segunda-feira, 20 de abril de 2020

A minha UBI ainda se chamava IUBI.


Éramos poucos quando cheguei (1983), menos de 500. A cidade ainda nos olhava com desconfiança. Quem era aquela gente que de um momento para o outro invadia a cidade, começava a frequentar os mesmos espaços, os mesmos cafés, a muitos invadia mesmo a própria casa e andava tanto de noite como de dia. Na altura eu vivia no Bairro de Santa Maria, um dos mais antigos e dos mais típicos da cidade. As ruelas muito estreitas, os telhados de ambos os lados da rua quase a tocarem-se, uma população envelhecida com outros hábitos e outros costumes.

O percurso, a pé, até à Universidade, então ainda só Instituto, passava quase obrigatoriamente pelo Largo do Pelourinho e pelo inevitável Café Montalto. Era um ponto de paragem obrigatória para os locais, para os turistas e para os novos habitantes da cidade. Um café a correr de manhã ou uma imperial (ou melhor um fino como se diz por aí) ao final da tarde. Frente ao café estavam os homens que pintavam o tecto da cidade. Quase sempre os mesmos, gente a quem a indústria têxtil deixara sem mais nada para fazer. O Largo do Pelourinho foi para muitos de nós a primeira grande montra da cidade, pois era aí que os expressos nos largavam. O primeiro contacto com algo que iria mudar para sempre as nossas vidas.

A Covilhã era uma cidade em mudança, as inúmeras fábricas a pouco e pouco iam desaparecendo, a população começava a encarar uma nova realidade. A antiga fábrica dos panos, à entrada da cidade,  era agora o seu grande pólo dinamizador, o que se viria a confirmar ao longo dos anos.
Estamos em 2020, parece impossível mas é verdade, em outubro são 37 anos desde a primeira vez que cheguei à cidade neve para me instalar e não para visitar a Serra da Estrela, coisa que tinha acontecido meia dúzia de vezes durante a  vida. Ao longo de todos os anos que lá passei muitas foram as mudanças a que assisti, na Universidade com a sua evolução e crescimento e que muitos retrataram e na cidade com a sua transformação bem visível passados todos estes anos.

Em relação à nossa escola, era assim que um ex-colega lhe gostava de chamar, muitas histórias se poderiam aqui contar, a limitação de espaço não o possibilita, dizer apenas que para além de escola de formação académica foi, é e vai continuar a ser uma escola de vida e para a vida.

Para aqueles que hoje a frequentam, honrem-na como nós a honrámos.  Orgulhem-se da vossa Universidade. Ninguém passa pela UBI e fica indeferente. Obrigado IUBI e UBI por tudo o que me foi proporcionado.

João Carlos Monteiro – nº 728 – Comunicação Social / Antes Engª Têxtil +Papel


1 comentário:

Nuno Miguel da Cruz Ramos disse...

O bairro que descreves está bem diferente, é agora o porta estandarte das imensas e muito bem conseguidas imagens produzidas nas paredes: arte urbana!!!