minha decisão com a tua. É que nós temos estado postando bué (tu até mais que eu, diga-se) e até nos sujeitamos à crítica de que estamos a monopolizar o espaço. Por isso outros que postem, eu vou hibernar um tempinho à lagarto...

Abraço
Gondri