Escusado
será explicar-se como é que, quatro gandins e quatro mânfias, acasalados,
se comportam, mesmo que em grupo e em espaço adequado, para darem asas à
liberdade que não teriam se estivessem lá em baixo na Covilhã. A
escalada do deboche, instalou-se de armas e bagagens naquele Covão e só
não deu merda porque os poucos campistas que ali coabitavam naquele fim
de semana foram-se gradualmente pondo na alheta, até porque já era
domingo e alguns tinham de ir à missa. Ora, como ali não há grandes
templos para esses cerimoniais, tirando a Senhora da Serra, no final
daquela tarde de inverno, o Covão mais o Zêzere, os vidoeiros e a bicharada, estavam todos por conta dos que ficaram.
As checas
tinham ido de frosques, quiçá mais moídas e a(ma)ssadas que algum mortal
possa imaginar, que nisto o Chico quando entrava em modo de cruzeiro,
deixava de ver e ia o resto do trajecto sempre a abrir. Até o gajo da
musica "techno" deve ter achado que estava ali a incomodar e
sentiu-se na obrigação de ir fazer uma rave para outro lado. Tirando os
putos que chapinhavam no rio, mais os chatos dos pais que os cuidavam, -
um estava a dizer que eles não entravam no carro todos molhados e a
outra a berrar-lhes que ainda levavam no focinho se se constipassem, -
não havia já vivalma. Os estupores dos cães tinham ido farejar para
outra freguesia e a turistada de fim de semana, abesbilica com aquilo
que mais se parecia com um casting porno em volta de uma
fogueira, desaparecia dali como quem acabava de ver o diabo, protegendo
os olhares curiosos das suas filhotas em idade dos "porquês" e de outras
em idade dos "deixa ver!". Até os filhotes mais afoitos, alguns púberes e outros já
com idade para "coisar o coiso & tal", eram corridos à porrada para dentro
das viaturas, que isto de estarem a olhar para onde não deviam tinha o
seu quê de pernicioso.
Assim que se apanharam livres daquele trio de paus-de-cabeleira, a pouca vergonha e o degredo foram-se instalando à força toda naquele grupelho de grunhos com as hormonas aos saltos e pujanças descaradas. Inicialmente a Marina e o Dominic davam mostras de se conterem para conversar, mas aquele coro gutural mais todos os rituais de acasalamento à desgarrada, adiaram-lhes os intentos e decidiram juntar-se aos vocalizos e demais trinados despudorados.
Qual Fénix acordada das cinzas do tempo da abstinência prolongada, a Micaela não estava com vontade nenhuma de parar. O desgraçado do Alfredo bem que tentava escapulir-se para fora da tenda, mas o simples acto de a abrir provocava-lhe imediatamente uma "falta de pica", tal a chicotada de frio que se fazia sentir cá fora. Coisa que a sua companheira não permitia e que lhe demonstrava com veemência. Toda a acção naquela tenda tinha contornos de sadomasoquismo e havia alturas em que se ouvia o Alfredo desesperado da vida a pedir clemência mas em vão. Momentos houve em que se acreditava que ele já não conseguiria dizer mais nada a não ser aquilo e que tudo o que lhe saia da boca p'ra fora mais se assemelhava a um reflexo incondicional do que propriamente um pedido encarecido de socorro.
Na
tenda da Marina, se calhar por serem mais experientes, a coisa ia
decorrendo a outro ritmo, menos apressado, fazendo justiça a um casal
que já se entendia naquela matéria há muito tempo. Talvez por isto, a
descrição dos seus embates obrigue o leitor a fazer uma paragem, para
não cair em monotonia, até porque já não havia nada de novo para contar.
De todos, eram os que mais pausas faziam para vir cá fora comer ou
beber qualquer coisa, ganhando "stamina" para voltarem à carga
logo que pudessem, mas sempre sem mostrarem grande teor de desespero nos apetites.
Entre pausas, iam pondo a conversa em dia e resolvendo o problema
verificado na noite anterior. O problema é que estas pausas para o
cigarro ou o café - ou o que estivesse ali mais à mão - acabavam em
redundância no abrigo da tenda deles, pois a melodia sexual no covão era tanta,
que até a bicharada ali residente não se calava um minuto e já participava no campeonato.
Na
tenda da Carla, a coisa não era muito diferente. Muito por culpa
daquele amontoado de carnes, talvez aquilo que melhor seria de
salientar, era a cadência e o som produzido quando os dois corpos se
encontravam naquele frenesim, dando a sensação que alguém estivesse a
bater palmas ou outro tipo de ovações mais efusivas. Durante a tarde e o
princípio da noite, o desgraçado do Osório tinha sido passado a ferro
umas cinco vezes até que se lembrou de mudar de táctica e investir como a
mãe natureza dotou a maior parte dos mamíferos de o fazer. Mesmo "à
canzana", como todas aquelas aclamações não paravam e, tentando abafar
toda a
cantata e opereta que saía das cordas vocais da parceira, viu-se à força
convertido ao cristianismo e tratou de tratar a sua donzela em modo
missionário. Coisa que não a satisfez de todo e voltou rapidamente ao
modo protestante em posição de cowgirl num rodeo.
Já na tenda da Vanessa a coisa piava fino. Tudo o que se passava ali, não era mais do que uma compilação do "Império dos Sentidos", "As novelas do Decameron", a "Garganta funda", "Sexus", "Plexus" e "Nexus" do Henry Miller, mais as "50 Sombras de Gray"
(obra que ainda não tinha nascido) com muitas passagens eróticas e
burlescas dos poemas de Bocage à mistura, numa caldeirada sem fim. A
festança da noite anterior tinha sido uma brincadeira de crianças
comparada com o que se estava a passar ali e agora. Não havia centímetro
do corpo que não estivesse a ser explorado à força toda, não havia
prática que fosse posta de parte, e neste campo, até a Vanessa já tinha
perdido a esquisitice "felaciana" por causa das pregas penianas que o
Monge Barnabé tinha à volta do pescoço. Aqueles "rebites" tinham sido já
tratados com desvelo e urgências que nem a ela lhe tinham passado pela
cabeça ser possível. À custa da brincadeira "já não iam para dentro",
sabe-se lá porquê. O Ildefonso, conhecedor de línguas estrangeiras, ia
"falando fluentemente" aqui e ali com diversos toques da sua sapiência que deixavam a Vanessa
num tal estado que chegou a achar que nem dali a uma semana se
conseguia mexer. Quanto a ele, acho que mal se pusesse em pé iria
parecer-se com uma velha grávida, tal a forma como se estava a sentir
nos quadris. Como se costuma dizer, a fome era negra. E, se bem que
ainda ninguém estivesse perto de conseguir esta ausência de cor, iria ser
interessante passarem a semana a justificar o porquê de tantos chupões à
vista de toda a gente, que chegavam a parecer sarampo.
Como qualquer pessoa que já tenha passado por experiências semelhantes sabe, o tempo voa. Quando lhes deu a fome, foram saindo das tocas como coelhos, com o intuito de comer qualquer coisa, menos cenouras, que já estavam fartos.
Sem comentários:
Enviar um comentário