sexta-feira, 24 de abril de 2020

Memórias de uma menina bem comportada…, na UBI



A 6 de outubro de 1987, na Faculdade de Economia do Porto, soube que tinha entrado em Sociologia na Universidade da Beira Interior que, para grande desespero dos meus Pais, ficava na Covilhã.
A menina que nunca tinha saído de Baltar – Paredes, sem os Pais, estava prestes a embarcar numa aventura fabulosa de conquista permanente e afirmação e não se deixou dissuadir.

A viagem de autocarro demorava do Porto à Covilhã mais de 5 horas e na altura o IP5 terminava em Oliveira de Frades. Uma vez tentei a viagem de comboio, que implicou mudar de comboio na Guarda e no Entroncamento e durou quase 10 horas.
Sem telemóveis, só havia cabines da Portugal Telecom e muitas vezes estavam avariadas. Nessa altura escrevia aos familiares e amigos e delirava quando recebia uma carta com notícias.

Sociologia era um curso novo e diferente entre as engenharias, matemáticas, físicas e só a gestão se aproximava, sendo que pertencia ao mesmo departamento. Apesar das diferenças entre cursos, havia uma relação muito próxima entre alunos, que se cruzavam nos corredores, cantina e no bar. Não havia faculdades ou departamentos a diferenciar, eramos todos da UBI.

No final do 1º ano, com as cadeiras todas feitas decidi não tentar a transferência para o Porto. Ainda hoje acho que a opção pelo meu curso e pela UBI foi a mais acertada.
Lembro a receção ao caloiro, com as praxes na Parada e a gloriosa latada, onde os 16 alunos do 1º curso de Sociologia decidiram levar um contentor e cantar a bandeiras despregadas a canção “Contentores” dos XUTOS. O baile de gala no velho e frio Sanatório, a lembrar um edifício de um filme de terror.

As sessões de cinema tinham 2 intervalos, com um filme a passar meses depois das estreias nas grandes cidades, íamos ver pelo filme ou pelo convívio.
O Fora d’Horas com a cerveja a metro, as idas ao Primor e ao bar da estação, os jantares em tasquinhas e as longas caminhadas a pé de um ponto para outro. Eramos muitos, todos colegas, todos amigos, todos da UBI.
Os espetáculos no Cine Teatro da Covilhã, nas receções ao Caloiro e nas Semanas Académicas eram fabulosos.

A partir do 2º ano passei a ter carro e nos fins-de-semana em que não vinha a casa, fomos conhecendo locais únicos, Monsanto, Idanha-a-Velha, Monfortinho, Sortelha, Belmonte, Covão d'Ametade, Sabugueiro, Unhais da Serra, entre os que mais me marcaram.
Os inquéritos aplicados em Unhais da Serra e Sabugueiro no âmbito de trabalhos do curso permitiram conhecer o lado generoso e puro dos seus habitantes, que nos recebiam de braços abertos e cheios de histórias para contar.

Na Missa de bênção de pastas, os finalistas couberam todos na Capela de S. Martinho e o Sr. Bispo teve tempo de assinar as minhas fitas.
No último ano (1991) foi apresentado o novo traje académico da UBI, aprovado em Assembleia Geral de Alunos e que não tive o prazer de usar.

Como tudo o que é bom, também estes anos passaram muito depressa e durante muito tempo tive receio de regressar e quebrar o brilho às memórias…
Quando fizeram a entrega dos diplomas já estava a trabalhar.

Em 2018 regressei aos corredores onde costumava ter aulas, para matricular a minha filha mais nova em Design Moda, também ela agora uma aluna da UBI.
Nesse dia deixei uma caloira e trouxe o meu diploma. Dupla emoção. 



Susana Correia da Silva – nº 1859
Sociologia  1987-1991

1 comentário:

Nuno Miguel da Cruz Ramos disse...

Olá Susana, muito bonito o teu texto, nota- se que o fizeste com paixão, prazer, e dir- te- ei, volta, não tenhas receio, mas se não for oportuno a Rota UBIana passará por aí.
Bjnh.