Escrever sobre a UBI é contar
histórias de vida, da minha e de tantos outros que por lá passaram. Mas
sobretudo é escrever sobre uma amizade profunda que não nos separa, apesar de
estarmos todos longe uns dos outros. Uma amizade que não lida bem com as redes
sociais, porque cresceu numa altura em que não havia telemóveis nem internet,
em que falávamos tudo e sobre tudo nas longas noites em que esgotávamos os
finos no Primor, os caracóis no Sr. Artur ou os bitoques no Sr. Matos. Agora,
longe da vista, a amizade que nos une é forte, genuína e vai durar até sempre!
Entrei na IUBI no ano 1983, tinha
17 anos. Dizem que foi a melhor colheita, não sei. Sei que foi o meu ano,
eramos cerca de 100 caloiros – diziam eles que eram muitos! Lembro-me do meus
pais me deixarem a um domingo, a seguir ao jantar, na residência feminina em
Santo António, num quarto minúsculo, mas acolhedor. Depois de arrumar as
roupas, vesti o pijama e preenchi uma folha que estava colada do lado de fora
da porta, onde devia colocar o nome, o curso e o local de residência. A minha
ingenuidade foi tanta, que preenchi o questionário com muita responsabilidade,
de menina educada e bem-mandada! Nesse momento conheci a minha colega do quarto
da frente, Paula Montessuma, parecia atarefada e preocupada com o início de
mais um ano, mas a verdade é que estava a acolher-me com a mais pura amizade,
de quem está sozinho e longe de quem mais ama.
Estava eu na cama, comecei a
ouvir uma grande algazarra nos corredores. Como é que é possível, pensei eu? A
porta da residência não devia estar fechada? Não era suposto haver uma freira a
tomar conta da residência e de nós? Não controlava a respiração, o coração
batia com tanta força que me obrigou a levantar da cama e vestir o robe. Até
que chegaram ao meu quarto e eu ouvi: temos uma caloira nova… e é de Espinho!
Bum..Bum..Bum… estive para não abrir, mas o medo era tanto, que achei melhor
encarar as feras de frente! Então entraram no meu quarto o Luis Filipe, o Vasco
e o Brandão, outros tantos ficaram lá fora. Deram-me 10 minutos para me vestir
e juntar-me ao restante grupo de caloiros energúmenos aos pés da Santa, em Santo
António. Foi noite de praxe, o primeiro contacto com todos, todos mesmo, do
primeiro ao último ano, os que estavam na residência e os que estavam em
quartos alugadas pela cidade. Foi a primeira noitada, os primeiros copos, os
primeiros amigos…
A partir desse momento, foi
desbravar um novo caminho, longe de casa, mas nunca só. E as histórias são
tantas, assim como as boas memórias. O nevão com um café ao pequeno-almoço, no
bar do Sr. Eduardo e do Sr. Faria, o café e a Sueca no bar da residência do Sr.
Domingos. A esplanada do Montalto sempre a abarrotar, mas por vezes destruída
quando o Barata levava os cães a passear. A Irmã Lurdes, quando deambulava com
o seu chá de parra pelos corredores da residência feminina, os picos de
adrenalina a contar os poucos minutos de fuga entre a saída da freira e a
entrada das senhoras de limpeza, pelas 7 da manhã! Os táxis atolados para o
Número Uno, a noitada do Live Aid… Enfim, nós, sempre nós, todos juntos, como
se fossemos sombras uns dos outros.
São esses que ainda hoje se
reúnem, longe da vista, mas sempre presentes nas nossas vidas, na nossa
memória. Como era de Eng. Química, passados dois anos segui para o Técnico, em
Lisboa, e era lá, na escadaria do Pavilhão Central, que nos continuávamos a
juntar. Ao fim-de-semana, rumava à Covilhã, porque em Lisboa apenas tentava
sobreviver à maledicência dos génios idiotas que me circundavam, e que nem conheciam
o sabor de um fino bem tirado, muito menos a importância de um afeto!
Nunca perdi a ligação à UBI e à
Covilhã, terra de amores e paixões. Foi lá que me tornei mulher, passados uns
anos casei e voltei, fui mãe e trabalhei com colegas da UBI. Depois fugi para
bem longe, mas uma das minhas filhas seguiu-me os passos e foi estudar para a
UBI. Entretanto, voltei a casar, imagine-se, com um Ubiano da colheita de 1983!
Seja lá o que for, quer eu queira quer não, já me rendi a algo de muito forte
que me liga ao passado, onde fui e ainda sou muito feliz.
Longe da vista, estou certa que
todos nós contribuímos para a UBI tal como é agora. Na altura em que a
Instituição comemora 34 anos de existência, é hora de reforçar a união de
amigos de uma vida, agora na Rota Ubiana! Por tudo o que fizemos pela
Universidade, pela cidade, mas sobretudo, por nós próprios. Ainda hoje digo que
foram os melhores anos da minha vida, por isso, lanço o desafio a todos para
partilharem histórias que nos façam reviver momentos de imensa amizade e
cumplicidade, tudo o que nos traz alegria, porque somos Ubianos!
Feliz Aniversário UBI!
Lurdes Morais - 791 (1983)
2 comentários:
Parabéns Lurdes Morais!
Tens talento para a escrita e muitas vivências emocianentes!
É disso que somos feitos, das nossas vivências. É uma das poucas coisas que nunca ninguém nos poderá tirar. O que vivemos é nosso para sempre!
No caso da UBI, constituiu e continua a constituir boas vivências para muita gente. Por isso gostamos de nos reunir e queremos levar por diante a Rota UBIana. Para levar a UBI a quem não pode ir à UBI e à Covilhã.
Foi mesmo assim Lurdes, e essas vivências contribuíram para aquilo que somos hoje.
Lembro-me de ti muito bem e finalmente acabaste casada com o Luís nosso colega.
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