Éramos todos caloiros em início de vida universitária. Na marcação do primeiro teste (já não me recordo a que cadeira foi...), o professor deu-nos a escolher: teste com ou sem consulta? Ui, aquilo para nós parecia o maná caído do céu, aquele professor era um santo. E a decisão foi, obviamente, "com consulta" (então havia lá coisa melhor do que cabular a céu aberto sem medo de ser apanhado?!...).
Mas quando o teste chegou foi um pavor. O teste era intragável, tanto fazia consultar como não, caderno, livros, o que quer que fosse, que não havia meio de dar com a resolução dos exercícios. E o professor, claro está, explicava-se: "teste com consulta tem que ter um nível cognitivo maior". Merda p'ró nível cognitivo! Dali em diante nunca mais quisemos testes com consulta, e, como seria de esperar, os sem consulta revelaram-se muito mais acessíveis. Tal como aquela maçã gulosa de aspeto apetitoso, que, vai-se a ver, tem bicho e está podre por dentro, também nós fomos todos contentes à mama da consulta (sem perceber que quem precisaria de consulta, e psiquiátrica, seriamos nós próprios depois de tamanho desengano).
Apesar desta circunstância assaz anedótica, na prática os testes com consulta nunca foram banidos do éter académico. A diferença é que a consulta passou a circunscrever-se ao domínio do invisível: podia-se deitar olho às cábulas ou ao vizinho do lado, o professor é que não podia ver. Eu, confesso, nunca fui herói nessa epopeia de desbravar os testes à custa do saber que tinha fora dos neurónios. Eu não, mas houve quem se tivesse licenciado e, ao mesmo tempo, tivesse tirado a cátedra em Cabulogia.
Gondri
2 comentários:
Remenber, adorável, penso que todos por lá passámos. Em minha casa, a minha filha teve a experiência na semana passada e jura que nunca mais!
Fabuloso...
Também passei por um teste desses...loucura...foi com almoço e lanche pelo meio...mesmo assim...intragável
Adorei esta lembranças 👍🤭
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