Éramos poucos quando
cheguei (1983), menos de 500. A cidade ainda nos olhava com
desconfiança. Quem era aquela gente que de um momento para o outro
invadia a cidade, começava a frequentar os mesmos espaços,
os mesmos cafés, a muitos invadia mesmo a própria casa e andava tanto
de noite como de dia. Na altura eu vivia no Bairro de Santa Maria, um
dos mais antigos e dos mais típicos da cidade. As ruelas muito
estreitas, os telhados de ambos os lados da rua quase
a tocarem-se, uma população envelhecida com outros hábitos e outros
costumes.
O percurso, a pé, até
à Universidade, então ainda só Instituto, passava quase
obrigatoriamente pelo Largo do Pelourinho e pelo inevitável Café
Montalto. Era um ponto de paragem obrigatória para os locais, para
os turistas e para os novos habitantes da cidade. Um café a correr de
manhã ou uma imperial (ou melhor um fino como se diz por aí) ao final da
tarde. Frente ao café estavam os homens que pintavam o tecto da cidade.
Quase sempre os mesmos, gente a quem a indústria
têxtil deixara sem mais nada para fazer. O Largo do Pelourinho foi para
muitos de nós a primeira grande montra da cidade, pois era aí que os
expressos nos largavam. O primeiro contacto com algo que iria mudar para
sempre as nossas vidas.
A Covilhã era uma
cidade em mudança, as inúmeras fábricas a pouco e pouco iam
desaparecendo, a população começava a encarar uma nova realidade. A
antiga fábrica dos panos, à entrada da cidade, era agora o
seu grande pólo dinamizador, o que se viria a confirmar ao longo dos
anos.
Estamos em 2020,
parece impossível mas é verdade, em outubro são 37 anos desde a primeira
vez que cheguei à cidade neve para me instalar e não para visitar a
Serra da Estrela, coisa que tinha acontecido meia
dúzia de vezes durante a vida. Ao longo de todos os anos que lá passei
muitas foram as mudanças a que assisti, na Universidade com a sua
evolução e crescimento e que muitos retrataram e na cidade com a sua
transformação bem visível passados todos estes anos.
Em relação à nossa
escola, era assim que um ex-colega lhe gostava de chamar, muitas
histórias se poderiam aqui contar, a limitação de espaço não o
possibilita, dizer apenas que para além de escola de formação
académica foi, é e vai continuar a ser uma escola de vida e para a
vida.
Para aqueles que hoje a frequentam, honrem-na como nós a honrámos. Orgulhem-se da vossa Universidade. Ninguém passa pela UBI e fica indeferente. Obrigado IUBI e UBI por tudo o que me foi proporcionado.
João Carlos Monteiro – nº 728 – Comunicação Social / Antes Engª Têxtil +Papel
1 comentário:
O bairro que descreves está bem diferente, é agora o porta estandarte das imensas e muito bem conseguidas imagens produzidas nas paredes: arte urbana!!!
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