Naquele acampamento, o dia "amanheceu" por volta da uma da tarde, muito por culpa da "rave de arrebimba o malho" que se tinha verificado durante quase vinte e quatro horas. Todos "contentinhos da silva", porém a necessitar de retemperar os vigores e índices energéticos que o recolher nas tendas lhes tinham consumido, foram rapidamente tomar uns duches e aliviar as bexigas mais a enxúndia (ou vice versa), a fim de disfarçarem aquele miasma agridoce da tal maratona de depravação em que tinham participado. Os odores eram uma mistura natural de fluidos corporais mais outros que se tinham adicionados, como se todos tivessem participado num Masterchef da queca e sujeitos a todo o tipo de sevícias.
Os rapazes, amparados uns nos outros, nem menção faziam relativamente a possíveis recordes batidos. "Who cares?"
Ao fim de meia dúzia já lhes tinham perdido a conta e nem sequer
queriam saber se qualquer uma das outras contavam para cardápio, pois
tinham
ficado com a sensação que mais não seriam do que tiros de "pólvora
seca".
Já as "Marias", menos despudoradas, trocavam entre si apenas o essencial da informação.
- Acho
que tão cedo ele não vai querer olhar para mim, - afirmou a Micaela em
tom de gozo -, tirei a barriga de misérias. E adorei.
- Eu acho que
ouvi qualquer coisa, - respondeu a Marina, - mas parecia-se mais com um
pedido desesperado de ajuda. E tu, Vanessa? Que tal o Fonso?
- Ui...
aquele homem tira-me do sério... nunca pensei que fosse tão bom como
foi. Nenhum dos outros que tive lhe chega aos calcanhares. O gajo é
um expert em qualquer matéria - afirmava exausta - se não era
"assim", era "assado", nem que fosse para recuperar forças. Tive de lhe
pedir para se calar porque às vezes só de ouvir o timbre da voz dele,
fico fora de mim... Ainda
tremo só de pensar nisso. Mas acho que ele também não está em bom
estado. - Gracejou.
- Parabéns, miúda! - Congratulou-a a Carla -
Acho que é desta que vais assentar! Olha... o Osório também se revelou
uma grande surpresa. Quem diria... Tal como tu, ainda me sinto meio
desequilibrada.
- Estamos todas, - rematou a Marina, - de uma forma ou de outra, estamos todas. Valeu a pena!
Aos
poucos, uma ou outra ia revelando um pormenor mais íntimo mas sem
grande desenvolvimento. Não que interessasse muito mas nestas coisas há
sempre um quê de competitivo e todas apenas queriam garantir algo de
diferente no seu parceiro. Mas no cômputo geral, a satisfação e a
sensação do dever cumprido imperava na ala feminina. Na masculina,
apesar de contida pelo desgaste e das câimbras tomatais, muita euforia ainda reinava por ali.
- A continuar assim, qualquer dia finjo orgasmos... - disse o Alfredo.
-
Tu não a aguentas! Parecias um mariquinhas a chamar pela mamã! - Gozou o
Dominic - Sim... que eu bem te ouvi a pedir para que a Micas te desse
descanso!
- Ehpá... quem diria?? Achava-me preparado para um "avião"
daqueles mas nunca contei que aquilo fosse um "caça" topo de gama. A
mulher é insaciável.
- Também o que querias? A miúda andou tempo
demais a chuchar no dedo. Mais os stresses com o Chico ontem e por toda a
confusão que se passou, o primeiro que apanhasse, tinha que levar por
conta. Saiu-te a fava...
- Hey... Quem te dera uma fava daquelas! A
sério. Estou super satisfeito com ela. A Micas é muito mais que um monte
de "sardas e sossego". Tem muita pinta, é muito boa onda. E acabou por ser
uma bela surpresa a todos os níveis. Acho que estou a ficar com vontade
de não conhecer mais ninguém, - confessou o Alfredo.
- Isso é bom!
Também sinto o mesmo pela Vanessa, - reiterou o Ildefonso. - Aquela
mulher é um poço de surpresas. E pensar que nunca a tive como atingível
dada a imagem que ela passava na UBI. E o melhor, é saber que ela
sente o mesmo relativamente a mim...
- Começo a achar que, finalmente,
encontrámos as mulheres das nossas vidas. - Atirou o Osório. - Até a
Carlita me surpreendeu. O mundo e a vida dão muitas voltas e não posso
dar-me por garantido mas é um bom princípio. De uma forma ou de outra,
acho que estou muito bem servido com quem estou.
- Isto vai merecer
um brinde daqui a bocado, - brincou o Dominic. - Um brinde para que nos
encontremos todos daqui a uns anos para recordar este fim de semana.
Após um almoço um pouco à pressa, pois teriam de arrumar tudo para voltar o regresso, foi-se gerando um ambiente tão nostálgico quanto saudosista. Ainda deu tempo para umas fotografias de grupo. Outras em modo emparceirado. Para mais tarde recordar.
No regresso à Covilhã enquanto desciam a serra, quatro casais, todos na mesma zona de bancos, desfrutavam da viagem em silêncio, de cabeças encostadas e com sorrisos apatetados nos rostos. Aquele sol de Inverno começava a dar mostras de desaparecer, como que rematando em beleza aquele fim de semana prolongado que iriam recordar para sempre.
Lembrando-se
que havia algo por fazer, o Ildefonso foi à mochila e tirou de lá de
dentro um embrulho. Aquilo que a Vanessa lhe tinha dado quando subiram
dois dias antes, tinha sido esquecido. Abrindo-o, segurou na mão um íman
com uma paisagem serrana que dizia "Um trio
perfeito: Tu, eu e a Estrela".
Chegados a casa, arrumaram as trouxas, mudaram de roupa e saíram novamente. O
Verdinho esperava-os para mais um fim de tarde, juntamente com o resto
dos amigos. A Andreia e o Chico já lá se encontravam. Nem sinal do
"Lupas" que sabiam, não iria aparecer.
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