sábado, 7 de novembro de 2020

Ó que desilusão, desta vez o ubiano Zé Tó deixou a UBI mal vista…

 


Sanita de ouro de mais de 1 milhão de euros roubada de um palácio do Reino Unido

Sanita de ouro de mais de 1 milhão de euros roubada de um palácio do Reino Unido

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Como sempre acontece nestes casos, há inúmeras teorias para o paradeiro da sanita de ouro. Uma delas é que a sanita foi roubada pela NASA para estudar o comportamento das fezes em ausência de gravidade, coisa que não é lá muito higiénica e que até foi classificada de badalhoca pelos russos, que, cá p’ra mim, têm é inveja. Ele há fezes com parasitas, vulgo lombrigas, fezes isentas de vermes, fezes duras, moles, castanhas claras ou escuras, compactas ou lassas, curtas ou compridas, enfim, há uma infinidade de variantes e cada uma tem seu comportamento no espaço. Claro que não vão mandar p’ra lá um astronauta com prisão de ventre, o dinheiro para investigação é escasso e não se pode deitar assim à rua em experiências que se sabe à partida que não dão em nada. Têm que ser astronautas bons de rabo, com muito fluxo e frequência, daqueles que largam poios que se vejam, vistosos e inequívocos, não é cá umas caganitas de cabra que não valem um caracol furado. Há milhares de aspetos da física e da química das fezes em ausência de gravidade dos quais nada sabemos, como por exemplo os diferenciais de quantidade de movimento do jato expulsivo de material, com ânus aberto ou semi-aberto. Sabemos que dependem da velocidade e da massa, ou de ambas, mas só temos fórmulas de cálculo para o caso de terra firme. Estudos de deformabilidade, de impacto, de dispersão de pevides no caso de ingestão prévia de melão, melancia, ou afins, estudos de humidade, de temperatura, previsão de trajetória conforme o ângulo de expulsão e a existência ou não de eventuais estorvos hemorroidais, enfim, há tanto que estudar nesta imensa multidisciplinaridade da ciência atual que o melhor é não ganhar muito balanço, porque, senão, temos crónica até ao Natal... O importante é, por isso, salientar o essencial e deixar o resto para os físico-quimicos. E o essencial, no meu modo de ver, é saber como é que o nariz e a zona do cérebro que descodifica a informação olfativa enviada pelo nervo olfatório funciona sem gravidade. Será que o pivete que uma boa descarga lança no ar é diferente com ou sem gravidade? E as moscas que a NASA está a pensar enviar nas naves espaciais vão chamar à mesma um figo ao bolo excremental fedorento, ou vão-se confundir com a falta da atração da terra e, em vez de lhe chamarem um figo, vão-lhe chamar um abacaxi?!... e os antecedentes gasosos da matéria sólida, vulgo peido ou bufa, como é que a lei dos gases imperfeitos e a indústria dos perfumes se podem complementar para aliviar o cheiro pestilento e evitar a sua propagação?  Há tanta coisa para saber acerca do binómio cheiro-gravidade que até dói o espírito experimental só de pensar.
Muito já se disse nesta crónica, e, no entanto, a pergunta essencial ficou por fazer: por que é que para estudar o comportamento das fezes em ausência de gravidade é preciso uma sanita de ouro? Ora cá está uma questão aparentemente simples mas a que ainda ninguém conseguiu responder. Eu, pessoalmente, penso que é apenas para dar uma certa solenidade de metal precioso ao processo experimental, não vejo outra explicação. É que se não for essa a razão e não houver mais nenhuma com cabimento, então temos que admitir que a NASA não precisava da sanita de outro para nada, qualquer uma de latão servia, e temos que dar outro rumo à investigação. 

Vamos então seguir a pista da mensagem anónima que foi endereçada a Maurizio Cattelan, o artista que criou a sanita de ouro. Dois ou três dias depois do fatídico desaparecimento da sua obra prima, recebeu uma carta na caixa de correio lá de casa - não confundir com o correio digital -, a caixa mesmo física, onde o carteiro deposita o correio à moda antiga. Era uma carta sem remetente (nem impressões digitais como mais tarde a investigação policial confirmou), uma folha de papel dentro do envelope, e esta mensagem anónima manuscrita: 

“cá p'ra mim foi o Frederico
aquele que come caviar
Se ele come assim à rico
à rico tem que cagar…”

Mal leu a mensagem, enigmática e poética, Maurizio Cattelan informou logo a polícia que não perdeu tempo e iniciou imediatamente a investigação. O foco era óbvio: quem era esse tal de Frederico que come caviar? Como diria Vasco Santana, Fredericos há muitos, seu palerma. Não estava fácil, não senhor, mas mais uma vez teve que ser um ubiano a chegar-se à frente. Zé Tó, distinto aluno da UBI, mentalista e sportinguista ferranho, afirmou que o Frederico Varandas não era. (Atenção que estamos a falar do maior mentalista português que já resolveu inúmeros casos e em que a polícia confia cegamente). E o Bruno de Carvalho também não, disse perentoriamente. Disse mais: para ser o Bruno de Carvalho, o Maurizio Cattelan tinha que ter recebido a seguinte mensagem: 

Cá p’ra mim foi o Bruno de Carvalho
o das parvoíces inconsequentes
cheira mal quando come alho
e a seguir não lava os dentes

Ou seja, o ubiano Zé Tó não sabia quem foi, mas sabia, pelo menos, quem não foi. E isso, na ótica da polícia, já era um avanço significativo. Mas Zé Tó, o ubiano mentalista, não se satisfazia com pouco, queria mais, queria desvendar o mistério em todo o seu esplendor sherlockholmiano, e descobrir o ladrão. Uma das designações do ubiano Zé Tó é “GPS humano”. Ele consegue entrar em transe e determinar, com uma precisão brutal, as coordenadas posicionais do criminoso naquele momento. É absolutamente inacreditável, nem vale a pena falar. A UBI nem sabe a relíquia sobrenatural que tem dentro de si, é um hino à biofísica, um GPS biológico. Mas desta vez Zé Tó falhou. Com a CNN e as maiores cadeiras televisivas do mundo de câmaras voltadas para si, entrou ontem em transe e foi tudo filmado e transmitido em direto. O planeta parou para ouvir o veredito de Zé Tó: “o ladrão, de nome Frederico, está na posição…”, lá disse a latitude e a longitude, latitude X, longitude Y, e fez-se silencio mal ele acabou a revelação. Da maneira como a informação corre veloz, não tardou a saber-se se realmente Zé Tó tinha detetado o Frederico. E sim, detetou, detetou o Frederico, foi um êxito estrondoso. Mas foi sol de pouca dura: o Frederico era o gato de uma norueguesa radicada no Canadá que tinha tanto amor ao bichano que até caviar lhe dava. E o gato é que ia roubar a sanita de ouro?!... Ó que desilusão, desta vez o ubiano Zé Tó deixou a UBI mal vista…

Gondri


1 comentário:

António Matias disse...

Gondri Balsa a ser Gondri Balsa.
Espectacular, meu caro.